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Caricatura por Alex Ponciano

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Editorial: O adeus a Tarso Wierdak dos Santos (Carnal Desire)

A morte do amigo e ícone do rock santista Tarso Wierdak dos Santos, aos 54 anos, foi um duro golpe para todos. E nessas coincidências da vida, o vocalista da Carnal Desire saiu de cena justo no Dia do Sexo, sua maior inspiração na música.

Dos anos 1980 para cá, Tarso foi praticamente um ativista do rock. Cantando Churros Assassinos e Cookie é Bom ou contando seus causos, o músico trouxe leveza num cenário muitas vezes carrancudo.

Lembro que a primeira vez que conversei com Tarso foi em um show do Genocídio e Okotô, no Bar do Sesc Santos. Naquela ocasião, o gigante de coração gentil brincava com o fato de um pirralho estar no meio daquela barulheira.

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De lá para cá, foram muitos anos de conversas pessoalmente e Facebook. E o Tarso sempre fez questão de falar da dificuldade que tinha para ter o som aceito no cenário regional. Ademais, dizia que as pessoas não aceitavam sua zueira.

O Carnal surgiu numa época difícil. A galera não era muito de aceitar novidades. Uma banda de som pesado com letras satirizadas e falando sobre sexo? Muita gente queimava nosso filme por achar que não éramos sérios. A moda era fazer letras mais políticas. Hoje ainda tem muita panelinha, mas não temos restrições de público”Tarso Wierdak dos Santos

Mas Tarso era muito querido por todos. Portanto, mesmo que a pessoa não ligasse para o som dele, era impossível ficar indiferente diante da simpatia e humor.

Na sexta-feira li muitos textos repletos de histórias divertidas, emocionantes e marcantes da trajetória dele. Igualmente legal foi a homenagem do jornalista Marcelo Oliveira (ex-baixista das bandas Embryo e Nowhere). Ele nos enviou um artigo falando sobre a relação com o Tarso. Confira abaixo.

Adeus, Tarso!

Definitivamente o Tarso Wierdak, do Carnal Desire, não era da minha turma. Ele era mais velho, ele era grande, ele cantava berrando, ele curtia paradas sadomasoquistas, ele gostava de Metal e ele era punk quando o punk nem existia. Eu não era nada disso. A única coisa que eu tinha em comum com ele era o gosto por sexo e rock and roll, mas qual adolescente não tinha?

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Mas muito mais que sexo, rock e birita, era impossível ficar indiferente ao Tarso debaixo das máscaras de sua persona artística: o sorriso desdentado, a simpatia refletida em conversas engraçadas que tínhamos no ônibus de Santos para São Paulo ou a vez que nos encontramos numa ocorrência que o PM Wierdak atendeu no bairro onde eu morava, na Capital, quando idiotas se machucaram explodindo fogos dentro de um carro.  

Participação no Programa do Jô

Eu gostava muito mais do Tarso do que do Carnal Desire, banda fundada por ele em 1991 e que era uma grande tiração de sarro, que obteve relativo sucesso para uma banda independente e sem empresário, cujo auge pode ser medido pelas duas participações no Programa do Jô, em 2006 e 2008, esta última numa antológica entrevista de 16 minutos.

Mas Tarso tinha dois lados. Além de músico e autor de letras que só “pensavam naquilo”, como Cookie é bom e Viagra, ele também era Policial Militar. A entrevista de 2006, vista por policiais de todo o Brasil com bons olhos por mostrar que um homem da lei pode ser diferente da visão desumana, de máquina de matar, criada pela ficção e pela crônica policial, teve um impacto negativo em sua vida, que culminou num processo administrativo e em sua saída da corporação_que fornecia o seu sustento na prática. 

Na entrevista de 2008, porém, a dualidade falou mais alto: “O rock tá no meu sangue, mas a Polícia Militar sempre vai estar no meu coração. E quem sabe um dia eu volte”. Todos sabemos: ele não voltou, apesar da luta judicial que travou.  A primeira participação no Jô teve grande repercussão, aumentou a agenda de shows da banda, mas, dois anos depois, Tarso listou que pouco havia mudado: “A banda continua sem empresário e sem gravadora. Eu não virei ator da Globo e continuo tomando conhaque vagabundo”.

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Dificuldades

Depois da participação na TV em 2008 pouco mudou também, exceto as complicações causadas pelo diabetes, que levaram Tarso a uma internação que o deixou em situação desesperadora, em 2010. Quem o salvou naquela época foi o líder do Charlie Brown Jr, o Chorão, que tirou a própria vida três anos depois. 

Infelizmente, mesmo com o apoio da família e amigos, os problemas de saúde de Tarso se agravaram, resultando numa trombose, que levou à amputação de uma perna. Amigos correram para realizar um show neste domingo (8), no Valongo, para arrecadar dinheiro para o tratamento dele, mas não deu tempo. Novas complicações o levaram novamente a uma internação em São Vicente, onde morava, e ao enfarte fulminante que o tomou de nós. 

Como toda pessoa com uma personalidade multifacetada, muitos vão lembrar de Tarso Wierdak como o artista no palco, vestido de preto, berrando putarias compreensíveis e incompreensíveis, outros lembrarão do PM Wierdak. Eu lembrarei de seu sorriso bonachão e de seu olhar sem preconceito e carinhoso. Vá em paz, amigo. E, quem puder, vá ao show. A família do Tarso precisa dessa força. 

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