Medida Provisória na CCXP: “Estamos pensando na nossa participação em mais setores”, diz Seu Jorge

O primeiro dia da CCXP Worlds, pela primeira vez em formato online, reuniu grandes nomes de Hollywood, como Vince Vaughn, Milla Jovovich, entre muitos outros. Mas quem roubou a cena foram os atores Seu Jorge, Lázaro Ramos e Taís Araújo. Em resumo, o trio foi apresentar o longa Medida Provisória, que chega aos cinemas em 2021, pela Globo Filmes. Baseado na peça Namíbia, Não, de Aldri Anunciação, o filme marca a estreia de Lázaro Ramos na direção de um longa. “A estreia no cinema foi forçada. Dirigi a peça no teatro e um mês depois pensei que aquilo pudesse ir para o cinema. Ofereci para alguns amigos, mas ninguém quis dirigir e comecei a investir nisso há nove anos”, comentou Ramos, que dividiu a tela com a esposa, Taís Araújo, que estava em um computador ao fundo. Para o cineasta, Medida Provisória é um filme que vai trazer um impacto grande para as pessoas. “Elas vão se divertir, mas vão pensar muito”. “Foi uma experiência transformadora. Poder contar essa história, elaborando uma nova linguagem que acho que temos experimentado pouco no Brasil. É um filme que mistura três gêneros: comédia, thriller e drama”, completou Ramos durante o painel. Racismo estrutural Primordialmente, o racismo estrutural do Brasil foi pauta da discussão. Taís Araújo, que vive a médica Capitú, comentou sobre sua personagem. “É uma provocação para quem entra num consultório e ainda se surpreende ao ver um médico negro, além de construir um imaginário que já existe. Existem muitos médicos e médicas negros. Além da solidão desses personagens que não veem nenhum parecido com eles”. Seu Jorge, que já possui mais de 20 papéis no cinema, foi além na discussão e deu o exemplo de um amigo negro. “O quadro ainda não está do jeito que gostaríamos. Uma vez indiquei um amigo a procurar um psicólogo, mas ele não quis. Disse que ser atendido por um profissional branco não resolveria pois seus problemas estão relacionados à origem. É uma discussão no Brasil do futuro, daqui uns três, quatro presidentes. Estamos pensando na nossa participação em mais setores”. Ramos, então, comentou que algumas pessoas falavam que seu filme poderia se encaixar como favela movie. “Mas queria falar de outro extrato dessas pessoas. Eles vão se encontrando, buscando a identidade e forma de lutar”. O filme A ficção se passa em um Brasil do futuro, no qual uma medida de reparação social afeta diretamente a vida de uma família, formada pela médica Capitú (Taís Araújo), o advogado Antonio (Alfred Enoch) e o primo, o jornalista André (Seu Jorge), que mora na casa da dupla. Posteriormente, uma medida de reparação financeira pelos tempos de escravidão no Brasil é proposta, e é respondida com outra. Com isso, o casal acaba separado sem saber se poderá se reencontrar.

