VINICIUS HOLANDA
Se você está à procura de uma banda inovadora, hoje a coluna não lhe interessa – mas ela pode ser útil para os órfãos do The Smiths. Como os últimos discos do vocalista Morrisey passam ao largo do legado do grupo e a carreira solo do guitarrista Johhny Marr em nada lembra a sonoridade da antiga trupe, a saída pode estar na… Dinamarca.
É de lá que vem o Northern Portrait, quarteto muito influenciado pelos ingleses. ‘Influenciado’ talvez não seja bem o termo: os escandinavos praticamente replicam todos os moldes estéticos e sonoros que consolidaram Mozz e cia como uma das mais cultuadas bandas surgidas na década de 1980.
Duvida? Ouça e comprove. Estão lá os riffs elegantes de guitarra, os violões emoldurando a linha melódica ao fundo, o clima melancólico nas harmonias e as letras confessionais exalando desencanto. Tem mais: Stefan Larsen, o homem de frente da banda, evoca não só o canto anasalado de Morrisey, mas seus trejeitos vocais, como o uso de falsetes para pontuar a melodia das canções.
Ainda que nas entrevistas o vocalista aponte influências de outros grupos, como Echo & The Bunnymen, Suede e Pulp, é na fonte dos Smiths que os dinamarqueses bebem. As tantas similaridades – que os detratores classificariam apenas como uma cópia deslavada – poderiam levar a banda a ser somente um objeto de curiosidade. Passado o impacto da semelhança que salta aos olhos, porém, o ouvinte mais atento notará que o quarteto não se resume a isso: possui, sim, qualidades.
A começar pelo senso melódico apurado. Os dois EPs que apresentaram o grupo ao mundo, The Fallen Aristocracy e Napoleon Sweetheart, ambos de 2008, trazem preciosidades pop. Waiting for a Chance, I Give You Two Seconds to Entertain Me, In an Empty Hotel são exemplos. A triste Sportin a Scar é um dos pontos altos – evidencia o talento de Larsen para os versos poéticos, como no trecho ‘you were the best thing that never happened to me (você foi a melhor coisa que nunca me aconteceu)’.
Dois anos depois, os dinamarqueses lançaram seu único álbum até o momento, Criminal Art Lovers. O disco dá sequência ao trabalho desenvolvido nos EPs: alterna rocks e baladas sempre permeados pelo vulto soturno característico. A pena do vocalista continua afiada: The Operation Worked But the Patient Died é o título de uma das músicas. O desalento continua imperando.
Em 2013, mais um EP: o ótimo Pretty Decent Swimmers. A aura smithiana permanece, mas o grupo parece querer avançar. Bon Voyage! e I Feel Even Better têm todos os atributos que uma boa música pop requer: ritmo incessante, gancho melódico e refrão grudento. Parece fácil de fazer, mas não é.
Não se sabe o que o futuro reserva para os rapazes de Copenhague. Desde o último trabalho, o grupo parece ter entrado num hiato. Quem sabe estejam à busca de uma identidade própria – afinal, a comparação recorrente com Smiths não deve ser um fardo nada fácil de carregar.
Colher de chá
Quem quiser conhecer melhor o som do Northern Portrait a dica é ouvir a coletânea Ta!. O álbum traz todas as faixas dos EPs The Fallen Aristocracy, Napoleon Sweetheart e Pretty Decent Swimmers. Se a semelhança com Smiths não for empecilho pra você, é retorno garantido.