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Quando conheci João Gilberto…

ZÉ VIRGÍLIO BBMP

Fiquei muito triste quando li a notícia da interdição judicial de João Gilberto pelos seus filhos mais velhos, Bebel Gilberto e João Marcelo, numa briga judicial contra a atual esposa dele Claudia Faissol. A primeira vez que vi João Gilberto, eu tinha mais ou menos 10 anos de idade, foi na casa do parceiro de João e Ministro do TST, o falecido Carlos Coqueijo Costa, amigo do meu tio também já falecido o jurista baiano Virgílio da Motta Leal.

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O primeiro disco que escutei em minha vida foi Chega de Saudade, que meu tio tinha adquirido e tocava a toda hora na radiola. Sem dúvida, João é um mito e como todo mito tem sua excentricidade, falava-se muita coisa, muitas histórias.

João nasceu em Juazeiro, conterrâneo do poeta Galvão (Novos Baianos) e muito amigo dele. Um dia ele me contou que foi levar uma encomenda de Juazeiro para João e até chegar a casa dele, Galvão ligou de cinco orelhões a pedido de João para posicionar onde estava e fosse autorizado a subir no apartamento. O pessoal dos Novos Baianos também contou que ele tinha costume de sair às 5 horas da manhã de casa, em Ipanema, e ia tomar água de coco em uma barraca de uma pessoa que ele tinha feito amizade lá na Barra da Tijuca.

Também tive uma experiência profissional com João. Em 1988, trabalhava na Fundação Cultural do Estado da Bahia e organizamos um grande festival chamado Feira do Interior, no Parque de Exposições de Salvador. Quando fizemos a reunião para organizar a programação do festival, o músico Tuzé de Abreu, diretor do departamento de música da Fundação Cultural, compadre de João Gilberto, falou que pensou em convida-lo para participar. A equipe vibrou com a possibilidade, coube a Tuzé fazer o convite pessoalmente a João. Até o OK dele foi uma viagem, cada dia ele mudava a ida de Tuzé ao Rio para fechar a apresentação porque ele queria tratar pessoalmente!

Conseguimos fechar e foi uma alegria. Ele pediu para se apresentar ao raiar do dia entre 5h30 e 6h da manhã. O show anterior ao dele foi de Luís Caldas, tinha um público de 200 mil pessoas no parque. Luís fez um show de 2h30 impecável, época da música Eu queria ser uma abelha pra posar na sua flor. Entre uma música e outra, Luís falava que às 6h o maior de todos estaria cantando para a multidão ali presente. Na época existia em Salvador um radialista muito famoso que conseguiu se eleger prefeito, o falecido Fernando José, que comandava um programa no rádio pela manhã e na TV à tarde, com o nome Balanço Geral. Ele tinha uma audiência esmagadora, começou bradar ao microfone que João não tinha nada há ver com aquele evento e que aquilo era coisa daqueles funcionários da Fundação metido a intelectual que tinha excluídos os artistas locais do palco principal. É que ao invés de João tinha que por Geraldão, um repórter que trabalhava com ele no programa e que também era cantor. Coisas da Bahia.

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O tempo ia passando e a ansiedade aumentava a cada segundo, Luís finalizou o show dele às 4h da manhã. Em cima do palco observei que estava chegando uma boa galera, entre eles Wally Salomão, Antônio Riserio, Dedé Veloso e Sandra Gil. Do fim do show de Luís até início do show de João foram duas horas intermináveis, muitos bebum e não arredavam o pé. O dia já clareando e um domingo lindo de sol já se anunciava quando de repente João chegou, saiu do carro abraçou Tuzé, chamou João Américo, exigência de João para operar o som. 

Quando ele começou a cantar a primeira música, um bebum gritou: “Bota Geraldão!” Todos no palco ficaram tensos, menos João. Na terceira música, toda aquela massa já estava controlada pela voz de João e a batida de seu violão. Depois de 1h40 de show, ele teve que retornar ao palco e fez três bis. Um início de domingo maravilhoso, aquele ao som da voz e do violão de João Gilberto.

A última vez que vi um show de João e estive com ele foi na inauguração do Credicard Hall, em São Paulo. À época, eu trabalhava na empresa de Ivete Sangalo e ela também iria se apresentar. Foi o show que ele disse para a plateia paulistana que “vaia de bêbado não vale”.

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João questionou a qualidade de som da casa. Isso repercutiu geral no outro dia, com matéria no Jornal Nacional, da Rede Globo. Nizan Guanaes, um dos sócios do Credicard Hall, reconheceu que João tinha razão: “O som está com ruído estranho, temos que trocar”.

Este é João Gilberto Prado Pereira de Oliveira, cidadão nascido em Juazeiro da Bahia, que o mundo se rendeu à sua voz e a batida do seu violão. O maior de todos na opinião de muitos e na minha também.

https://www.youtube.com/watch?v=h_LpOF_WHFE

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