O verão deixou de ser a época dos roqueiros há tempos. Até os anos 1990, era comum termos lançamentos de discos, grandes shows e festivais. Rock in Rio, Hollywood Rock e o M2000 (em Santos) marcaram uma geração. Mas o cenário mudou e as bandas passaram a esperar o Carnaval para divulgar seus trabalhos, seja em álbuns ou shows.
O ano de 2017, no entanto, começa contrariando essa regra. Se no âmbito nacional, a expectativa está pelo novo do Sepultura, Machine Messiah, que sai na sexta-feira, o cenário regional nos proporciona três lançamentos: Mad Mamba (Pure Venom), Jerseys (Orgânico e Natural) e Atlante (Novo Horizonte).
Depois de passar uma temporada no estúdio, a santista Mad Mamba, enfim, deu vida ao seu primeiro álbum cheio. Pure Venom soa quase como um tributo para os fãs de hard rock dos anos 1980. Impossível não perceber as influências diretas de bandas como Guns n’ Roses e Metallica. Mas não pense você que eles não conseguem ser originais e fugir de uma linha datada. Fazem isso muito bem.
“A banda não tem uma fórmula. Cada integrante tem as duas influências dentro dos diversos subgêneros do rock, e também fora dele. Mas é inevitável nos comparar a algumas bandas do hard e heavy clássico. Os anos 1980 são influências em comum de todos os integrantes. Procuramos ter a nossa identidade, mas a comparação com bandas tão lendárias quanto o Guns e o Metallica são sempre uma honra”, comenta o baixista do Mad Mamba, Matheus Alba.
Tal como essas influências, a banda também reservou espaço em Pure Venom para algumas baladas. “Elas estão no sangue de toda banda de rock. O feeling sempre deve estar presente no rock, uma vez que esse surgiu do blues”.
O leque de inspirações para as letras da Mad Mamba é bem amplo, segundo Alba. O baixista revela que o contexto costuma envolver situações vividas pelos integrantes.
“Human Being se trata de uma crítica política e social. Midnight Strike utiliza de um tema mais abstrato, sobrenatural. Sunny Eyes é uma balada romântica. Spring Fall é uma balada orquestrada, com grandes influências de November Rain, do Guns n’ Roses, que fala sobre a perda de alguém ou algo querido”.
E outros assuntos como o poder feminino de sedução (Pure Venom), autoanálise da vida pessoal (Fate), superação (Fisherman) e até uma faixa inspirada na trilha e história do filme Tubarão, de Steven Spielberg, (Owner of the Sea) completam a relação.
Formada por Rômulo Karymi (vocalista), André Alba e Paulo Vellozo (guitarristas), Henry Bermejo (baterista) e Matheus Alba (baixo), a Mad Mamba surgiu em 2013.
Começou a chamar a atenção do público em 2015, quando lançou o EP First Bite, que contava com quatro faixas, todas elas aproveitadas em Pure Venom, mas com uma nova roupagem.
No mesmo ano, o Mad Mamba venceu o IV Festival de Bandas Caiçaras Music Station e alcançou o quinto lugar na seletiva na primeira edição do Metal Land Festival, em Altinópolis, no Interior. Tais feitos deram um novo status para o grupo, que passou a temporada passada trancado no estúdio. Ao longo de 2016, foram apenas cinco apresentações na região e fora.
Novo Horizonte marca a estreia da Atlante
Quem acompanha o cenário roqueiro santista desde 2010, pelo menos, já deve ter ouvido falar das extintas bandas Glock e Montreal. O que elas tinham em comum? Contavam com os mesmos integrantes. Agora em formato power trio, mudou o nome novamente: Atlante.
Para celebrar essa nova fase, os músicos lançaram um EP digital, recentemente: Novo Horizonte, que conta com quatro sons autorais.
“Começamos a tocar juntos em 2010. Passamos por algumas formações e chegamos à conclusão de que o trio era a melhor opção para nós. Estamos como a Atlante desde setembro”, conta o vocalista e guitarrista Yago Jacques.
