Paris Texas, Noah Cyrus e Daniel Caesar empolgam no C6 Fest

O C6 Fest acertou em cheio nas escolhas. Mesmo que não fosse possível acompanhar todos os shows na íntegra, ainda dava para conferir um pouco de outras atrações. Paris Texas, Noah Cyrus e Daniel Caesar foram alguns que me chamaram a atenção no segundo dia. Paris Texas Paris Texas entrou ainda cedo no palco Heineken, para uma plateia ainda pequena. Mas se dedicaram muito, conversavam (em inglês) com o público, enfatizando como gostam do país. Acompanhados apenas de um DJ, sem banda, os dois nomes do Paris Texas, Louie Pastel e Felix, cantam um hip hop agressivo, por vezes com a intensidade de músicas de punk, mas que em momento algum soam diferente do hip hop. A pequena plateia comprou a apresentação e se divertiu, dançando e respondendo as interações que o grupo fazia. Talvez em um horário mais tarde ou um palco menor trouxessem ainda mais força pro show deles. Noah Cyrus Extremamente emocionada e grata pela recepção dos brasileiros, Noah Cyrus se dedicou muito em entregar um show a altura do carinho que recebeu. “Vocês foram gentis comigo desde o momento em que pisei fora do avião”, disse ela segurando a emoção. Apesar de tocar antes da Cat Power, seu show estava mais vazio, o que levanta a questão do público-alvo que o festival precisa investir. Vivendo sob a sombra da irmã famosa, com seu estilo mais pop rock, a música de Noah vai mais para o lado do pop country de seu pai, Billy Ray Cyrus. As músicas são radiofônicas e prontas para virarem hits. Difícil dizer se o sucesso da irmã da Noah ajuda ou atrapalha sua carreira. Será que sem propaganda gratuita que tem em seu nome sua música chegaria ao Brasil e além? O que pode fazer pra ter seu brilho próprio, Noah faz. Cantou, explorou todo palco, interagiu com os fãs e com sua banda e tentou deixar seu marca, ao menos para os que já acompanham seu trabalho. Daniel Caesar Um show de neo soul muito bem executado. Acompanhado de uma banda eficiente com baterista, guitarrista e baixista (que também tocou teclado), mas com vários momentos solo (voz e violão), Daniel Caesar entregou um soul por vezes suave, romântico, e que em outros momentos soou dançante. Canta com uma voz leve, sem muito enfeite, como um clássico cantor de soul. Lembra mais o estilo de seu contemporâneo Leon Brigdes. O público conhecia muitas de suas músicas e se emocionou com a carga sentimental que a música dele provoca. Chegou a fazer um cover solo de Sparks, do Coldplay, e mostrou que se não se render ao pop comum, pode se firmar mesmo como um grande nome do neo soul. Depois de se despedir da plateia no palco, os telões mostraram para o público Daniel se dirigindo ao camarim, ao vivo, e encontrando um casal com um bebê. Conversaram um pouco e ele cantou mais uma música ao violão, para agora, sim, se despedir de verdade dos brasileiros.

Cat Power invoca Bob Dylan em show histórico no C6 Fest

O que pouco pode ser discutido acerca das duas edições do C6 Fest é sua curadoria. Os organizadores, desde a primeira edição, mostram-se atentos aos artistas em ascensão no mundo da música, mas também procuram incluir em seus line-ups artistas já consagrados que ainda brilham intensamente. É nessa categoria que se encontra Cat Power. Pseudônimo de Charlyn Marie “Chan” Marshall, Cat Power é daquelas artistas queridinhas dos mais alternativos entusiastas de música; mas é preciso dizer que os méritos sempre estiveram explícitos em sua carreira invicta. Mantendo uma regularidade como poucos, mesmo sem fixar suas raízes no grande mainstream da música pop, a cantora, compositora e instrumentista, lançamento após lançamento, entrega o que seus fãs esperam. Desde sua passagem pelo Brasil, em 2022, no Popload, o que Cat fez foi prestar uma homenagem a um dos maiores artistas de todos os tempos (segundo seus números, premiações e, é claro, sua inquestionável influência na música): Bob Dylan. Essa homenagem veio em forma de um disco que reproduz a apresentação de Dylan em 1966, no Royal Albert Hall. Gravado no mesmo local, recriado com sua identidade, mas respeitando e invocando a força do Bardo, o passo seguinte desse tributo foi levar a turnê “Cat Power Sings Dylan” ao seu fiel público para além de Londres. Será que Cat Power consegue entusiasmar mesmo tocando apenas covers de canções reproduzidas ao vento com tanta frequência? A Tenda MetLife foi o local escolhido pelo C6 Fest para apresentar essa resposta. Antes mesmo de pisar no palco, a fiel multidão de fãs fez sua parte e se aglomerou rapidamente após o término do show da cantora pop Noah Cyrus. Quem saiu do seu lugar para tomar uma cerveja teve problemas para encontrar um espaço confortável para ver a apresentação. Assim entra Cat Power, como Bob em 66, começando com um set mais minimalista, com piano, violão e gaita para acompanhar sua voz, aqui propositalmente mais rouca que o normal para fazer jus ao homenageado. A resposta estava dada: o que se seguiu foi uma apresentação mágica, que ornou com um público preparado para a música de Power e Dylan e com o local, que possuía no meio do caminho uma árvore do parque Ibirapuera que, de alguma forma, combinou com a rusticidade do show. Encerrado o curto set “acústico”, o resto da banda entrou, plugando os instrumentos e aumentando o volume e a empolgação dos presentes. Os instrumentistas, alinhados em corpo e alma com o clima proposto, brilharam no mesmo nível que a vocalista, “sujando” o folk com blues e rock. O sorriso e as declarações de amor ao Brasil proferidas pela cantora foram meras consequências da reação que músicas como Like a Rolling Stone (com direito a coro da audiência) e One Too Many Mornings provocaram em quem estava ali. Naquele momento, os sentimentos já eram mútuos, e nem precisavam serem declarados: estava no ar, preenchido de música. Para o público desse C6 Fest, entre aqueles que (ainda) não tiveram o privilégio de assistir à Bob Dylan, ficou o privilégio de ter visto e ouvido, ao vivo, Cat Power.

