Entrevista | Matisyahu – “Fizemos um ótimo álbum, eu acho, e dois bebês”

O cantor nova-iorquino Matisyahu lançou, recentemente, o sétimo e homônimo álbum de estúdio. O disco traz muito da constante evolução sonora de Matisyahu, que quase nada lembra o do início da carreira, quando estourou com os singles King Without a Crown e Youth. Repleto de influências musicais novas e alimentado por uma redefinição dos próprios limites artísticos, Matisyahu fez do disco o retrato de um criador que está eternamente em busca de si mesmo e extrai inspirações de suas raízes, de sua adolescência, fama, busca espiritual, transformações e, ao mesmo tempo, de sua família. Matisyahu conversou com o Blog n’ Roll sobre a nova fase da carreira, pandemia, filhos, Brasil e o atual momento político dos EUA. Confira abaixo. Como foi o processo de criação do novo álbum? Foi incrível, eu passei anos gravando com diferentes pessoas, o que também é um processo divertido, mas quando se acha o som certo, o momento certo, em que se sente autêntico, e correto, e as pessoas com quem trabalha são incríveis, e isso tudo em um contexto de covid, estando em casa, se criou um ambiente para a criação de um lindo álbum. O quão impactou a pandemia nesse processo do álbum Matisyahu? Me impactou com certeza, no sentido de que passei muito tempo fazendo turnês e trabalhando duro para estar na estrada. E essa foi a primeira vez que tive a oportunidade de passar um tempo em casa, em 15 ou 20 anos. A minha sorte foi que conheci minha alma gêmea, minha esposa, um pouco antes da pandemia. Nós estamos vivendo juntos, e temos feito turnês juntos há alguns anos, e tivemos esse tempo para apenas ficar em casa. Então tentamos aproveitar o máximo, fizemos um ótimo álbum, eu acho, e dois bebês. A paternidade influenciou nesse trabalho? Você se sentiu impactado na hora de compor e gravar? Completamente, pessoas já me perguntaram isso antes, pois eu tenho um filho de 17 anos, me tornei pai já faz um tempo. Mas esse álbum me deu a oportunidade, como disse, devido ao covid, de estar em casa e de estar por dentro, verdadeiramente, do dia a dia dos meus filhos mais velhos e mais novos, e também da minha esposa. Também posso dizer que houve um impacto nas letras e na vibe. Foram cinco anos sem um álbum novo. A pandemia contribuiu para essa demora? Não sei se tem muito a ver com o covid, na verdade. Acho que é mais eu querendo lançar a coisa certa. É fácil lançar música, é fácil escrever alguns versos sobre uma batida e soltar. Não sei mais por quanto tempo veremos álbuns grandes sendo lançados, e com esse álbum quis fazer o todo, o álbum completo, e isso afetou com certeza. Como surgiu essa parceria com o duo Salt Cathedral, formado por Juliana Ronderos e Nicolas Losada, que produziu o seu novo álbum? A parceria começou em 2016, nos encontramos online, trabalhando em algumas músicas que lancei antes. Então quando o covid veio estava tentando ver com quem poderia trabalhar e estava vendo entre os diferentes produtores com quem trabalhei, quem eu poderia ligar, quem viria até em casa, e foram eles quem liguei. Aliás, desde o primeiro minuto que começamos a trabalhar, ficou claro que nossos gostos musicais estavam alinhados. E quando se trabalha com produtores, você quer alguém que tenha essa compatibilidade contigo, não quer ter que explicar determinadas coisas. Em Mama Please Don’t Worry, você convocou Michael Garcia para a direção, que tem várias produções marcantes no currículo. Sim, queria para esse clipe o mesmo diretor com quem trabalhei no vídeo de Sunshine, então trabalhamos com sua produtora, mas com um novo diretor. E quando estávamos escrevendo o roteiro, pensei em fazer algo autobiográfico, pois tudo é sobre música. Mas quando você requisita roteiros a diretores muitas vezes retornam ideias que não se relacionam com a sua história, e a música e o álbum são coisas muito autobiográficas. Queria ter algum impacto nisso, então escrevemos um roteiro que