ZÉ VIRGÍLIO/BBMP
Era início dos anos 1970… Meu sogro, seu Walter, avô dos meus filhos mais velhos, Gabriel e Roberta, tinha uma belíssima casa em Itapuã, bairro conhecido mundialmente pelas canções de Dorival Caymmi. Eu frequentava nos finais de semana e férias. Coincidentemente, o vizinho de muro de seu Walter era Vinicius de Morais, casado à época com a linda atriz baiana Gessi Gessy.
A única casa que tinha telefone na rua era a de seu Walter. Naquela época se era difícil instalar telefone nos bairros centrais e de classe média alta de Salvador, imagine em Itapuã que era uma região de veraneio. Um dia Vinicius falou: “Walter, a partir de hoje vou pagar a conta do telefone pois quem mais liga e recebe ligações dele sou eu”. De fato, ele ligava muito para outros países. A partir deste dia, todas as manhãs, seu Walter colocava um balde de gelo e um copo ao lada da garrafa de uísque que ele deu de presente à Vinicius.
A casa de Vinicius era um verdadeiro espaço cultural efervescente, tudo acontecia e rolava aí! Lá vi e conversei com muita gente… Clara Nunes, Danuza Leão, Claudio Marzo, Chico Buarque, Caetano, Gil, Dorival Caymmi, Edu Lobo, Nana, João Gilberto e muitos gringos e gringas.
Entre todos, Toquinho era a pessoa mais presente, praticamente morava lá. Naquele período tinha um show composto por Vinicius, ele e Marília Medalha, que depois fora substituída por Clara Nunes. Toquinho era uma pessoa alegre, muito extrovertida, bacana, corintiano roxo, um cara bonito e que tinha bastante namoradas. Logo ficamos amigos. Levava ele para bater um baba com a minha turma, jogávamos botão lá em casa, enfim, nos divertimos bastantes.
Um belo dia estávamos na varanda quando Toquinho pulou o muro com um violão. Estava presente na varanda batendo papo Seu Walter, Dona Lila, Mariinha, Enoca, Seijo, Claudia, Levina, Vera e Cesar. Aí ele falou: “Gente, vejam a canção que eu e Vinicius acabamos de compor. Ainda não foi gravada”. E começou a cantar e a tocar Tarde em Itapuã, umas das músicas mais lindas que já escutei.
Em todo lugar que estou quando ouço essa canção, me emociono e lembro com clareza daquelas tardes e noite vividas em Itapuã.
Nos reencontramos no início dos anos 1990, quando ele ia fazer um show no Centro de Convenções da Bahia. Liguei para seu empresário à tarde e combinei um encontro com Toquinho. Cheguei bem antes do show e fui ao camarim encontrá-lo e lá conversamos e nos lembramos daquelas tardes e noites em Itapuã.
Durante seu show me surpreendi quando ele parou num momento e disse que iria contar uma história de uma música e que tinha uma pessoa na plateia que entenderia tudo que ela estava falando e cantou Tarde em Itapuã. A emoção foi tão grande que meus olhos se encheram de lágrimas.