Augusto Pakko canta sobre ter sangue frio para enfrentar racismo

Desde a morte de George Floyd por forças policiais em Mineápolis, nos Estados Unidos, em maio último, a luta contra o racismo ganhou força no mundo todo. Mas o racismo em si ainda está muito longe de ser exterminado. Casos como de Floyd e João Alberto, no Carrefour de Porto Alegre, acontecem diariamente no Brasil. Quase sempre na periferia, onde não há câmeras, muito menos apelo popular nas redes sociais. O rapper Augusto Pakko, de 23 anos, morador do Ilhéu Baixo, na Zona Noroeste, sabe bem o que é ser preto e viver sob esse perigo constante apenas pela cor que tem. Seu novo single, Moncler, em parceria com o Trap da Quebrada, usa a marca de roupa de inverno como analogia para o “sangue frio que é preciso ter para sobreviver nas ruas”. “A Moncler é uma marca de luxo, conhecida pela jaqueta puffer, para quem pratica esqui. E usei o conceito que é preciso ter sangue frio para tudo que estamos à mercê de acontecer para nós que somos pretos e periféricos. É narrando essa vivência com esse conceito que consegui unir moda e vivência”. Videoclipe A faixa veio acompanhada de um videoclipe, que foi gravado na Vila Olímpia, em São Paulo, e no Saboó, em Santos. “Traz todo esse conceito à tona, além de narrar a vivência de um jovem preto periférico”, comenta Pakko sobre a produção audiovisual. Em pouco mais de um ano, Pakko já lançou seis singles, três feats com outros artistas e a recente colaboração com o Trap da Quebrada. Posteriormente, em 2021, ele pretende lançar a primeira mix tape. “Ainda não posso falar sobre os sons”. Os singles #Blacklivesmatter, Jesus Era Preto e 1038 ajudaram a impulsionar a carreira de Pakko, que chegou a ser incluído em uma playlist do ator, cantor e ex-BBB Babu Santana. Em suma, a ideia era apresentar artistas negros em evidência no Brasil. O reconhecimento, no entanto, acontece em São Paulo e outras grandes cidades, não no município de origem do rapper. “Santos não é o lugar onde sou mais escutado. Em São Paulo, por exemplo, tenho muito mais público. Não sei se a galera daqui valoriza os artistas locais”, comenta. Bastante engajado, Pakko teve um cuidado especial na hora de lançar #Blacklivesmatter. O lançamento aconteceu num dia 23, às 20h23. Em resumo, o número carrega uma simbologia triste: a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado no Brasil.

Gary Clark Jr. desabafa sobre atual situação dos negros nos Estados Unidos

O artista Gary Clark Jr. usou seu Instagram para expor seus sentimentos em relação aos protestos em todo os Estados Unidos devido a morte de George Floyd. Ademais, o guiterrista texano falou sobre sua experiência de ter crescido no sul e se manifestou sobre as injustiças feitas por policiais no país. “Fiquei quieto por alguns dias porque não sabia o que dizer. Estive pensando em tudo… mas estou cansado. Não tenho mais palavras. Eu disse tudo o que precisava dizer no disco (This Land). Me expressei para todo tipo de imprensa e acabei sendo aquele cara na caixinha de qualquer programa de notícias falando sobre isso”, disse ele. A declaração completa você pode conferir logo abaixo

