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Som na Vitrola - Victor Persico

Som na Vitrola #19 – 40 anos de Animals, o álbum do Porco do Pink Floyd

Era julho de 1975, o Pink Floyd terminava as gravações de Wish You Were Here e comprava um prédio localizado na Britannia Row, 35 . O local era um gigantesco salão de três andares que abrigava toda a parafernália (PA’s, efeitos de palco, instrumentos, efeitos de luz), com a ideia de ser alugada para outras bandas. A reforma e a mudança durou praticamente o ano inteiro. Em abril de 1976, com as novas instalações, a banda abria a Britannia Row Studios, e os trabalhos para a gravação de Animals, seu oitavo trabalho de estúdio.

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Enquanto o Flydianos colocavam a cabeça para trabalhar, a Grã Bretanha passava um período de violência racial, desemprego, alta inflação – OLÁ BRASIL, acho que estão falando de você. Durante este período, o punk rock explodia, jogando na cara de quem queria e de quem não queria, os problemas, as contraculturas, o anti-sistema e também uma reação contra o social e a nostalgia que girava em torno do rock.

O Floyd, assim como outras bandas clássicas, eram alvos deste novo movimento, lembrando de Johnny Rotten (Sex Pistols) vestindo uma camisa do Pink Floyd com a palavra I HATE acima do nome da banda. Nick Mason declararia mais tarde que a revolta punk tinha que ser recebida de braços abertos, pois só mostrava o regresso da cena londrina underground.

E embora Waters se mostrava contra o movimento punk, as preocupações sobre desigualdade, preconceito, políticas e outros fatores da época, o baixista não se mostrava longe do que expressavam as novas bandas do cenário. O disco é baseado no livro A Revolução dos Bichos, de George Orwell, em que faz uma comparação dos humanos com cada um dos três animais personagens do livro: Os cães sendo os homens da lei; os porcos são os políticos corruptos e moralistas; e as ovelhas, que sem pensamento próprio, seguem cegamente o líder do bando.

Enquanto o romance é concentrado no comunismo, o álbum é uma crítica direta ao estado, e mesmo que há a defesa dos ideais do socialismo democrático, no álbum, a ovelha se rebela e domina os seus opressores.

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As gravações do álbum aconteceram no Britannia Row, com duas músicas que não foram incluídas no álbum anterior: Raving And Drooling You Gotta Be Crazy, que transformaram-se em Sheep e Dogs, respectivamente.

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O álbum abre com Pigs on The Wing Pt. 1, uma faixa com apenas 1m24s, com Waters no violão. Seguida de Dogs, um dos melhores trabalhos de Gilmour e Mason, que utiliza sons fúnebres e obscuros saídos de sintetizadores usados também no álbum anterior.

A terceira faixa, Pigs (Three Different One), dá aquela sensação de “Eu já ouvi essa música de algum lugar” por causa da semelhança com Have a Cigar, coberto com o blues de Gilmour, e por carregar grande referência aos defensores da censura na época (e um dos porcos no álbum) Mari Whitehouse.

Sheep, penúltima faixa do álbum, leva na letra uma versão modificada do Salmo 23, onde um Senhor diz “Faz-me pendurar em lugares altos e converte-me a costeletas de cordeiro” (alusão às ovelhas do título). No final da música, as ovelhas rebelam-se e matam os cães e em seguida vão para casa.

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O álbum termina com Pigs On The Wing Pt.2, que é, simplesmente, uma canção de amor. Sim! Roger Water faz uma love song em que há um vislumbre de esperança, apesar da raiva estampada nas três canções do álbum. A faixa é fortemente influenciada pela sua namorada na época – que sendo sincero, eu nem pesquisei o nome, estou aqui pra falar sobre Animals e não sobre a namorada dele.

E escrevi tanto, mas tanto, para entrar no assunto que tanto esperava para expressar a minha lealdade, estima, amor e adoração: Algie, o porco da capa.

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(Essa será a parte do texto em que eu vou dar uma pirada, não me levem a mal.)

Na cabeça da banda, acabou vindo a ideia de um porco voador – bacons voando, para dentro da sua boca… parei.

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A Usina de Battersea, situada em Londres, foi construída na década de 1930, e hoje caindo aos pedaços, mas imortalizada na capa deste disco maravilhoso.

Algie foi desenhado por Roger Waters – Cacete, o Roger fez tudo nesse disco? A resposta é sim, tanto que a partir desse disco, a banda começou a ter umas tretas – e construído em 1976. E Jeffrey Shaw, com a ajuda do Hipgnosis, que seria a equipe de designers que fez todas capas do Floyd, construíram esse pedaço de bacon voador de plástico. Com quase 13 metros de comprimento  e cheio de gás Hélio, o balão deveria sobrevoar a Battersea Power Station, localizado na margem sul do Rio Tâmisa, South West London.

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No primeiro dia da sessão de fotos, com um atirador de elite à espera de acontecer o que era previsto, o porco se desprendeu das cordas e saiu voando. METE BALA NO PORQUINHO!

No segundo dia, aconteceu a mesma coisa, mas o atirador não estava. O porco sumiu após cinco minutos, alcançando altitude de 10 km, aeroportos cancelando viagens, especulações de jogada de marketing e a lista continua com tudo que é possível. De noite, o porco resolveu pousar numa fazenda em Kent, no sudoeste da Inglaterra. Recuperado e reparado, enfim era hora de realizar a foto da capa. Mas, – sempre tem um mas -, o céu estava azul e sem nuvens, o que foi considerado sem graça para os padrões da equipe do Hipgnosis. Sendo assim, juntaram as fotos da primeira e da terceira sessão.

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Até hoje, Algie é utilizado em shows do Roger Waters, com frases de apoio para fazer o povo despertar diante de alguma filha da putagem. No Brasil, durante a turnê do The Wall, um Algie de corpo negro, tinha escrito: “Povo que aceita tudo calado – Muita fé e pouca luta – Não confie nos políticos – Brasil paraíso da corrupção e impunidade – O novo código florestal vai matar o Brasil”.

Uma última história. Uma curiosidade. Durante o último show da turnê de Animals, após a decolagem e aterrisagem do Bacon Ambulante, e fogos de artifícios e gritaria, Waters se irritou com um fã que não parava de berrar sua devoção pela banda. Extremamente irritado, o baixista vai até a beira do palco e cospe no rosto do fã. Engraçado que após esta cena, Roger cantava no final de Dogs: “Who was trained not to spit in the fan“. No bis, todos voltaram para uma jam, menos Gilmour que ficou parado pensando “É uma vergonha terminar uma turnê de seis meses desta forma.”

Após o show , Waters e o empresário Steve O’Rourke simulavam uma briga de brincadeira que acabou terminando com o baixista cortando seu pé, sem querer. No caminho do hospital, Roger e sua namorada, o produtor Bob Ezrin e um amigo psiquiatra presenciam um certo pensamento de Roger, como relembra Ezrin:

Ele começou a falar sobre o sentimento de alienação da turnê e como sua mente imaginava construir um muro entre ele e a platéia. O meu amigo psiquiatra ficou fascinado com a ideia”.

Mas isso já é um outro assunto…

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1 Comment

1 Comment

  1. Sergio Del Bel Jr

    23 de janeiro de 2017 at 17:45

    Texto soberbo!
    Ótimas informações!

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