era mais sobre a minha experiência, não exatamente ela, mas um pouco dela. Suas canções funcionam como terapia? Sobre o que procurou cantar no novo álbum? Sim, de alguma forma. Às vezes decido por uma direção ou outra, ou expresso algo da minha vida que é mais obscuro, mais doloroso. Mas com esse álbum consegui expressar um verdadeiro prazer, o tempo com a minha familia, tempo em casa, a minha habilidade de processar alguma das experiências que tive ao longo disso. Tive um pouco de espaço para respirar, escrever, criar, me apaixonar, casar, todas essas coisas que criam um sentimento como se eu não pudesse nunca mais me aborrecer. A música é inspirada por reggae, inspirada na música que me trouxe até aqui, e há abertura para letras, para a composição emergir, e é o que as pessoas estão procurando, letras, uma ideia, que as permitirá seguir em frente, e eu acho que alcancei isso. Am_rica traz uma reflexão sobre o atual momento dos EUA, mas de forma bem particular. Queria que você falasse mais sobre essa música. Acho que quando se trata de política, principalmente nos EUA, o importante para mim não é tomar lado, mas colocar minha reação emocional sobre o que está acontecendo ao meu redor. Em resumo, isso será associado a uma ideia, e as ideias são ideias que aprendi ao longo da minha vida, e passei um grande tempo estudando ideias judaicas. Uma das ideias que me lembro aparecendo era esta chamada Am_rica, que significa nação vazia, o que desperta diversas interpretações, mas levando a minha interpretação, acredito que estou vivendo em um país onde há tantas versões do que está acontecendo, diferentes experiências para diferentes pessoas. Então tudo que posso escrever é sobre minha experiência, e minha ideia para Am_rica não é dizer que os EUA é uma nação vazia, como estou dizendo, há um aspecto disso que é existente no nosso país. Um país que é baseado em liberdade, liberdade de religião, mas ao mesmo
Entrevista | Spoon – “A pandemia me fez confrontar questões sombrias”

Veterana do rock alternativo dos EUA, a banda Spoon lançou recentemente o seu décimo álbum de estúdio, Lucifer On The Sofa. O disco é o primeiro desde Hot Thoughts, de 2017. Com gravações no Texas e Califórnia, Lucifer On The Sofa traz nove faixas autorais e uma releitura de Held, do Smog, que abre o álbum. Um dos membros originais do Spoon, ao lado do vocalista e guitarrista Britt Daniel, o baterista Jim Eno conversou com o Blog n’ Roll sobre o novo álbum, lembranças do Brasil, pandemia e influências na carreira. Como surgiu o título deste álbum? Qual foi a inspiração para este nome curioso? Britt escreveu a música e decidimos dar esse nome ao álbum. Não é como se eu e ele falássemos muito sobre os significados por trás das coisas. Para mim, é como se a pandemia me fez confrontar questões sombrias como mais importantes ou que vieram à tona. Sou um workaholic, consigo sempre me distrair e não ter que lidar com essas coisas, mas não tem para onde correr quando você está nesse lockdown há dois anos. Você meio que tem que olhar o que está escondido. Olho para isso como algo que você vai ter que lidar em algum momento e ele está lá sentado no sofá, te observando. Como foi o processo de gravação do álbum? Teve alguma dificuldade por causa da pandemia? Precisou adaptar algo? Sim, foi bem no meio da nossa gravação. Nós tivemos que fazer várias mudanças no cronograma. Nós tínhamos talvez três quartos do álbum finalizados, estávamos muito perto de terminar e prontos para mixar e então veio a pandemia. O que aconteceu foi que nós não conseguimos mais nos encontrar, obviamente porque era uma sala pequena e essa é uma doença transmitida pelo ar, não era seguro ficarmos juntos. Então o Britt usou seu tempo para escrever mais músicas. Então tem músicas como, obviamente, Lucifer on The Sofa, acho que Wild e Devil and Mr. Jones que não estariam no disco, sabe? Mas acho que tiveram duas vezes em que todos voariam para Austin (Texas) e tivemos que