RICARDO AMARAL
Quem viveu em Santos nos anos 1970 nunca se esquecerá de dois marcos: O Sírio-libanês e o Caiçara! Os clubes cumpriam a função masoquista de realizar as domingueiras de rock and roll para os menores de 18 anos.
Naquela época era tudo… tudo muito diferente. Havia “bandos” ou “turmas” de vários pontos: da Jorge Tibiriçá; do canal 2; de Olímpia; do Gugs sarava; da Joinville. Uma pior do que a outra, mas nada comparado a violência de hoje em dia.
Eu… Bem, eu era da Náutica de Internacional de regatas. A elite da elite. King of all nerds! Logo, sempre em perigo!
Em 1976, eu ganhei uma camiseta “proibida” no colégio, na Cultura Inglesa e na missa da Pompéia. O nome em inglês “Beijo” ía grafado com os dois esses da tropa de elite nazista e a banda era toda mascarada. Aquela camisa era como andar armado. Eu não era do bem vestindo aquilo… Ao som de Detroit Rock City invadíamos a pista e eu … Eu era do Kiss!!
Destroyer, lançado em 1976, é o segundo disco do Kiss. Após o sucesso de Alive, a banda convocou o produtor de Alice Cooper, Bob Ezrin, para consolidar o Kiss como uma banda de rock.
A história das “caras pintadas” não era uma novidade. A androgenia vinha caminhando, desde metade dos anos 1960, e pintando as caras de vários artistas na época. David Bowie, em Ziggy Stadust; Alice Cooper, Ozzy…
Mas o Kiss era diferente. Era um teatro; um grupo de saltimbancos criando personagens com características e idiossincrasias absolutamente próprias.
Paul Stanley, Gene Simmons, Ace Frehley e Peter Criss, a formação icônica do Kiss transportava a juventude a um mundo alternativo e agressivo. Um mundo só nosso!
A visão apocalíptica da capa, mostrava os quatro saltando de um topo (de vulcão, para mim) e a expressão característica de cada rosto dos personagens do grupo.
Beth foi o primeiro hit do disco a alcançar o sétimo lugar das paradas americanas. Os standards, como Detroit Rock City, Shout it Loud e God of Thunder foram amontoando-se no top hits, transformando Destroyer na “quintaessência” do Kiss. Em minha opinião, “o disco do Kiss”!
Beth foi o destaque de Peter Criss com a banda. Não nasceu cantor, mas cumpre o papel de forma a consagrar sua participação. É piegas, chorosa e “dropa” a essência das baladas dos anos 1970. Mas é uma grande canção.
God of Thunder, uma melodia de Gene Simmons em uma letra de Paul Stanley. Na demo original o tempo é rápido, mas no disco ela surge como uma faixa lenta e sinuosa. Para conferir vá em Alive II e escute a numa canção soltando fumaça; feroz e cheia de força.
Shout it Loud é uma melodia clássica Kiss. Notadamente, uma tentativa de repetir sucesso de Rock and Roll All Nite, desta vez com os duetos vocais de Paul e Gene que nos leva a um dos refrões mais harmoniosos da dupla. Uma canção Kiss é assim! Para pular e se divertir!
Do You Love Me é uma bobagem. Uma ode de Paul Stanley tentando conhecer o “verdadeiro eu”, sem os adornos do sucesso do Kiss. O estranho é que funciona. A produção impecável acaba por emprestar credibilidade a canção, fazendo crível a Starchild descendo do céu e vindo para a terra, ou qualquer coisa assim…
Flaming Youth é uma música tipo power teen de Stanley. Uma prova que Paul tem sua origem na onda pop que surgiu após 1967 e que dividiu o rock em duas estradas. O final garante a canção.
Finalmente Sweet Pain é o verdadeiro clunker no álbum. Teria sido a faixa salvadora de Gene Simmons, mas a canção se perde em confronto com os grandes smashing hits do álbum.
Detroit Rock City, “o hino”, é a fórmula impecável da qualidade do Kiss. Uma introdução em “crescente” explodindo como o vulcão simbolizado da capa do disco. Um refrão chiclete e um ritmo visceral do mais absoluto purismo do “então” hard rock.
Vejam… Kiss não é uma banda primorosa, cheia de “virtuoses” e nem é para ser.
Na pegada dos velhos Stones o Kiss é mais fígado e coração, do que cérebro e erudição.
Kiss é alegria, atitude e emoção.
Ame-o ou deixe-o ! Cara….como eu gosto de Kiss!