De vez em quando essa coluna retrata de artistas menos mórbidos – é raro, mas acontece. A predominância de temas underground, geralmente ligados ao shoegaze, ao psicodélico e a demais gêneros relacionados traz uma identidade interessante para o que ficou conhecido como Ruídos, mas é bom dar uma variada.
Primeiro nome da New Wave na coluna – se não contarmos a brasileiríssima Gang90 – a Tom Tom Club é formada por Tyna Weymouth e Chris Frantz, ambos membros do Talking Heads. Pode-se dizer que a banda liderada por David Byrne, apesar de muito mais famosa, traçava rumos menos comerciais que o nosso assunto do dia – que emplacou grandes hits nas rádios durante os anos 1980, entre os quais se destaca a reggae robótico Genius of Love.
A canção dá as caras no primeiro disco do grupo, Wordy Happinghood (1982). Foi um dos grandes sucessos dos anos 1980, marcando os primeiros anos da MTV e agitando as pistas de dança na época – a influência de gêneros pouco habituais em conjunto, como o funk e o synthpop, fizeram da música um diferencial em meio aos destaques do New Wave (que já era um gênero bem diversificado por si só).
O primeiro disco do conjunto é um conglomerado de influências. A ambientação futurista, característica constante na década com maior complexo de inovação da história da música, deixa um espacinho para que a black music, o reggae e o rock deixem suas marcas. Apesar de sintético, o disco tem um gosto orgânico, com bons contrastes entre os sintetizadores e instrumentos tradicionais, como a flauta e a percussão. A guitarra também é muito bem utilizada – em timbres que remetem a alguns lampejos de Prince na década. Nesse aspecto, destaques para Tom Tom Theme e L Elephant. A faixa mais sexy do disco, no entanto, é a derradeira Under the Boardwalk.
Foi o único álbum lançado pelo grupo na época, mas ficou marcado pela quantidade de canções presentes nas discotecas do período em questão (apesar de não ter sido uma enorme influência como alguns de seus companheiros de cena). Algumas exceções que não fizeram tanto sucesso, como Lorelai, se destacam pelo lado técnico da new wave, que abraça o épico e explora os tons mais atmosféricos (e esquisitos) dos synths – sem deixar o espírito funky de lado em momento algum. Algo como a Jack Kerouac do Gang90.
Hoje, quase 40 anos depois, o disco não soa nem um pouco datado – sendo um excelente easy listening (ou hard listening, se você achar o primeiro termo pejorativo demais – e não é).