cancelar porque os números (da covid) estavam tão altos. Tivemos que pensar muito rápido, cortando coisas no último momento… Felizmente, Britt estava em Austin e ele aparecia e fazíamos algumas coisas, mas a pandemia nos afetou muito. No entanto, nós conseguimos superar! O Spoon carrega uma forte influência do rock clássico e do art rock em seus trabalhos. É algo que predomina em suas influências? Você consegue pensar em alguma influência de sua terra natal também (Texas)? Sim, eu sinto que esse disco teve muita influência do rock clássico, do começo do ZZ Top, Cheap Trick, John Lennon, Plastic Ono Band… o som de um bando de caras apenas tocando em uma sala. Esses são os discos que amamos, que crescemos ouvindo. Para nós esse é o disco que mais tentamos chegar próximo disso. Como é sua expectativa de viajar e divulgar Lucifer on the Sofa em outros países? O que significa para você fazer uma turnê com o Spoon? Nós adoramos ir para o Brasil… Nós queremos tocar para todos, sabe? E o público brasileiro é incrível, nós não vemos a hora de ir para o Brasil. Você tem alguma previsão do Spoon vir para o Brasil? Um mês ou ano? Nós definitivamente não temos um mês. Vocês terão Lollapalooza no mês que vem. Será que vai ter ou não? Tem muita incerteza ainda e acho que não conseguimos planejar se vocês ainda não sabem se os shows irão acontecer ou não, entende? Talvez no final do ano. Se tivermos o ok e estiver tudo bem, nós podemos ir e fazer funcionar. Você se lembra de alguma história curiosa da passagem de vocês pelo Brasil, em 2018? Eu lembro de uma história, mas não é muito engraçada. Nosso último show foi em São Paulo e nós terminamos muito cedo, então eu e o Gerardo, guitarrista, pensamos, vamos mudar nossos voos e voar essa noite. Então trocamos os voos, entramos na van para o aeroporto e colocamos no Google e apareceu que iríamos demorar quatro horas para fazer 24Km… Isso não pode ser verdade, eu pensei. Nós ficamos sentados na van por 4 horas, perdemos nosso voo e tivemos que ficar em um hotel de merda. E acabamos pegando exatamente o mesmo voo que iríamos pegar no dia seguinte, que havíamos cancelado. O tráfego nos ferrou (risos). Chegou a assistir algum show no momento que as regras ficaram mais brandas? Teve uma janela no ano passado, quando as pessoas começaram a se vacinar e antes da chegada da Ômicron, foram os nossos “Loucos Anos 20”, aquele período entre a Primeira e Segunda Guerra Mundial, quando todos estavam dançando, muito felizes. Em resumo, acho que essa pequena janela foi como yeah, legal… nós fizemos alguns shows, foi muito legal, todos estavam curtindo… até que veio a Ômicron e tudo voltou a fechar. Consegui ver alguns shows nesse período. Você se sente seguro para viajar com seus colegas de banda? Acho que sim… nós vamos fazer tudo que for possível na tour para tentar minimizar e não ficarmos doentes. Porque se um de nós testar positivo, temos que encerrar tudo. Então agora nós estamos comendo todos juntos, nós não permitimos ninguém nos bastidores, estamos fechando tudo para tentar ser mais seguro. É um novo modelo de fazer tour, todos estão fazendo. Não levamos a família, somos só nós mesmos. A primeira música de um álbum costuma ser o cartão de visitas de muitos artistas. O que motivou a escolher um cover do Smog (banda) para abrir? O que procuramos em uma música de abertura é aquela que vai estabelecer um tom para o álbum. Então sentimos que aquela definitivamente conseguiu isso. Tem muita conversa de estúdio antes da música começar, o que é legal e divertido. É como se te desse a sensação que estávamos na mesma sala quando gravamos, o que foi mesmo… mas também é um ritmo mais lento
Entrevista | alt-J – “Se as pessoas ouvirem 30 segundos no TikTok, talvez queiram ouvir um álbum inteiro depois”

Gus Unger-Hamilton, guitarrista da alt-J, conversou com o Blog n’ Roll, via Zoom, sobre o novo trabalho e adiantou o que os fãs podem esperar do sucessor de Relaxer (2017). Confira abaixo.
