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The Clash: a reedição punk dos Beatles

RICARDO AMARAL
Dedicado a César DiGiacomo

Quando saí do Externato Sagrada Família, uma pequena escolinha de alfabetização, fui lançado no pátio do Colégio Santista, com 2 mil alunos. Perdido na fila da segunda série B, um menino se aproximou e apresentou-se:

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-“Meu nome é Francisco César DiGiacomo, mas não gosto de ser chamado de Francisco. Me chama de César”!

César foi meu primeiro amigo e hoje é o meu melhor amigo. Padrinho do Pedro e, talvez, a única pessoa que me conhece, exceto a Vera, óbvio. Mas isso foi em 1972. César e eu éramos diferentes em quase tudo. Ele tímido, quieto e discreto, ou seja… Enquanto eu me enfeitava todo no idos da Discoteca, César me apresentava bandas como o Queen e, sua então preferida, Clash.

Jamais fui admirador do punk. Em minha opinião, a maioria das bandas punk escondia sua inabilidade musical na atitude, traço da categoria que identificou toda uma geração na Europa e nos EUA contra a repressão da Guerra Fria e dos governos totalitários como o de Margareth Tatcher no Reino Unido.

Estamos em 1977 e falamos da banda que reuniu os dois maiores compositores em dupla desde Lennon e McCartney. Joe Strummer e Mick Jones foram simplesmente únicos na revolução punk. Sua capacidade de enfrentar temas perigosíssimos na época, conjugada com uma miscelânea de estilos musicais, transformou o Clash na maior banda de punk rock da história, apenas garantindo o respeito ao Led Zeppelin e ao Queen para não retirar o adjetivo e proclama-la apenas a maior banda de rock.

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Embora tenha sido fabricada pelo débil mental de seu empresário, Barnie Rhodes, um megalomaníaco cuja arrogância e psicopatia conseguiram afastar os gênios de criação, o Clash não era apenas Strummer e Jones. Topper Headon, o baterista era apenas o melhor baterista de rock de sua época. Levado pelas drogas e pelo abuso delas, Topper foi demitido da banda, o que deu início à queda da equação que levou a banda ao topo.

Paul Simonon, o baixista, sequer conhecia o instrumento quando ingressou na banda, mas seu contrabaixo acabou definindo o Clash junto com o ritmo de Topper.

Esta coluna não tem a pretensão de escrever uma biografia, mesmo porque não entendo tanto de Clash assim. Aliás, gosto daquilo que vivi e ouvi ao laço de César, London Calling e Combat Rock. Estes dois discos são obrigatórios. Simplesmente definem não só o Clash, mas o punk itself.

London Calling é o terceiro álbum de estúdio da banda. Os dois álbuns anteriores eram pérolas genuinamente punks, com pouquíssimo espaço para a improvisação, com aquela velha fórmula já conhecida: quatro acordes, acompanhados por uma batida rápida e letras com fortes e ácidas críticas sociais.

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O disco abre com London Calling faixa que dá titulo ao álbum e a melhor de todo o disco, a introdução da música com uma batida forte e cadenciada é um show a parte na canção. Joe Strummer dá um show nos vocais.

Em sequência temos Brand New Cadillac um rockabilly acelerado com velocidade punk, que dá sequência ao clima criado pela canção anterior.

É a vez do jazz dar as caras no disco Jimmy Jazz como o próprio nome já sugere é uma canção com ritmo e letras contagiante típico das Big Bands de Jazz do sul dos EUA.

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Pra fechar com chave de ouro, minha preferida no disco Train In Vain (Stand By Me) uma da melhores composições de todo o álbum com uma melodia perfeita, cujos destaque fica por conta dos vocais de Mick Jones e da bateria de Headon.

Com todo respeito a Joe Strummer, sou totalmente cativado pelas composições de Mick Jones. Um gênio!
Em 1982 surge Combat Rock, uma espécie de Abbey Road do Clash. Um disco perfeito. Faz do punk uma obra prima, audível para todos, de quaisquer idades.

Último disco com a formação icônica do Clash, Combat Rock começa com a declaração dos direitos de Joe Strummer: know you rights é pragmática. Digna do melhor de Lennon”:

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1) “Você tem o direito de não ser morto. Assassinato é crime, a não ser que seja feito por um policial ou por um aristocrata”;

2) “Você tem o direito a dinheiro para alimentação, fornecido, é claro, se você não se importar com um pouco de investigação, humilhação, e, se você cruzar os dedos, reabilitação”;

3) “Você tem direito à liberdade de expressão, desde que você não seja burro o suficiente para realmente tentar isso”.

Após o surreal fluxo de consciência do punk-reggae Car Jamming, temos o maior sucesso comercial do Clash,  Should I Stay or Should I Go. Rock de riff irresistível cantado por Mick Jones, com algumas partes de “tradução simultânea” para o espanhol por Strummer e Joe Ely.

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Rock The Casbah é uma fábula sobre a proibição do rock em um reino fictício (ou não?) do Oriente Médio. Num desafio à proibição, a população continua a balançar a cidadela (Casbah) ao som do rock. Mandados a bombardear os infratores, os pilotos dos aviões terminam por cair no rock junto ao povo.

Fecho este texto com um fato cuja importância eu e César observamos durante 47 anos de amizade. Joe Strummer ao descobrir (ou realizar) que havia sido manipulado por Rodhes e ver sua banda estraçalhada e com Mick Jones recém lançando seu B.A.D. (Big Audio Dinamite), ao saber que seu companheiro e melhor amigo fora de férias a Nassau, pegou um avião sem saber para onde ía e em Nassau alugou uma bicicleta, com a qual percorreu toda ilha em busca do amigo Jones. Na mala: o pedido de retorno do Clash.
Meses antes de morrer, o Clash voltou a se reunir em show beneficente, e Mick Jones compareceu. Joe mal conseguia cantar de tanto chorar…

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Amizade é errar, corrigir e principalmente respeitar. Mas, sobretudo, perdoar. Obrigado César por tanto amor e tanta compreensão durante toda nossa história.

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