Hardcore Superstar supera problemas técnicos e entrega show de alto nível

Formada em 1997, em Gotemburgo, na Suécia, a banda Hardcore Superstar, enfim, fez a sua estreia em palcos brasileiros, após cancelamentos e adiamentos consecutivos. Foram três shows em três dias seguidos: Belo Horizonte, Curitiba e São Paulo. Na capital paulista, no sábado (18), o local escolhido foi o Carioca Club, que teve como abertura duas bandas brasileiras muito competentes, que ajudaram a elevar o nível do evento. Inluzt e Nite Stinger fizeram sets seguros e mostraram a força do hard rock brasileiro, mesmo com a casa ainda com pouco público, muito por conta do calor e do horário. Pontualmente às 19h30, os suecos subiram no palco e já vieram atacando com o seu mais recente single Abradakabra, que dá nome ao álbum lançado em 2022, que de pronto já foi muito bem recebida. Tudo corria muito bem, quando no final da terceira música, por algum problema técnico, o som do palco parou de funcionar. Ninguém entendeu nada do que acontecia e a banda parou de tocar. O vocalista Jocke Berg foi até o público e pediu silêncio para que ele pudesse ser ouvido, já que os microfones não estavam funcionando. Pediu desculpas e disse que o show retornaria assim que o problema fosse resolvido. Nesse meio tempo, os integrantes distribuíram água e cerveja para o público, em um gesto pacifico e apaziguador. Aproximadamente 15 minutos depois, o problema foi resolvido e a banda emendou uma sequência eletrizante de hits, com a barra de energia no máximo. Wild Boys, My Good Reputation e Liberation, do segundo álbum, Bad Sneakers and a Piña Colada, de 2000, fizeram o Carioca Club ferver de uma maneira impressionante. Na sequência, um momento mais intimista com uma versão guitarra e voz de Standin’ on the Verge e uma de Someone Special. A banda seguiu seu set com muita presença de palco e desfilando simpatia. Foi bonito ver a banda tão feliz quanto seus fãs, emendando um som atrás do outro até a chegada de Last Call for Alcohol, onde o vocalista distribuiu copos de bebida para diversos fãs que estavam mais próximos ao palco. No bis atacaram de We Don’t Celebrate Sundays, música que foi cantada por praticamente todo o público presente. O encerramento foi com outra porrada, You Can’t Kill My Rock n’ Roll. O que mais impressiona no show do Hardcore Superstar é como a banda soa muito mais coesa ao vivo do que nos seus últimos discos, fazendo uso apenas de uma guitarra, baixo e bateria. Detalhe importante foi que o baterista da banda não conseguiu vir para a turnê sul-americana e foi substituído pelo produtor do último disco dos caras, Johan Reiven. Um show muito divertido de uma banda que entregou tudo (e mais um pouco) do que se esperava e, nitidamente, aproveitou cada segundo da apresentação, para fidelizar ainda mais os seus fãs. Antes de ir embora, Jocke Berg voltou ao palco e distribuiu doses do seu uísque Jameson para todos os fãs, agradecendo mais uma vez pela noite.