Entrevista | Alice Merton – “Aprendi com a música a não me pressionar tanto”

O início da carreira da cantora alemã Alice Merton foi arrasador. Em pouco mais de cinco anos de estrada, ela já acumula mais de 650 milhões de streams, um mega hit, além de uma temporada vitoriosa como treinador na edição alemã do The Voice. No entanto, a autora de No Roots não vai parar aí. Quase três após seu disco de estreia, Mint, Alice Merton já prepara o sucessor, ainda sem nome, mas com três singles incríveis: Vertigo, Hero e Island. Em entrevista ao Blog n’ Roll, via Zoom, Alice Merton revelou que não se sente pressionada para lançar algo tão estrondoso como o seu primeiro álbum. “Só quero conectar pessoas e sentimentos”, resume. Confira abaixo a nossa entrevista com Alice Merton. Vertigo, Hero e Island são ótimas amostras de sua nova fase. Elas compõem um álbum cheio? Sim, elas são parte de um álbum que está chegando. Não posso dizer exatamente quando esse álbum chega, mas deve vir no começo de 2022. E os fãs podem esperar várias partes diferentes de mim. Decidi que gostaria de trabalhar com vários produtores nesse álbum, então sinto que ele consegue ser colorido e obscuro. Não posso dizer que é só um álbum divertido, porque todos nós passamos por momentos muito complicados nos últimos anos, então isso acabou refletido no álbum. Hero parece autobiográfica. Ela tem a ver com sua jornada nos últimos meses? Absolutamente. Tudo que você ouvir ou sentir desse álbum vem de alguma parte de mim, porque fui a única que escreveu as letras. Todas as músicas representam algum sentimento que tive neste ano ou no ano passado. E foi uma jornada interessante fazer isso. A pandemia atrapalhou de alguma forma a gravação do álbum? Na verdade, no começo de 2020 eu queria ir para os EUA para trabalhar com esses produtores, porque moro na Europa, e todos estavam lá. Mas a covid chegou e mudou todos os meus planos. Então, encontrei produtores em Berlim que já tinham trabalhado comigo. E foi ótimo trabalhar com eles. Me diverti muito. O que você trouxe de inspiração para essa sonoridade tão distinta entre seus singles? Ouço muita música, para ser honesta. Mas, na realidade, tento me deixar inspirar pela visão dos produtores e pelo que sinto no momento também. Todo sentimento que tenho, tento colocar em palavras ou em música. E dependendo do sentimento, é assim que a música vai sair. Então, acho que vai muito da mágica do momento. Deixo o sentimento me levar. Como está sua expectativa para a volta aos palcos? Vertigo tem tudo para ser muito grandiosa nos shows. Nós já temos alguns shows na Alemanha neste ano. E sobre Vertigo, não sabia onde colocá-la no começo, porque é uma música vocalmente muito difícil de se cantar. Quando a canto, minha garganta fica um pouco cansada. Por isso pensei em colocá-la no meio do show. Sabe aquele momento que a empolgação diminui um pouco e até os fãs podem respirar um pouco? É antes desse momento que Vertigo vai entrar. Vertigo também chegou com uma produção audiovisual incrível. Queria que você falasse um pouco como foi essa gravação. O vídeo foi muito divertido de se fazer. Fiz com uma diretora que já conhecia e amava o estilo. Só expliquei o que queria e como me sentia, e ela trouxe ótimas ideias. Foi muito divertido e confortável trabalhar com ela. E tivemos um vídeo bem legal como resultado. Island veio como b-side de Hero. Apesar da sonoridade distinta, você acredita que elas conversam entre si? Acho que de vez em quando é legal quebrar essa estrutura de ter um single e pronto. As duas músicas significam muito para mim de formas bastante diferentes. Por isso o conceito de b-side. São músicas bem diferentes, mas que pertencem uma a outra. Mint, seu primeiro álbum de estúdio, foi um sucesso imenso. Você se sente pressionada para manter o sucesso comercial? Estou indo com o flow. Se tem uma coisa que aprendi com a música é não se pressionar tanto. Você pode contratar os melhores produtores do mundo, mas não é isso que vim para fazer. Não penso em fazer o melhor álbum do mundo, mas penso em fazer o melhor álbum para mim, o mais honesto. E é assim que gosto de fazer música. Minha intenção é fazer com que as pessoas criem alguma relação com as canções, que elas sintam um pouco do que me inspirou em cada uma. Tentei