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30 anos sem Raul Seixas e suas ideias

No último dia 21, a memória do Maluco Beleza mostrou-se mais viva do que… sempre. Há 30 anos, Raul Seixas se transformava em um cometa e partia para os astros. Certamente, o baiano foi um extraterrestre movido ao rock n’ roll que deixou muitas pessoas assustadas.

Raul em 1973

Atualmente, legião de fãs ainda o tratam como um Guru. O Elvis Brasileiro. Mas, a sua genialidade lírica chegava a ser assombrosa.

Enfim, o Som na Vitrola desta semana, destaca algumas faixas que mostram tal genialidade.

Judas (Mata Virgem, 1979)

Lembro do primeiro baque que tive ao ouvir essa música. Dando uma outra visão na relação de Jesus Cristo e Judas, Raul sugere que a traição foi articulada por Cristo para que a profecia fosse cumprida.

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Em um dos melhores trechos, Raul canta:

“Se eu não tivesse traído, morreria cercado de luz. E o mundo, hoje então, não teria a marca sagrada da cruz”.

Capim Guiné (Raul Seixas, 1983)

O Raul tinha o dom de transformar casos da vida em mensagens criptografadas.

Raul faz uma analogia em Capim Guiné, sobre trabalhar pesado e sozinho, para depois ver os parasitas invadindo.

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Na década de 1970, Raul era tido como louco, porém sua carreira decolou. É neste momento que Raul canta, “agora veja cumpadi, a safadeza começou…todo bicho vem pra cá”.

Carimbador Maluco (Pluct Plact Zum, 1983)

Enquanto acreditavam que Raul havia se vendido ao sistema com músicas infantis, no fundo, ele estava ensinando.

No especial Pluct Plact Zum, Raul Seixas criticava a burocracia do governo da época que teimava em “selar, registrar, carimbar, avaliar, rotular, adiando e atrapalhando todo tipo de atividade”.

Além disso, ele faz referência ao texto anárquico de Proudon, que diz “ser governado é ser a cada operação notado, registrado, tarifado, selado, medido, avaliado, autorizado e rotulado”.

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Eu sou eu, Nicuri é o Diabo (Raul Seixas, 1983)

Gravada primeiramente em 1972, Raul Seixas coloca o dedo na ferida da ditadura. Na versão de 1983, a frase “E que Diabo?” vira “Kid Jango”.

Em inglês, “kid” tem a mesma sonoridade das letras K e D. Logo, se transforma em “KD Jango”, João Goulart, ex-Presidente do Brasil.

Logo, “Cadê Jango?”. Após o questionamento, a música se torna um tango e Raul explana: “e quem souber disso, que me cante um tango”. Jango morreria na Argentina, em 1976.

Let Me Sing, Let Me Sing (VII Festival Internacional da Canção, 1972)

Ao juntar baião e rock, Raul Seixas poderia ter garantido uma passagem de ida aos porões da ditadura militar, devido a liberdade de expressão.

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Tudo isso no sentido de que, cada um pode criar e trocar experiências, sem precisar fazer cópias. “Num vou cantar como a cigarra canta, mas desse meu canto eu não lhe abro mão”.

A verdade dominadora não tem espaço: “Dois e dois são cinco”.
Conformismo cristão à espera do Salvador? “O seu Messias ainda não chegou”.
E o tapa na cara das pessoas anestesiadas para acordar para a realidade da época? “Eu vim rever a moça de Ipanema e dizer que o sonho terminou”.

Os Números (Há Dez Mil Anos Atrás, 1976)

Raul fez mais uma mistura, tanto sonora quanto mística. Em um forró, ele fala sobre o Livro da Lei, escrito por Aleister Crowley.

Citando os números 1, 12, 7, 2 e 4, ele faz referências. Mas, claramente, a mensagem é outra.

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Gita (Gita, 1974)

No topo de sua carreira, Gita. A obra-prima de Raul Seixas com Paulo Coelho, certamente, está no coração de todos os fãs.

Antes de mais nada, lembrar que Raul era considerado um lunático, louco, maconheiro e satãnista. Todavia, a canção tem um misticismo perfeito.

Segundo o próprio Raul, a música fazia alusão a um dos textos sagrados do hinduísmo, o Bagavadguitá. De acordo com o texto, o guerreiro Arjuna dialoga com Krishna, que pergunta sobre sua natureza

“Eu sou a Essência Espiritual que habia nas profundezas da alma e no íntimo de cada criatura. O principio, meio e fim de todas as origens e existência”.

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No final de tudo, há vários caminhos para entender a genialidade de Raul. Mas, a sua ausência continua sendo uma das maiores presenças na música brasileira.

Como Caetano Veloso disse no final do documentário O Início, o Fim e o Meio: “Raul, as pessoas não morrem”.

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