The Aggrolites comanda noitada com dream team do ska nacional em SP

Feriado de 15 de novembro, temperaturas altíssimas beirando os 40 graus e o extremamente agradável Fabrique Clube, localizado na Barra Funda (região central de São Paulo), recebeu uma noite memorável de ska. A banda californiana The Aggrolites foi a atração principal. Abrindo a programação, o septeto Maga Rude, banda formada apenas por mulheres, executou um som competentíssimo, baseado na primeira onda jamaicana de ska. O som estava perfeito e o repertório escolhido com muito bom gosto, fez a alegria de quem chegou cedo. A promissora banda paulistana encerrou seu set executando You’re wondering now (composição de Clement Seymour “Coxsone” Dodd, regravada por diversos artistas como The Specials e Amy Winehouse) com muita autoridade. Quinze minutos para pegar fôlego, muita coisa boa rolando na excelente discotecagem do Thiago DJ, mas logo sobe ao palco o Marzela, os rude boys do ABC. Rocksteady e Ska, mesclados com maestria com aquele tempero punk rock, que eles fazem tão bem há quase dez anos. A Marzela convocou todo o público para dançar e não desistiu, até fazer todos os presentes chacoalharem seus esqueletos. Para isso atacaram com canções como Rude Girl, faixas do seu último EP, B-Side of Madness, além de clássicos como Police on my Back (The Equals) e Gangster (The Specials). Posteriormente veio a banda Explêndidos, direto de Belo Horizonte, com bastante brasilidade na sua fusão com ritmos jamaicanos e encontrando uma casa quase cheia. Fizeram bonito e mostraram bastante originalidade e energia. Destaque para as faixas Entre o Céu e o Inferno, Top Top (Os Mutantes) e a linda homenagem ao Clube da Esquina, com uma ótima versão de Paula e Bebeto (Milton Nascimento). Logo depois subiu ao palco a veterana Sapo Banjo. Com formação reformulada, a banda na ativa desde 1996 esbanjou competência, balanço e energia além do esperado. Conhecidos por seus shows cheios de animação, a banda agora conta com a extremamente carismática vocalista Natalia Zanellato. Destaque para a execução de Amor na Cidade, primeira faixa gravada com a nova formação. Já se passavam mais de três horas e meia de baile, mas ninguém parecia cansado, quando subiram ao palco os californianos do The Aggrolites. A banda chegou atacando de Funky Fire, ninguém mais conseguia ficar parado a partir daí. O Fabrique, que estava lotado, virou uma grande pista de dança para ninguém botar defeito. O Aggrolites não economizou nos hits, despejando pedradas como Countryman Fiddle, Free Time, Banana (The Pyramids), Don’t let me Down (The Beatles), aqui com participação de Supla. Essas e tantas outras canções serviram para compensar os fãs por mais de uma década de ausência em terras brasileiras. Destaque para o simpático baixista Jeff Roffredo, que se esforçou para conversar com o público em português durante toda a apresentação. Com um line up irrepreensível, performances de ótima qualidade e uma organização segura e profissional, esse provavelmente foi o melhor evento de ska de 2023.

Na melhor casa de shows de Santos, Ira! entrega show de alto nível