As constantes mudanças estão relacionadas ao amadurecimento dos integrantes e à evolução musical deles.
“Somos os únicos desde o começo. Acreditamos nas mesmas coisas, temos os mesmos ideais e lutamos pelos mesmos objetivos na mesma intensidade. Isso é o que mais pesou. Além disso, as influências sempre foram muito parecidas e ajudam na composição das músicas e arranjos”, explica Yago, que tem como parceiros na banda Kevin Willian (baixo) e Raphael Leandro (bateria).
A sonoridade do período da Glock até a chegada da Atlante mudou bastante. O pop punk estava enraizado no som deles. Na atual fase, Thrice, Polar Bear Club, Bon Iver, The Felix Culpa e Sonic Youth são as influências mais perceptíveis.
“Acreditamos que essa fase (Glock) foi muito importante, pois mostrou o que realmente queríamos passar nas nossas músicas e nos fez encontrar os artistas que nos influenciaram nisso hoje em dia”.
Novo Horizonte chegou e promete render muitos frutos para a Atlante nos próximos meses. “É o final de um ciclo, as músicas são a síntese de tudo o que aconteceu até hoje e o elo com o que vamos abordar no futuro. Estamos começando a produção do nosso primeiro álbum e vamos nos dedicar a fazer shows, divulgar as músicas e lançar uns dois clipes”.
O álbum cheio da Atlante deve chegar no próximo ano. E as letras vão vir com novas mensagens. “Enquanto o Novo Horizonte fala de percepções que tivemos nesse crescimento juntos, o novo álbum falará sobre assuntos que achamos importante como os problemas políticos e econômicos do País, a crise migratória e a Guerra Santa”.
Jerseys adota o português como língua em novo álbum
Desde que surgiu, em 2012, a banda santista de hardcore Jerseys emplacou uma série de singles e EPs, todos em inglês. Agora, em nova fase, adota o português como língua oficial e divulga o primeiro disco, Orgânico e Natural.
O álbum já mostra nos primeiros segundos uma das principais mudanças nas composições da Jerseys: o amadurecimento, muito em função do nascimento da filha do vocalista, Phernandu Nunes, que divide o seu tempo com o seu trabalho como tatuador.
Canção para Laura, faixa inaugural do disco, começa com uma risadinha de um bebê e já vem com uma mensagem direta para a primogênita do vocalista: “Vou viver por você, evoluir e te ver crescer. Vou lutar por você, crescer e evoluir”, canta Nunes, no refrão.
Ao todo, Orgânico e Natural conta com nove faixas, quase todas com mensagens positivas e acompanhadas do vocal rouco de Phernandu. Em House Party, a banda ainda teve a participação de Ginho Maestre, vocalista da Surprise Box.
Mergulhar, Levante e Uma Chance para Mudar são os principais destaques do disco, que é indicado para os fãs de hardcore melódico, na linha dos capixabas do Dead Fish.
A mudança para o português, segundo Nunes, faz parte de uma transição pessoal. “Passei por uma fase buscando bandas que cantassem em português, acabei voltando a ouvir muita coisa antiga. Voltei a ouvir rap, Raul Seixas, Titãs, tudo para ouvir música onde entendesse a letra. Não só absorver ritmo, mas conteúdo”.
Nessa caminhada, o músico percebeu que sua banda estava nadando contra a maré, já que todas as faixas eram produzidas em inglês. “Estava contradizendo meu próprio pensamento, foi uma luta dentro da minha mente. Nisso, apresentei a ideia para todos da banda. Eles não aceitaram de primeira, mas eu tinha essa necessidade e, no fim, conseguimos fazer lindas músicas na nossa língua natural”.
Além de Phernandu Nunes, o Jerseys tem em sua formação músicos conhecidos no cenário regional, como Tim Intravennous (baterista), Gabriel Imakawa (baixista), Mark V e Nilinho (guitarristas).