Oscar 2020 tem críticas mais sutis, mas não abandona questões sociais

Diversidade

Como de costume, os discursos de agradecimento durante a cerimônia do Oscar são bem acalorados. Nesta edição, temas como inclusão, igualdade de gênero e veganismo foram as principais pautas, mas não ficaram restritos a críticas faladas. Esta edição não foi tão politizada quanto as anteriores, que já teceram críticas diretas ao governo americano. Em 2020, as críticas foram mais sutis, focando nos temas sociais ao invés de atingir os “agentes responsáveis”. Crítica elegante O principal destaque vai para Natalie Portman. A atriz surgiu no tapete vermelho com um traje interessante. A peça, assinada pela Dione, contava com nomes de diretoras esnobadas na categoria de Melhor Direção. Entre os nomes, constou Greta Gerwig, que dirigiu e escreveu Adoráveis Mulheres. O filme, baseado em um clássico da literatura americana, estava indicado a Melhor Filme, mas não contou com indicação de direção. Lulu Wang (The Farewell), Marielle Heller (Um Lindo Dia na Vizinhança), Alma Har’el (Honey Boy), Céline Sciamma (Retrato de Uma Jovem em Chamas) e Lorena Scafaria (As Golpistas) também foram lembradas. A forte crítica foi destacada pela imprensa, que continua embalada na fase Time’s Up de edições anteriores. Mesmo discreta, a mensagem de Natalie Portman foi alta e clara. Política americana Brad Pitt aproveitou seu discurso para fazer pequenas críticas políticas. O ator venceu pela primeira vez em uma categoria de atuação, levando o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante por Era Uma Vez Em… Hollywood. Abriu seu discurso com uma alfinetada. “Eu tenho 45 segundos, é mais do que o senado deu ao John Bolton esta semana”. O ex-consultor de segurança nacional da Casa Branca foi testemunha no processo de impeachment do presidente americano Donald Trump. Mesmo sem abordar claramente o assunto, Pitt deu uma cutucada na audição do processo, que terminou favorecendo Trump. Diversidade Chris Rock e Steve Martin dividiram uma das apresentações de categorias da noite. A dupla subiu ao palco para falar em diversidade, levantando críticas que ficaram em evidência em edições anteriores da premiação. “Cynthia Erivo fez um trabalho tão bom em esconder pessoas negras em Harriet que a Academia a escolheu para esconder todos os nomeados negros!”, afirmou Chris Rock. A atriz foi a única negra indicada neste ano. Na sequência, Steve Martin assinalou que em 1929 não havia atores negros nomeados aos Oscar. Sarcástico, Rock respondeu: “sim, e em 2020 temos um”. Em 2019, Mahershala Ali e Regina King saíram vencedores nas categorias de atuação. Além da dupla, o longa Pantera Negra, cujo elenco é marcado pela diversidade, saiu como um dos maiores vencedores da temporada. Minorias e veganismo Joaquim Phoenix não só fez um excelente trabalho como Coringa, mas também tornou sua voz um pilar de discursos importantes. Por toda temporada, Phoenix tem exaltado temas relevantes. Com a vitória de Melhor Ator durante a cerimônia do Oscar, não seria diferente. Seu comentário partiu de como o ser humano possui uma forte tendência a diminuir os outros. Para exemplificar, o ator até falou de suas próprias mudanças pessoais. Em seu discurso, ele provavelmente foi o mais direto em tratar de questões sociais latentes. Phoenix defendeu os direitos das mulheres, negros, LGBTQIA+, indígenas e dos animais. Ademais, afirmou o compromisso do cinema em dar voz aos que precisam. Vale a pena conferir esse discurso na íntegra: Confira a tradução: “Não me sinto acima de nenhum dos outros indicados ou de qualquer outra pessoa nesta sala. Todos nós compartilhamos o mesmo amor pelo cinema. Esse meio me deu tantas coisas extraordinárias que nem sei o que eu seria sem ele. Mas acho que o maior presente que me deu, e a muitos nessa sala, é a oportunidade de usar nossa voz pelos que não têm. “Seja falando sobre desigualdade entre gêneros, racismo, direitos LGBTQ+ ou indígenas, direitos dos animais, estamos falando sobre lutar contra a ideia de que uma nação, uma raça, um gênero ou uma espécie tem o direito de dominar, controlar, usar e explorar outros sem impunidade. “Acredito que nos desconectamos demais do mundo natural, e nos sentimos culpados por ter uma visão egocêntrica, a crença de que estamos no centro do universo. “Entramos no mundo natural, roubamos seus recursos. Nos sentimos no direito de inseminar artificialmente uma vaca e então roubar seu bebê quando ele nasce, mesmo que seus gritos de angústia sejam perceptíveis. E então bebemos o leite que é destinado ao bezerro e colocamos em nosso café e cereal. “Quando usamos amor e compaixão como nossos princípios, podemos criar, desenvolver e implementar sistemas de mudança que são benéficos para todos os seres e ao meio ambiente. “Fui um canalha minha vida toda. Fui egoísta, cruel às vezes, alguém difícil de trabalhar. Estou grato porque muitos aqui nessa sala me deram uma segunda chance. Acredito que estamos no nosso ápice quando apoiamos uns aos outros. Não quando nos cancelamos por erros passados, mas sim quando nos ajudamos a crescer. Educamos uns aos outros, e nos guiamos no caminho pela redenção”.