Se a praia foi a opção na tarde da véspera de feriado, cerca de 1,2 mil pessoas optaram pelo rock para fugir do calor na noite desta terça (14), em Santos. Melhor casa de shows da cidade atualmente, a Arena Club recebeu o Ira! para uma plateia que praticamente lotou o espaço: maior, por exemplo, do que a apresentação dos Titãs em novembro de 2022. Edgar Scandurra (guitarrista) e Nasi (vocalista), os remanescentes da formação clássica, mais Evaristo Pádua (baterista) e Johnny Boy (baixista), subiram ao palco pouco após a meia-noite de quarta e, durante cerca de 1h30, nos presentearam com um set list repleto de hits, canções históricas do grupo e algumas versões.  O som perfeito valorizou os riffs de Scandurra, dos guitarristas mais prolíficos do país – aliás, é abissal a diferença de estrutura para shows do Arena Club em relação ao centro de convenções da Ponta da Praia, onde o espectador precisa lidar com dezenas de pilastras e péssimo som. Ao menos foi assim nas vezes que estive lá, no Santos Rock Festival 2022 e no último show de Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá. Nessas ocasiões, pessoas deixaram as apresentações no meio, frustradas, guitarra, baixo e bateria pareciam zumbidos de liquidificador e mal ouvíamos o que saía da boca dos vocalistas.  Por outro lado, com o Ira! no Arena, houve a celebração da boa música ao vivo. Experiência essa reforçada por um público que pouco levantava os celulares. Talvez pela média etária acima dos 40 anos, de uma geração acostumada a ver shows para apreciar as canções ao invés de ficar de aparelho móvel em punho o tempo inteiro – algo detestável e que transforma a experiência musical em tortura nos tempos recentes.  Nasi e Edgar se revezaram nas falas entre as canções. Entre elas, o primeiro homenageou Chorão antes de Vida Passageira, cujos versos dizem: “E quando seus amigos te surpreendem. Deixando a vida de repenteE não se quer acreditar. Mas essa vida é passageira. Chorar eu sei que é besteira. Mas, meu amigo, não dá pra segurar”. O cantor, mais de uma vez, afirmou que Santos faz parte da história do Ira! E recordou quando tocaram na casa noturna Heavy Metal e no Clube Caiçara. Esses shows eram produzidos por Toninho Campos, o proprietário do Cine Roxy. Marcaram época e ajudaram as bandas do Rio e de São Paulo que davam seus primeiros passos musicais nos anos 1980. Não à toa, por gratidão, quando o Cine Roxy passou tempos difíceis durante a pandemia do coronavírus e quase fechou as portas, Nasi atendeu o meu pedido e gravou, prontamente, um vídeo sobre a importância do cinema para a cultura santista.  Os pontos altos da noite ficaram, obviamente, por conta dos hits Envelheço na Cidade, Núcleo Base (as duas últimas antes do bis), Tarde Vazia, Flores em Você, Gritos na Multidão, Dias de Luta, Eu Quero Sempre Mais (aquela com participação da Pitty no Acústico MTV).  Em Girassol, Edgar cantou a primeira parte. Faz sentido. A música, feita pelo compositor em homenagem a uma antiga namorada, já havia sido lançada pelo grupo sem fazer sucesso. Quando gravariam o Acústico MTV, o produtor Rick Bonadio sugeriu a canção para ser a música de trabalho. Acontece que a garota havia trocado Edgar por Nasi. O clima na banda não era dos melhores. E o “midas” do rock brasileiro preferia que Nasi a cantasse. Precisaram superar o climão. Nasi a gravou. Virou hit. O resto é história…

