Pavement faz possível despedida dos palcos com show histórico

Precisamos falar sobre o Pavement. A apresentação que rolou no último fim de semana, dentro do C6 Fest, foi mais do que um show qualquer; foi também uma celebração ao legado da banda e do rock alternativo dos anos 1990. Enquanto, no mundo do rock mainstream, grupos como Nirvana e Pearl Jam dominavam as rádios populares com seu grunge e gravavam hits que são lembrados até os dias de hoje, havia uma série de bandas correndo em uma cena alternativa, formando uma geração de fiéis seguidores que não puderam desfrutar dos benefícios que o sucesso no mainstream oferece. Além da banda liderada por Stephen Malkmus, seria correto citar Dinosaur Jr. e Built To Spill como membros dessa cena que não possuíam a mesma fartura de holofotes, produtos oficiais e canções tocadas em rádios populares. Mas essa mesma escassez criou uma aura de preciosidade que só deu mais força a essa sociedade do rock alternativo. E foram os membros dessa sociedade que predominaram na plateia do C6 Fest. A maior parte, já com mais de 35 anos, estava ali para, além do show, celebrar esse legado. E o Pavement sempre foi um ótimo representante de tudo o que essa cena representa. O grupo se destacou com suas letras inteligentes, pelas guitarras shoegaze e pelo lo-fi de seu som, gravando cinco discos em 35 anos. Parece pouco para tanta história, mas é uma evidência da intensidade que a música da banda causa. Depois de 15 anos da última apresentação no Brasil, a expectativa era grande e foi atendida com um show completo, passando por todas as fases da banda. Hits como Harness Your Hopes e Cut Your Hair (dedicada aos atingidos pela tragédia ambiental em Porto Alegre) foram entoados como hinos, com um público vibrante que cantarolava até os riffs memoráveis de guitarra. As mini jams que a banda proporciona em algumas canções abrem espaço para o talento de Malkmus em seu instrumento e Steve West na bateria, que parecia exausto ao final das 20 músicas executadas pela trupe. Um personagem importante de toda essa experiência que é um show do Pavement fica por conta do carismático Bob Nastanovich, que, quando não estava cantando e tocando sua percussão, estava dançando e interagindo com o público. Era mesmo uma festa, celebrando a música do Pavement e os fãs do rock alternativo dos anos 1990. Alguns desconfiam que esse pode ter sido não somente o último show em terras brasileiras, mas também o último show da história do Pavement. E se for assim, esse terá sido um fim digno e que representou bem todo o legado dessa geração de bandas.

Paris Texas, Noah Cyrus e Daniel Caesar empolgam no C6 Fest

O C6 Fest acertou em cheio nas escolhas. Mesmo que não fosse possível acompanhar todos os shows na íntegra, ainda dava para conferir um pouco de outras atrações. Paris Texas, Noah Cyrus e Daniel Caesar foram alguns que me chamaram a atenção no segundo dia. Paris Texas Paris Texas entrou ainda cedo no palco Heineken, para uma plateia ainda pequena. Mas se dedicaram muito, conversavam (em inglês) com o público, enfatizando como gostam do país. Acompanhados apenas de um DJ, sem banda, os dois nomes do Paris Texas, Louie Pastel e Felix, cantam um hip hop agressivo, por vezes com a intensidade de músicas de punk, mas que em momento algum soam diferente do hip hop. A pequena plateia comprou a apresentação e se divertiu, dançando e respondendo as interações que o grupo fazia. Talvez em um horário mais tarde ou um palco menor trouxessem ainda mais força pro show deles. Noah Cyrus Extremamente emocionada e grata pela recepção dos brasileiros, Noah Cyrus se dedicou muito em entregar um show a altura do carinho que recebeu. “Vocês foram gentis comigo desde o momento em que pisei fora do avião”, disse ela segurando a emoção. Apesar de tocar antes da Cat Power, seu show estava mais vazio, o que levanta a questão do público-alvo que o festival precisa investir. Vivendo sob a sombra da irmã famosa, com seu estilo mais pop rock, a música de Noah vai mais para o lado do pop country de seu pai, Billy Ray Cyrus. As músicas são radiofônicas e prontas para virarem hits. Difícil dizer se o sucesso da irmã da Noah ajuda ou atrapalha sua carreira. Será que sem propaganda gratuita que tem em seu nome sua música chegaria ao Brasil e além? O que pode fazer pra ter seu brilho próprio, Noah faz. Cantou, explorou todo palco, interagiu com os fãs e com sua banda e tentou deixar seu marca, ao menos para os que já acompanham seu trabalho. Daniel Caesar Um show de neo soul muito bem executado. Acompanhado de uma banda eficiente com baterista, guitarrista e baixista (que também tocou teclado), mas com vários momentos solo (voz e violão), Daniel Caesar entregou um soul por vezes suave, romântico, e que em outros momentos soou dançante. Canta com uma voz leve, sem muito enfeite, como um clássico cantor de soul. Lembra mais o estilo de seu contemporâneo Leon Brigdes. O público conhecia muitas de suas músicas e se emocionou com a carga sentimental que a música dele provoca. Chegou a fazer um cover solo de Sparks, do Coldplay, e mostrou que se não se render ao pop comum, pode se firmar mesmo como um grande nome do neo soul. Depois de se despedir da plateia no palco, os telões mostraram para o público Daniel se dirigindo ao camarim, ao vivo, e encontrando um casal com um bebê. Conversaram um pouco e ele cantou mais uma música ao violão, para agora, sim, se despedir de verdade dos brasileiros.