me distanciar daquele ‘você tem que ser a melhor e tem que ser única’. O primeiro álbum saiu só com as coisas que vieram de mim, então busquei produtores diferentes para explorar coisas que poderiam surgir de diferente e trazer naturalmente a inspiração. É isso que tenho feito. Só quero que as pessoas entendam e curtam o álbum. Nunca foi meu objetivo ter o melhor álbum do mundo, só quero conectar pessoas e sentimentos. No Roots foi o single responsável pelo sucesso de Mint. Como é a sua relação com a música? Está cansada de cantar nos shows? Tenho uma relação muito boa com as minhas músicas, especialmente com No Roots, porque essa música foi um ‘chute na porta’. Me abriu muitas portas e me ajudou a tocar nos mais diferentes lugares. Aliás, me dói muito não ter conseguido ir ao Brasil ainda, porque sei que a música foi grande aí, e nunca tive a chance de tocá-la para o público por aí. É surreal, porque eu adoraria estar no Brasil e ouvir minha música na rádio. Espero ir em 2022 ou 2023. Sou muito grata por essa música. Música é minha paixão, e espero poder tocar cada vez mais e compor cada vez mais para que as pessoas possam se relacionar de alguma forma. Você nasceu na Alemanha, tem nacionalidade canadense e inglesa, além de ter morado em vários lugares. Isso de alguma forma impacta no seu trabalho? Acho que me deixou mais aberta a conhecer e conversar com pessoas novas. Tenho morais fortes e uma ideia de
Entrevista | Tom Morello – “nunca mais toco uma nota musical que não acredito”

Tom Morello está de volta! Nesta sexta-feira (15), o lendário guitarrista lançou o álbum solo, The Atlas Underground Fire. Aliás, o sucessor de The Atlas Underground (2018) conta com um time de peso entre os convidados: Bruce Springsteen, Eddie Vedder, Chris Stapleton, Mike Posner e Damian Marley. Cofundador do Rage Against The Machine, Audioslave e Prophets of Rage, além de graduado em Ciência Política na Universidade Harvard, Tom Morello reuniu Springsteen e Vedder para uma releitura do hino do AC/DC, Highway to Hell. “Nossa versão de Highway To Hell é uma homenagem ao AC/DC, mas com Bruce Springsteen e Eddie Vedder, traz essa lendária música para o futuro. Uma das maiores músicas de rock’n’roll de todos os tempos, cantada por dois dos maiores cantores de rock n’ roll de todos os tempos. E então eu solto um solo de guitarra louco. Obrigado e boa noite”, disse Morello. Tom Morello conversou com a imprensa recentemente e falou mais sobre o novo álbum, planos, política, entre outros assuntos. O Blog n’ Roll participou desse papo e traz alguns dos destaques da conversa. Processo de gravação Este foi um álbum feito no pico da pandemia. É um álbum da praga, realmente. Do tempo que eu tinha 17 anos até março de 2020, vinha escrevendo, gravando e fazendo shows constantemente. E então foi uma abstinência para mim. Eu tenho o meu próprio estúdio como você pode ver, mas não sei como ele funciona. Eles só deixam eu mexer no volume agora. Mas mesmo isso muito raramente. Então em um momento estava olhando e não fazendo música em um futuro próximo. E a inspiração veio de um lugar estranho. Estava lendo uma entrevista do Kanye West, na qual ele disse que estava gravando os vocais para o álbum dele pelo Voice Memo (app do iPhone). Gravei licks de guitarra no meu iPhone e enviei para os engenheiros e produtores. Então, esse álbum se tornou não tanto como “eu vou fazer um disco”, mas foi mesmo uma salvação durante esses dias de ansiedade, depressão e medo. Pensava em como manter a minha avó viva, tentando não deixar as crianças enloquecidas. Foi uma maneira de fugir entre 30 a 45 minutos por dia para ser uma pessoa criativa e, em seguida, perdido quase como uma roleta russa… Eu vinha com alguns riffs e gravava no meu celular. Logo depois, pensava com quem eu poderia fazer uma música, quem poderia ser perfeito para esse disco, com quem seria divertido colaborar comigo… Ou quem iria me jogar para cima e fazer o dia parecer menos desesperador. E essa foi a gênese do álbum The Atlas Underground Fire. Parceria com Chris Stapleton em The War Inside Eu conheci o Chris Stapleton no tributo ao Chris Cornell alguns anos atrás. Ele é uma pessoa adorável e nós trocamos números, e eu queria trabalhar com ele. Queria ver onde isso iria dar. De fato, ele