Gojira e Mastodon mostram sintonia com o público em espetáculo de tirar o fôlego em SP

Única e imperdível foram dois adjetivos certeiros para descrever a passagem da Mega-Monsters Tour – formada pela banda norte-americana Mastodon e a francesa Gojira – pelo Brasil nesta terça-feira (14), no Espaço Unimed, em São Paulo. Aliás, o público de 8 mil pessoas, quer estivesse presente para ver o Gojira ou Mastodon, aproveitou essa oportunidade e deu um show próprio, seja entoando praticamente o setlist inteiro a plenos pulmões, seja entrando em catarse nos mosh pits. Mastodon abriu o evento às 20h20 ao som da plateia bradando o nome da banda, que foi seguido pela faixa Pain With an Anchor, primeira de seu álbum mais recente Hushed and Grim (2021). Essa foi uma das poucas diferenças do setlist do show da semana passada na Cidade do México, que abriu com The Wolf Is Loose (single de Blood Mountain, 2006). Mas a escolha de Pain With an Anchor foi certeira e empolgou o público logo de cara, que foi à loucura com os solos de guitarra. A plateia voltou a bradar “Mastodon!” a plenos pulmões na introdução da segunda faixa, Crystal Skull. Fãs se espremiam uns entre os outros para a formação de um dos vários mosh pits que se sucederam, música após música, na apresentação do Mastodon, incluindo a canção seguinte, Megalodon, do álbum de sucesso Leviathan (2004).  Os gritos de apoio continuaram. A banda pouco precisou fazer para animar o público, que já sentia sua falta após nove anos sem uma apresentação no Brasil. “Isso é inaceitável”, declarou o baterista e um dos vocalistas, Brann Dailor, ao fim do show.  Dailor brilha tanto na bateria quanto nos vocais e no carisma, mas toda a banda merece méritos: a qualidade dos vocais e a performance instrumental parecem sair diretamente do álbum do estúdio e, ao mesmo tempo, soam orgânicos – uma combinação perfeita para uma performance impecável. E entre os responsáveis por tal performance está o brasileiro João Nogueira, tecladista da banda, que brincou: “brasileiro só se mete em rolê aleatório!” Seja pelo show envolvente, seja pelo amor mesmo, o público não esmaeceu por um segundo em sua própria performance. Cantaram junto em Divinations, foram embalados por Sultan’s Curse, mais um mosh pit na faixa seguinte, Bladecatcher, além de pulos e gritos em Black Tongue. Entoaram The Czar e iluminaram a pista do Espaço Unimed com a lanterna dos celulares. Praticamente dividiram os já vários vocais da banda em Halloween. A seguir no setlist, o sucesso High Road e a outra faixa do álbum mais recente, More Than I Could Chew. O bis contou com as canções Mother Puncher, Steambreather e, para fechar com chave de ouro, Blood and Thunder, um dos maiores sucessos da banda – a escolha perfeita para dar um último gás no encerramento do primeiro show.  Gojira para fechar a noite Talvez tão aguardada quanto – na fila de espera, era difícil dizer se haviam mais fãs trajados com camisetas do Gojira ou do Mastodon -, a banda francesa iniciou o set com uma contagem regressiva de 180 segundos e abriu com Born for One Thing, primeira faixa de seu álbum mais recente, Fortitude (2021). A energia do show anterior não se dissipou no público nesta canção, que entoou, em uníssono, We were born for one thing!. O setlist foi o mesmo do show da Cidade do México e bem parecido com o da última passagem da banda pelo Brasil, no Rock in Rio do ano passado, quando substituíram o Megadeth no lineup, mas agora com mais algumas músicas. Enquanto Mastodon trouxe um setlist mais variado, incluindo apenas duas faixas de seu álbum mais recente, o setlist do Gojira possuiu conhecidas do público desde From Mars To Sirius (2005) até agora, mas investiu mais em Fortitude (2021), com cinco canções no total.  Gojira foi bem mais interativo com o público ao longo do show, pedindo para fazer (ainda mais) barulho, o que foi atendido nas faixas Backbone e Stranded – a segunda, um dos maiores sucessos da banda, levou um belo coro da plateia, que mostrou conhecer bem a letra.  Flying Whales, do álbum From Mars To Sirius (2005), considerado por vários críticos o melhor da banda, foi um dos pontos altos da apresentação. A cada canção, a iluminação mudava de acordo com a paleta de cores do álbum. Durante esta, as luzes azuis, o canto da plateia e o som das baleias transmitiram a sensação do oceano – calmo a princípio, mas com águas que logo se tornaram cada vez mais agitadas com um dos maiores mosh pits da noite.  O show seguiu enérgico com The Cell e The Art of Dying. Na sequência, o solo de Mario Duplantier, considerado um dos melhores bateristas do mundo, exibiu seu estilo intenso (visto em todas as músicas) e hábil. O público seguiu o pedido quando o músico exibiu uma placa escrito para que gritassem “Mais alto, p*rra!”, em portugês, e foi recompensado com outra escrito, “Aí sim, car*lho!” A oitava canção foi Grind, e na sequência, uma breve fala do vocalista Joe Duplantier sobre como é difícil encontrar outro mundo que seja apropriado para a humanidade, e que “é melhor ficar por aqui”, que introduziu a faixa Another World. A letra fala, justamente, sobre a aflição do protagonista de encontrar outro mundo, pois crê que o fim do nosso já está próximo – em referência aos problemas climáticos sem precedentes na história da nossa sociedade, tema recorrente em suas composições e que é uma das maiores bandeiras do Gojira. O público cantou junto em Oroborus, faixa de abertura do álbum The way of all flesh (2008), e Silvera (Magma, 2016). Não houve tanta movimentação física do mesmo durante todo o setlist do Gojira como em Mastodon, ou seja, menos mosh pits – talvez pela menor intensidade de algumas canções -, mas os fãs mostraram que continuavam sim, bastante animados, com gritos de torcida “Olê, olê olê olá, Gojira!”, que renderam um agradecimento do vocalista. The Chant é o tipo de canção que foi feita para shows.

