Eu lembro quando ouvi a música Burn pela primeira vez. Sabe quando o seu universo se expande? Você descobre que tem algo mais? Foi exatamente assim que me senti quando os primeiros acordes de Ritchie Blackmore entoaram pelos auto-falantes do som de casa.
Em 1974, o Deep Purple passava por mais uma fase de mudanças. Ian Gillan e Roger Glover saíam da formação clássica da banda, dando o lugar para David Coverdale, futuro Whitesnake, e Glenn Hughes, ex-Trapeze.
A adição de Coverdale, que cantava como que se suas bochechas estivessem cheias de ar e Hughes, que além de mandar muito nas quatro cordas tinha uma voz excepcional trouxeram novos ares para o grupo. O som hard rock encaminhou-se mais para o lado do boogie colocando como ingrediente o soul e o funk. Tudo isso que seria mais gritante no álbum seguinte, Stormbringer (1974) e com a entrada de Tommy Bolin nas guitarras em Come Taste The Band (1975), mas isso é assunto para um outro post.
Voltando a falar de Burn: Os integrantes mal sabiam que estavam abrindo caminho para o melhor álbum de estúdio já gravado. Após se trancar no lendário estúdio móvel dos Rolling Stones em Montreal na Suíça durante novembro de 1973, o grupo voltava com uma obra-prima.
O álbum abre com a faixa-título à todo vapor, na verdade como um desafio para a clássica Highway Star. Ela acabou tornando-se um páreo duro para todos os clássicos que abrem os álbuns do Deep Purple, mostrando uma impressionante bateria de Ian Paice e um solo poderoso de órgão do mestre Jon Lord.
Cheio de agudos de Coverdale e Hughes, as faixas Might Just Take Your Life – o primeiro single do álbum – e Lay Down, Stay Down ditam o valor que este álbum tem para a história do rock setentista. Sail Away é a calmaria pós-frenesi, seguido de You Fool No One com mais uma lição de Paice como se toca bateria. Mistread é a cereja do bolo de Burn, um blues prestes a entrar em ebulição, coloca a banda no lugar mais alto do pódio. Sendo dúvida, uma das músicas essenciais na discografia de qualquer fã de música que se preze.
Temos que lembrar de um fato importantíssimo: Ian Gillan tem tanta dor de cotovelo pela fase “David Coverdale On Vocals”, que ATÉ HOJE se recusa a cantar as canções dessa era. Muitos fãs ainda torcem o nariz quando Burn é citado como o melhor álbum, só pelo fato de que Hughes e Coverdale fizeram nos vocais. Mas somados com a fase mais criativa de Blackmore e Lord, junto com as batidas animalescas de Paice, é difícil negar que é um disco genial do primeiro ao último estrondo sonoro.