foi um dos primeiros colaboradores que trabalhei neste disco. Nós fizemos uma ligação pelo Zoom com a guitarra nas mãos. A intenção era escrever uma música, mas nós não escrevemos uma música. Ao invés disso, nós desabafamos sobre como eram os dias tentando não enlouquecer, tentando lembrar como era ser um músico e como nossas famílias estavam, o estresse de ser pai, filho, marido etc… Às vezes era como uma sessão de terapia de duas horas, antes mesmo de tocar uma nota da guitarra. E esse bate-papo virou a temática de fundo da música War Inside. Então, mesmo antes de partilhar acordes, licks (frases de guitarra) e outras coisas… nas entrelinhas, o que nós estávamos conversando durante horas virou a base da música. Let’s Get The Party Started, com Bring Me The Horizon Um dos meus fortes é que realmente amo coerência. Não me importa se é um jogo de futebol de crianças ou um álbum com diversos artistas. Olive (vocal do Bring Me The Horizon) está no Brasil, Jordan (guitarrista do BMTH) está no Reino Unido e eu aqui. É um amigo por correspondência do rock. Amigos por correspondência de três países. É um disco solo sob uma visão de arte onde escolhi os colaboradores. Os colaboradores têm a minha guitarra como voz-guia para cada faixa. Mas também é um disco colaborativo. Cada uma das canções depende exclusivamente da química entre eu e o artista com o qual estou colaborando. Em resumo, não é algo ditatorial. É sobre deixar levar esse tipo de personalidade que devo ter muita e fazer uma imersão minha em qualquer situação que surgir. O que me fez chegar no Bring me the Horizon, por exemplo. Eu tinha um monte de riffs que mandei para eles. Eles tinham ideias firmes sobre a estrutura da música… Nós conversamos sobre qual tipo de solo de guitarra deveria ter… Dei vários exemplos. Trocando ideias que iam e voltavam. E permitindo que esse processo tomasse seu curso, que cada canção tivesse liberdade de se tornar o que ela viria a ser. Enquanto ao mesmo tempo, no geral, manter a missão de ser um disco do Tom Morello. Descoberta de novos artistas Alguns dos artistas deste disco são amigos antigos, como Bruce Springsteen e Eddie Vedder. Trabalhei com o Phantogram antes, o Dennis do Refused é um camarada. Mas tinham dias que eu vinha aqui e gravava no meu iPhone alguns licks de guitarra e pensava: Com quem quero fazer um som hoje? Ligo para um amigo que tem um gosto musical mais legal que o meu e pergunto qual foi a última melhor música que ele escutou de um artista que nunca ouvi falar? Foi assim que descobri Phem, sabe? E eu pensei, ela é fantástica. Entrei em contato com ela. Não penso que ela já tivesse nascido quando saiu o último álbum do Rage Against The Machine… e eu apenas falei, o que você acha? Eu sou o Tom Morello, não sei se você já ouviu falar de mim, mas você quer fazer uma música? E ela, sim, claro! Sama’ Abdulhadi é uma jovem
Elevarte Music: Com reggae e rap, Fraterna Trip e Maracatech criticam negacionismo em novo single “Tá Quente”

Durante a pandemia, muitas pessoas perderam entes queridos. E é fato que o número de mortes está estritamente ligado ao negacionismo e à forma como o governo brasileiro tem lidado com a saúde pública. Todo esse contexto é fonte de inspiração para a banda Fraterna Trip no single Tá Quente. A música tem participação do Maracatech e conta com a produção de Jean Dolabella. Para conceber a canção, o grupo reuniu elementos de reggae, música pop e hip hop, remetendo-se à sonoridade de nomes como Sticky Fingers, Marcelo D2, Lagum, Daparte e Chico Science & Nação Zumbi. O videoclipe, por sua vez, tem direção de Rafael Monteiro e Vitor Hugo Sales. O lançamento chega às plataformas de streaming através do selo Elevarte Music. O vocalista da Fraterna Trip, Rafael Monteiro, aponta o significado do título da música. “O nome ‘Tá Quente’ representa tanto a mensagem expressa no refrão, de que o que realmente importa é o calor dentro de nós mesmos, ressaltando a nossa união, quanto a mensagem do verso, que frisa que o Brasil enfrenta um momento tenso e conturbado”, frisou. A Fraterna Trip está em atividade desde 2019. O grupo ainda é formado pelos músicos Leonardo Kapáz (guitarra), Bruno Jelen (baixo) e Matheus Sawaya (bateria). Anteriormente em 2020, a banda lançou o EP Te Encontro Na Saída.
