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Tosco: revanche do som pesado

MÁRIO JORGE DE OLIVEIRA

No começo, ficaram na dúvida sobre o nome. Poderia dar margem para uma dupla interpretação. Mas decidiram arriscar, afinal prestavam uma homenagem a um amigo que, invariavelmente, tinha um senso crítico bem apurado. E assim nasceu o Tosco, banda que aposta num metal furioso – thrashcore como ela se define -, e atenta às mazelas da sociedade. Isso foi em 2017. De lá para cá, o grupo já lançou um álbum, Revanche, com o qual trabalha as dez músicas no circuito underground, e já organiza material para um novo disco.

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“Quando nos juntamos para fazer a banda, tínhamos um amigo em comum, muito querido, que volta e meia dava aquele esculacho na gente: ‘Pô, cara, isso tá meio tosco’”, lembra Ricardo Lima, guitarrista do grupo. Ensaios rolando, um nome para escolher, quando os integrantes da banda foram surpreendidos pela partida inesperada do amigo.

“A gente sentiu bastante e até me emociono em falar sobre isso”, acrescenta, ao recordar a morte de Manoel Neto, um entusiasta do som pesado, que agia meio como um ombudsman dos rapazes. Com a morte do amigo e o abalo emocional sobre os músicos, os integrantes decidiram que a banda se chamaria Tosco. Foi a forma encontrada para manter na lembrança a companhia de Neto.

“Uma outra homenagem que fizemos pra ele e está na música Amigo Seu, onde recordamos também de outras pessoas que se foram, como Hansen (Johnny Hansen, guitarrista de Santos, falecido em 2017). A gente aceita, mas fica a saudade”.

O começo do Tosco, em 2017, foi meio por acaso, sem um planejamento específico. Ricardo conta que um amigo vocalista, Osvaldo Fernandez, o chamou para fazer uns experimentos com músicas do KISS. “Foi ficando legal e decidimos levar adiante. Aí, a gente recrutou um batera, o Paulo Mariz, que não é só um baterista de metal. Ele sabe de jazz, blues, música popular. Então, quando começamos a ir para o estúdio, era um ensaio, uma música. Estava fluindo”.

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Nessa levada, compondo bastante, encontraram um baixista, Anderson Casarini. “O cara tem uma audição além do alcance comum. Ele coloca as coisas no trilho, quando tá saindo do compasso. E também funciona como uma espécie de auditor da banda”.

Ricardo, com passagens por várias bandas da região, como Vetor e Embryo (covers de heavy metal), diz que as composições do álbum Revanche têm uma sintonia com a realidade brasileira. Com letras em português, aponta o dedo para a política nacional, como na música Temos o que Temer. O thrashcore do Tosco também denuncia o pouco caso das autoridades brasileiras com a Educação, em DNA, e o desmanche na Saúde, com a porrada sonora Saúde Falida. A posição política da banda – sem cores partidárias – está expressa nas letras, devidamente acompanhadas da tensão que o som pesado acrescenta.

A crítica social também integra o repertório do grupo. Em Cenário de Chacina, por exemplo, o Tosco explora fatos que atemorizam principalmente as periferias do País, com guerra entre gangues e ação de supostos justiceiros. Se a realidade em comunidades pobres faz parte do dia a dia de quem mora nestas áreas, fatos como os que ocorreram em Suzano e na Nova Zelândia, num espaço de dois dias, passam a ter apelo maior, porque sai do pequeno universo, onde histórias assim são absorvidas até com grau de resiliência. “A música não é sobre um caso específico, mas da forma como acontece”, diz Ricardo.

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Novo trabalho

O Tosco está aí, trabalhando o primeiro CD, mas já engatilhando um segundo álbum. “Na verdade, a gente não para de compor. Tem umas 20 músicas já prontas”. O thrashcore da banda, na opinião de Ricardo é só mais um rótulo. “A gente não fica pensando: vamos fazer uma música thrash. Não é assim. Temos composições no clima Black Sabbath, outras mais hardcore, ou na linha do Slayer. E se tivéssemos dois guitarristas, com certeza haveria influência de Judas Priest, Iron Maiden”.

Shows? Sim, tem um no final do mês na região e mais dois agendados no Paraná, entre junho e julho. Com a comunicação em novas plataformas, o Tosco vai apostando agora no network para expor seu som, e alimentar, com metal extremo, o apetite de uma audiência que curte a pegada, mas invariavelmente não encontra eco nas casas de entretenimento.

Em Santos, há os espaços que atendem um som mais pesado, como o Boteco Valongo, o Stúdio Rock e o Bar do Gabiru, em São Vicente. Daí, a importância da tal rede de contatos para que a banda, particularmente autoral, ganhe mentes, corações e ouvidos. E, claro, confiar no som que produz. Nisso, o Tosco está bem tranquilo.

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