Milky Chance esbanja carisma em show repleto de hits na Audio

Texto: Tassio Ricardo O Milky Chance retornou ao Brasil após seis anos de sua apresentação no Lollapalooza 2018, quando foi coadjuvante frente à um lineup grandioso. No fim de semana, a banda alemã passou por Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo. Na Audio, no domingo (19), foi headliner do evento que contou com a abertura do cantor e surfista americano Donavon Frankenreiter. Liderado pela dupla Clemens Rehbein e Philipp Dausch, o Milky Chance foi muito bem recebido com um público altamente fiel que encheu o local. Pontuais, os músicos abriram o show com Synchronize, hit da coletânea Trip Tape 2 (2022). Surpreso com o entusiasmo de seus fãs, Clemens Rehbein arriscou várias palavras em português, fugindo bastante do perfil mais reservado. “Muito brasileiro” e “que fofo” foram alguns dos comentários ouvidos no meio da plateia. Do lado da banda, mais comentários elogiosos: “best night on this planet”. >> Confira entrevista com o Milky Chance Foi visível a conexão e a dedicação de seus ouvintes que sabiam de cór todos os sons apresentados. A dupla cantou uma versão acústica da música Scarlet Paintings, além de um cover de Tainted Love. O último single, lançado em 2024, Reckless Child, também foi muito bem recebido pelos fãs. Aliás, o repertório foi muito bem equilibrado. Contemplou o que há de melhor em cada um dos discos de estúdio, com um destaque maior para Sadnecessary (2013), maior sucesso comercial, e Living in a Haze (2023), o disco mais recente dos alemães. Seguindo para o final do show, o vocalista abraçou a bandeira do Brasil e cantou um dos seus maiores sucessos, Stolen Dance. Após uma hora e meia de show, a banda se despediu curiosamente ao som da música brasileira Conselho, do grupo Samba de Raiz, esbanjando carisma até seu último minuto em cima do palco. Edit this setlist | More Milky Chance setlists

Squid faz show de gente grande e conquista público no C6 Fest

Os primeiros horários dos festivais brasileiros de música nem sempre são os mais celebrados. A maior parte do público ainda não chegou, outros tantos ainda se acomodam e reconhecem o território, explorando as tendas de alimentação e as ativações de marketing tradicionais desse tipo de evento. Mas, no segundo dia do C6 Fest, que rolou no Parque Ibirapuera, em São Paulo, a banda inglesa Squid minimizou todas essas questões e aproveitou o espaço para mostrar as vantagens de chegar cedo aos festivais de música. O quinteto foi escalado para abrir os trabalhos na Tenda Metlife. Após lançar, em 2023, seu segundo disco, O Monolith, que foi muito elogiado entre os mais aficionados por lançamentos contemporâneos — saindo, inclusive, em várias listas de melhores do ano —, a banda seguiu o protocolo e partiu em turnê para divulgar suas novas músicas. Já havia ali, na tenda, um público aguardando o início dos shows quando os cinco rapazes de Brighton entraram sob alguns aplausos e deram a ignição à música do dia. Desde a primeira execução, com Swing (in a Dream), os caras mostraram muita disposição e focaram em executar com muita segurança suas músicas, sem se importar muito com o tamanho do público ou mesmo se eles sabiam acompanhar as letras. Aos poucos, os desavisados que estavam passando por perto foram se aproximando, interessados no som tocado com maestria pelo Squid. Coisa de gente grande, apesar do pouco tempo de banda. No Squid, todos os seus integrantes tocam mais de um instrumento, às vezes ao mesmo tempo. O baterista/vocalista Ollie Judge toma a frente, mas sempre muito bem arranjado pelos instrumentos de apoio, que vão das guitarras ácidas até o trompete, que irrompe em muitos momentos dando toques “jazzísticos” ao pós-punk contemporâneo do grupo. Nota-se também que a banda não se apega à estética ou gêneros específicos, brincando com experimentalismo e dando acentos ou passagens inteiras que remetem ao indie rock ou à música ambiente. Foram apenas oito músicas que preencheram o desfile musical da banda. Parece pouco, mas a intensidade do som do Squid, as viagens instrumentais e a nítida empolgação dos membros para marcar território no Brasil fizeram com que a apresentação marcasse quem passou por ali. Certamente, muitos dos desavisados que foram ao C6 Fest e passavam naquele horário pela Tenda Metlife apenas para tomar uma cerveja ou encontrar amigos, também passaram a conhecer e admirar o incrível Squid, e fizeram com que os aplausos finais fossem maiores e mais intensos que os iniciais. Edit this setlist | More Squid setlists