Entrevista | Hollow Coves: “As pessoas perceberam o quanto são abençoadas com o que tínhamos”

A dupla de indie folk australiana Hollow Coves sempre explora uma temática mais bucólica e minimalista em seus projetos. Foi assim com o primeiro EP, Wanderlust (2017), o álbum Moments (2019) e o último EP, Blessings, lançado em junho. As capas trazem lindas imagens de vilarejos, enquanto as canções do Hollow Coves parecem extraídas de filmes mais introspectivos. Apesar dessa personalidade mais tranquila, Ryan Henderson e Matt Carins querem conhecer o “público maluco e apaixonado do Brasil”. Em entrevista ao Blog n’ Roll, o Hollow Coves falou sobre o processo de criação de Blessings, o impacto das suas canções no público, entre outros assuntos. Confira abaixo. Como foi preparar um estúdio caseiro para dar vida ao EP Blessings? Matt: Uma grande tarefa, tínhamos que fazer, pois íamos fazer uma tour pelo mundo. Eu era carpinteiro e o Ryan engenheiro, e fazíamos musica. Por que não juntar estas habilidades para fazer um pequeno estúdio, um local bem simples? Não sabíamos como produzir música, mas já estivemos em estúdios, trabalhando com produtores, pegamos dicas. Gravar músicas é um longo processo, estamos muito orgulhosos, talvez não seja tão bom como se fosse num estúdio mais profissional, mas aprendemos e ficamos felizes. O período de isolamento social rendeu muita inspiração para vocês, vide esse trabalho. Como foi o processo de criação dele? Ryan: Eu estava morando sozinho e nós decidimos trabalhar juntos com um pessoal muito criativo. Fizemos muitas músicas com esse grupo. E procuramos uma músicas que havíamos escrito em Berlim há cerca de dois anos atrás. Hello foi uma das primeiras músicas que o Matt escreveu. Ele reescreveu os versos durante o lockdown para refletir o sentimento de estar preso dentro de si. Tínhamos uma nuvem de armazenamento, Matt escreveu uma música e deletou, mas consegui resgatar, gostei muito e aproveitamos. Matt: É uma música que escrevi quando minha irmã casou. Eu decidi lançar como single. Depois vem Blessings, faixa-título do EP. Teve um impacto positivo no publico. Apresentamos a música em diferentes formas, lives e EPs. A música e o tema são fortes, por isso é a musica-título. As canções passam uma mensagem para quem está enfrentando esse momento complicado ou é algo mais a ver com temas que vocês já pensavam antes? Ryan: Sabemos que muitas pessoas estão passando por momentos difíceis, e no passado recebemos mensagens que nossa música ajudou pessoas. Queremos usar essa plataforma para levantar as pessoas, e ajudá-las a ver a beleza da vida, como na letra de Blessings, mostrando às pessoas que há muito o que agradecer da vida. Se você tirar um momento e sair, sentirá a gratidão e perceber que tudo é uma questão de mudança de perspectiva. Se você pensar em covid e outras coisas, pode entrar numa espiral de pensamentos negativos. A Austrália parece ter enfrentado a pandemia de forma mais tranquila, pelo menos para quem olha de fora. Foi assim mesmo? Matt: A gente mora em Queensland. Aqui, começou com um pequeno lockdown. Mas rolaram grandes lockdowns em outros estados. A gente não se sente isolado, vivemos no litoral, um lugar turístico. Sabemos que foi diferente em outras partes do mundo, mas aqui não teve o mesmo impacto. Vai ser interessante quando tudo abrir de novo. Ryan: Nós não tivemos muita exposição ao covid na Austrália porque as fronteiras foram logo fechadas. Qualquer um que chegasse teria que ficar de quarentena por duas semanas, sendo testado. O governo da Austrália é muito severo, garantiu que a doença não se espalhasse de jeito nenhum. Foram registrados poucos casos, e feitas algumas restrições. Mas parece que o duro é que não conheço ninguém que teve covid. O governo quer que todo mundo tome a vacina, não veem muito risco de contágio. No resto do mundo, muitos foram vacinados, o que fez com que as coisas começassem a voltar ao normal. Na Austrália, quase ninguém quer tomar a vacina. Aqui temos as coisas no controle, acontecem poucos casos, fazem lockdown de novo, se necessário. A gente não sabe quanto tempo isso vai durar. É frustrante. Mas somos afortunados pela maneira como está a situação aqui, enquanto o resto do mundo parece estar numa situação ruim. Qual é o grande ensinamento que a pandemia trouxe para o Hollow Coves? Ryan: A gente valoriza as coisas depois de perdê-las. Existe uma música sobre isso, Don’t Know What You Got (Till It’s Gone, do Cinderella). O coronavírus ajudou as pessoas a perceberem o quanto são abençoadas com o que tínhamos, estar com os amigos, viajar pelo mundo, isso são luxos. Não posso viajar pelo mundo, mas muita gente não tem eletricidade, ajuda a colocar em perspectiva. Falando em viajar pelo mundo, existe uma expectativa de vocês para uma tour no Brasil? Matt: A gente quer muito ir ao Brasil, tínhamos planejado, mas foi cancelado. Vamos tentar assim que a pandemia esteja controlada. Temos planos de ir a diferentes países, mas tudo depende da covid. Mas queremos muito ir ao Brasil Nunca estivemos no Brasil. Ryan: Temos muitos fãs no Brasil, recebemos muitos comentários para visitar o Brasil. Dizem que o público brasileiro é crazy. Gostaria de saber como é tocar no Brasil, é interessante dizem que as pessoas são apaixonadas. Como reagem a musica, é diferente em cada país. Tocar em lugares diferentes para culturas diferentes. Não sei quando iremos ao Brasil, mas estamos ansiosos para isso.
