Nova Jersey é um estado norte-americano com uma população de quase 9 milhões de habitantes. Menor que a cidade de São Paulo (11,3 milhões), a região tem uma ligação muito especial com o Brasil. Pelo menos no que se refere à música. Tem como esquecer o dueto entre Frank Sinatra e Tom Jobim? E Bruce Springsteen cantando Sociedade Alternativa (Raul Seixas) em sua última passagem por aqui? Isto sem falar da família Pizzarelli, que acolheu o guitarrista paulistano Ricardo Baldacci em seu segundo álbum, Brothers in Swing.
Mas nenhum desses artistas é mais brasileiro do que Stacey Kent. A cantora fala português fluentemente, gravou com Marcos Valle, tem vários amigos da turma da bossa nova. E, agora, acaba de lançar o seu segundo álbum no ano, Tenderly, com a participação de Roberto Menescal, tocando violão em todas as faixas. Para abrasileirar ainda mais o trabalho, Stacey regravou Agarradinhos, um dos maiores sucessos de Menescal.
“Às vezes, na vida, você pode conhecer alguém de repente. Você não tem ideia que pode entrar alguém em sua vida e mudar tudo. Com o Menescal foi assim. Eu o conheci no aniversário de 80 anos do Cristo Redentor (2011), no Rio. Participei do show com o Marcos Valle. Já conhecia muito bem a música do Menescal. E ele disse que também admirava o meu trabalho”, recorda Stacey.
A partir daquele momento, a cantora e Menescal desenvolveram uma amizade. Trocaram muitos e-mails e sem pretensão alguma de gravar uma parceria. “É por isso que adoro essa história. Nós nem sabíamos que um dia renderia essa parceria”.
O encontro
E o primeiro encontro entre os dois aconteceu nas gravações do disco The Changing Lights (2013), de Stacey Kent. O álbum incluiu a clássica música O Barquinho, de Menescal e Ronaldo Bôscoli, com o capixaba de alma carioca no violão. Ele, à época, ainda contribuiu com o violão da faixa A Tarde, composição de Jim Tomlinson e Antonio Ladeira para o disco.
“Estávamos gravando o The Changing Lights e liguei para ele: ‘Menescal, você quer chegar aqui para gravarmos?’ E ele respondeu: ‘Diga quando, onde, horário e estarei lá’”.
Esse foi o primeiro passo para chegar ao novo álbum, segundo Stacey. “Quando terminamos a gravação, o Menescal disse que queria gravar um Great American Songbook (como são conhecidas as clássicas composições da música norte-americana) comigo. E a ideia se desenvolveu até chegar em Tenderly”.
Conhecimento da música
Conversar com Stacey é como ter uma aula sobre música brasileira. Seu conhecimento sobre os nossos artistas impressiona. Não só a turma da bossa nova, mas dos novos talentos também.
“Comecei a estudar a música brasileira muito antes de ser cantora. Tudo começou com a voz e o violão do João Gilberto. Uma música doce, linda, melancólica, mas com essa levada para frente. Essa balança entre a tristeza e alegria na música me conquistou. Depois, fui em uma loja e descobri Tom Jobim. Assisti ao filme do Orfeu Negro e conheci a família Caymmi, Edu Lobo, Clube da Esquina. Estava um pouco diferente das minhas amigas. Queria saber da música mundial”.
E a ligação de Stacey com o Brasil não tem prazo para acabar. Ela avisa que gravou um dueto com Danilo Caymmi, que será lançado em breve, e segue atenta ao mercado nacional.
“Vanessa da Matta é lindíssima. Maria Rita, Adriana Calcanhoto, Marisa Monte. Vocês têm várias cantoras incríveis. Minha vida pessoal é repleta de influências brasileiras. Não sei se um dia vou gravar com elas, mas seria uma honra”, comenta a cantora.
O álbum
Stacey Kent, que começou a carreira como intérprete, trazendo seu estilo íntimo e emotivo para um vasto repertório clássico dos Estados Unidos, interpreta 12 faixas em Tenderly, com o apoio de Roberto Menescal no violão.
Clássicos americanos como Only Trust Your Heart, composição de Benny Carter e Sammy Cahn, e There Will Never Be Another You, de Harry Warren e Mack Gordon, fazem parte do repertório.
A faixa Agarradinhos, de Roberto Menescal com Rosália de Souza, também integra o CD. É o momento que Stacey prova o seu português bem afiado.
Tenderly conta com o marido de Stacey, Jim Tomlinson, no saxofone e flauta e Jeremy Brown no baixo. O disco é uma coleção íntima de canções.
Para a cantora, é um retorno às clássicas composições populares dos Estados Unidos (o chamado Great American Songbook) e, para Menescal, é um retorno às raízes do jazz que inspiraram o então jovem violonista no início e no auge dos anos de bossa nova.