Jogos Mortais renova, mas hesita em sair da zona de conforto

Paulo José Ribeiro Em 2021, Espiral: O Legado de Jogos Mortais tentou reinventar a franquia de Jigsaw sem Jigsaw. Foi o primeiro filme a não contar com o protagonista da série, além de ser dono do maior orçamento de toda a saga, com US$ 20 milhões. A aposta, no entanto, não correspondeu, registrando a sua pior bilheteria e maior fracasso comercial, com apenas US$ 40,6 milhões. Dois anos depois, Jogos Mortais ainda sente a necessidade de mudar para atrair novos públicos às salas de cinema, mas faz isso de forma muito mais pragmática. O lançamento traz de volta o seu protagonista, John Kramer, interpretado por Tobin Bell, numa história que se passa entre os dois primeiros filmes da franquia, o que abre espaço para mais referências nostálgicas e rostos conhecidos pelos fãs – entre eles o da aprendiz de Kramer, Amanda Young, a “Porca”, vivida por Shawnee Smith. À procura de uma cura para o câncer de cérebro terminal, Kramer viaja para o México onde encontrou um tratamento “milagroso”, mas descobre ser alvo de um esquema milionário que se aproveita de pacientes com doenças terminais. O terreno está pronto para o retorno de Jigsaw, desta vez movido por uma vingança pessoal. A obra se aproveita da contestação moral, presente desde o primeiro Jogos Mortais, do seu vilão/protagonista para inseri-lo de vez como um personagem principal, sem deixar que o espectador acompanhe as vítimas e descubra o motivo delas serem sequestradas para o jogo por esse ponto de vista, mas colocando a história na perspectiva do seu “assassino”. Isso conversa com a tendência do anti-herói contemporâneo, solidificada no cinema e TV, que se encaixa perfeitamente não só à série como a todo o subgênero do torture porn, dotado de um niilismo que discute a subjetividade das relações humanas através da violência e gore extremos. Aqui, a sensação de expurgo é predominante nas mortes, colocando-as sob uma visão mais justiceira do que agonizante, por conta do punitivismo que toma grande parte das cenas mais sangrentas (acenando para o julgamento de normas sociais do slasher dos anos oitenta). Esse aspecto confronta a visão do próprio Kramer, que ao se preocupar em ser justo nos jogos, cria um personagem com caráter piedoso, ainda que psicótico, e gera um conflito crucial para esse novo formato narrativo, que o vê como a verdadeira vítima. É curioso que o filme deixe subentendido, na cena em que decide deixar suas armadilhas de lado ao pensar estar curado de seu câncer, que elas ainda eram vistas pelo personagem como um ato de sadismo, o que acrescenta elementos à ambiguidade proposta e enriquece a história. A conciliação para chamar novos fãs e agradar os antigos também passa por retomar características da linguagem dos clássicos da franquia. Existem muitas referências visuais aqui, desde uma montagem dinâmica, até a aceleração no tempo de imagens que constroem espécies de jump cuts em alguns planos e a iluminação mais esverdeada que em determinados momentos figurou na fotografia e design de produção “sujos” dos filmes dos anos 2000 e está no subconsciente do público que acompanha as armadilhas de Jigsaw há quase 20 anos. A própria divulgação do longa remete aos primeiros lançamentos, com um pôster que segue o mesmo estilo ao brincar com uma das armas dos jogos e formar o número correspondente ao título. O retorno do diretor Kevin Greutert, de Jogos Mortais 6 e Jogos Mortais 3D, últimos filmes no formato mais familiar, também são parte importante do objetivo do projeto, já que ambos possuem mortes das mais memoráveis e gráficas. Em um espaço como o torture porn, onde tudo aparentemente é muito superficial e tem dificuldades para lidar com um desenvolvimento mais dramático de seus personagens, pareceria improvável que uma obra desse estilo desse certo em um momento em que o terror ganha notoriedade por ser mais psicológico e sugestivo. Até os filmes com horror mais frontal, que mostram mais e escondem menos, tendem a estar revestidos de uma ironia cômica, fruto de um espectador cínico em relação a esse tipo de cinema. Entendendo esses riscos, Jogos Mortais procura mediar dois mundos diferentes para se reerguer e dar sangue novo à franquia. O resultado é positivo, até certo ponto, com um estudo de personagem que acontece ao subverter a estrutura narrativa da série, sem comprometer as características que a fizeram ser o que é. Existe um limite para a suposta ousadia de todo o conceito, mas dentro do contexto mainstream em que está inserido e de toda a covardia após um fracasso monumental, as novas ideias são bem dosadas. O retorno já é realidade. Com um orçamento de US$ 13 milhões, Jogos Mortais X alcançou a maior bilheteria no primeiro final de semana da história da franquia, inaugurada em 2004, com mais de US$ 18 milhões. Atualmente, já foram somados US$ 43,8 milhões mundialmente. Grande parte do sucesso se dá graças ao apelo referencial preguiçoso que o cinema de horror tem investido com seus reboots, mas o novo olhar sobre John Kramer e seu propósito de vida ainda é proveitoso dentro de todas as suas margens.