VINICIUS HOLANDA
Nicolai Fraiture tocou no encerramento do Lollapalooza 2017, domingo, no show mais concorrido do dia. Mas o baixista do The Strokes poderia muito bem ter também aparecido em um dos palcos do evento com outro status. Ele está à frente do Summer Moon, projeto paralelo que acaba de lançar seu debute, With You Tonight. Caberia como uma luva no festival da capital paulista.
Todos os seus companheiros de banda já estiveram às voltas com trabalhos solos ou à parte, com resultados mais e menos inspirados. Ele próprio teve um outro grupo, Nickel Eye, que produziu um único disco (The Time of the Assassins), em 2009. O atual é mais desencanado e diversificado, o que o deixa numa encruzilhada estética: como avança em várias direções, o som não é repetitivo – mas, até por isso, a banda corre o risco de ser tachada como ‘sem identidade’.
O baixista deve estar pouco se importando para o que os outros pensem – parece tratar o projeto mais como uma forma de se divertir com os amigos, que incluem Stephen Perkins, do Jane’s Addiction na bateria. O clima alto astral transparece no primeiro single, que leva o nome do álbum. I don’t mind you hanging around/ But please don’t waste my time/ We can paint the town/ The color in your eyes, canta Fraiture. Sim, isso mesmo: relegado a coadjuvante no Strokes, aqui é ele quem assume o microfone.
Aliás, a faixa é um excelente cartão de visitas do disco. Animada e dançante, não faria feio se executada antes dos shows de Tegan and Sara ou The Two Door Cinema Club, por exemplo, no festival do final de semana. O mesmo padrão disco-punk é encontrado em músicas como Cleopatra – uma espécie de cruzamento entre Blondie e The Rapture – e Chemical Solution (mais eletrônica, com ecos de Daft Punk).
A atmosfera ‘anos 1980’ permeia algumas canções. Girls on Bikes e Into the Sun são exemplos, com teclados que ressoam Ultravox. E Hapenin tem uma levada de bateria similar à da clássica Heart and Soul, do Joy Division.
De modo geral, o álbum se afasta da sonoridade do grupo que revelou o baixista. A única possível exceção seria Class A, música mais acelerada e rocker da estreia. Como montar um projeto paralelo para replicar o mesmo tipo de som que você faz na banda principal parece não fazer muito sentido, pode-se dizer que Fraiture está no caminho certo.
Colher de chá
Para quem tiver curiosidade, o primeiro grupo ‘alternativo’ ao Strokes de Nicolai Fraiture tem um único álbum. The Time of the Assassins, do Nickel Eyes, apresenta um som mais convencional, algo folk, resvalando no country e baseado numa sonoridade acústica. Para quem curte, vale conferir.