The Bombers libera primeiro show com público na íntegra; assista!

O reencontro de uma banda com o seu público é sempre muito especial. Se tratando do The Bombers, responsável por um dos shows mais empolgantes do cenário underground nacional, a sensação fica ainda mais impactante. Após um ano e meio sem tocar para um público, a banda santista, enfim, reencontrou a plateia. A apresentação no Teatro Martins Penna (Centro Cultural da Penha), em São Paulo, rolou no dia 11 de julho. Com um repertório que engloba todas as fases da banda, inclusive as mais músicas mais recentes e que nunca haviam sido apresentadas ao vivo, o Bombers traz toda sua energia em uma performance visceral sem limites. A apresentação teve incentivo da Prefeitura Municipal de São Paulo e da Secretaria Municipal de Cultura. O show contou com um seleto número de convidados na plateia (20 pessoas), seguindo todas as recomendações de segurança sanitária e distanciamento social, o que agrega ainda mais emoção e valor à apresentação. “A crise sanitária afetou todos de forma coletiva, impactando em diversos setores econômicos. Na área artística isso não foi diferente, além, é claro, dos impactos individuais. Para nós, como banda, foi um exercício de saúde também nos manter conectados de certa forma, criando ideias para discos, incentivando um ao outro”, explica o vocalista, Matheus Krempel. The Bombers segue com produção infinita em 2021 Desde outubro do ano passado, o The Bombers tem se dedicado a engordar sua discografia já extensa com uma série de EPs com canções em português, raridades, covers, além de regravações de seus principais clássicos. Confira abaixo a relação de discos lançados nesse período. Bumerangue (outubro/2020) A Morte (fevereiro) Não Vencer Não é Perder (março) O Abismo (abril) Você sabia que Rubin Carter era inocente? (maio) 7 Songs (and 2 bonus trax) Revisited live (junho)
Mundo Livre S/A critica a gestão da pandemia no Brasil com Baile Infectado

Já está disponível em todas as plataformas de música, Baile Infectado, o novo single do Mundo Livre S/A. A faixa, carregada de irreverência, critica a gestão da pandemia no Brasil. Fred Zero Quatro (cavaquinho e voz), Xef Tony (bateria e backing vocal), P3dr0 Diniz (baixo e backing vocal), Léo D. (sintetizadores, teclado e programações) e Pedro Santana (percussão) compuseram o arranjo de forma remota, algo inédito para a banda pernambucana. A produção ficou por conta de Fred Zero Quatro, P3dr0 Diniz, e Léo D., que também foi o responsável pela mixagem e masterização. “Embora alguns governantes estivessem tentando garantir um distanciamento social para que o vírus não se alastrasse, você via todo todo tipo de festa clandestina e aglomeração acontecendo em todas as classes sociais. A ideia é fazer uma metáfora dessa situação”, comenta Fred Zero Quatro. Aliás, lançado pelo selo Estelita, Baile Infectado é a primeira amostra do novo álbum autoral do Mundo Livre S/A, previsto para ser lançado durante o segundo semestre de 2021. De acordo com a banda, esse será “o disco mais mangue” de toda a carreira.