Crítica | A Freira 2

Engenharia do Cinema Quando foi lançado há exatamente cinco anos, “A Freira” conseguiu bons números de bilheteria (custou US$ 22 milhões e lucrou US$ 365.58 milhões mundialmente), mas fracassou no gosto do público e crítica. Assim como “Annabelle” (que melhorou totalmente em seu segundo filme), ficou perceptível que o produtor James Wan ouviu os fãs e em “A Freira 2“, ele literalmente mais uma vez corrigiu grande parte dos erros e nos entregou uma obra superiora, mas não tão perfeita ainda. A história tem inicio algum tempo depois do término do antecessor, com a Irmã Irene (Tessa Farmiga) tentando viver uma vida comum em seu convento. Mas tudo muda quando ela é chamada pela própria chefia da Igreja, para ir até uma região da França, com o intuito dela tentar desvendar o misterioso assassinato de um Padre, pois ele pode estar atrelado com a maligna entidade da Freira (Bonnie Aarons). Imagem: Warner Bros Pictures (Divulgação) Novamente assumindo a direção de um título da franquia “Invocação do Mal“, o cineasta Michael Chaves realmente demonstrou ter um amadurecimento maior em relação aos seus trabalhos antecessores (que foram “Invocação do Mal 3” e “A Maldição da Chorona“), pois ele muda o tom de amadorismo por algo mais sério e pé no chão. Embora ele apele para um pouco para recursos já utilizados porcamente por Hollywood (como o excesso de cenas escuras, onde não conseguimos ver quase nada da ação), ele usufrui de algumas cenas inteligentes (vide a divertida sequência das revistas que formam a imagem da Freira). Outro detalhe bastante interessante, é o cuidado que o roteiro de Ian Goldberg, Richard Naing e Akela Cooper tiveram, na retratação de deixarem os fatos mais verídicos o possível, como por exemplo, uma breve cena que mostra a Irmã Irene sendo convocada pelo próprio Vaticano, para ingressar nesse “reencontro” com a Freira (algo que realmente só poderia acontecer, se houvesse essa convocação e autorização). Estes pequenos detalhes, que no contexto da veracidade, que fazem a diferença. Mesmo sendo a cara de sua irmã Vera Farmiga (protagonista da trilogia original), Taissa Farmiga está mais à vontade no papel da jovem irmã Irene e apesar do roteiro ainda não fazer ela ter um perfil digno, para torcermos como a imagem central dessa franquia (acredito que em um potencial terceiro longa, isso será consertado), dentro da premissa ela convence. Mas infelizmente não posso dizer isso sobre Storm Reid (“Euphoria“), que no papel da Irmã Debra, pela qual só aparece para ser um ombro daquela e inclusive tem um arco que chega a parecer que foi tirado do filme “Esqueceram de Mim” (principalmente com os gritos de uma menina, que chegam a ser hilários de tão bizarros). Sendo bastante superior ao seu antecessor, “A Freira 2” consegue entreter dentro de sua premissa. Porém, ainda apresenta alguns descuidos habituais do gênero.
Crítica | Megatubarão 2

Engenharia do Cinema Com o primeiro filme tendo rendido cerca de US$ 530 milhões mundialmente, tendo custado apenas US$ 130 milhões para a Warner Bros, era óbvio que o próprio iria começar a desenvolver uma nova franquia com o ator Jason Statham. Além de ter uma enorme pegada trash, e muitas cenas não fazerem o menor sentido (lembrando inclusive, o icônico “Sharknado“, no quesito “nonsense”), essa continuação exerce o seguinte princípio de “vamos fazer coisas ainda mais malucas, não vistas no antecessor”. Mesmo bebendo demais de fontes como o próprio “Tubarão” e “Jurassic World“, “Megatubarão 2” pode funcionar se você se desligar totalmente. Imagem: Warner Bros Pictures (Divulgação) Antes de começar a entrar a fundo nesta análise, já deixarei claro mais uma vez, que estamos falando de uma produção do gênero trash, onde ela mesma sabe que é ruim, e busca entreter o público com seus absurdos. Embora se trate de uma produção cujo foco são os tubarões, o roteiro de Jon Hoeber, Erich Hoeber e Dean Georgaris procura explorar outras ameaças que existem no ambiente aquático, neste primeiro plano, que vão da falta de ar até a claustrofobia. Mas como o diretor Ben Wheatley (do horrendo remake de “Rebecca“), não tem uma especialidade na direção deste tipo de projeto, óbvio que o próprio iria sofrer na retratação destes quesitos (e ele acaba “se safando”, por se tratar de uma produção trash). Tudo acaba sendo colocado em prol do carisma de Statham e Jinh (que rouba a cena como o “chinês imortal”), que conseguem salvar o enredo e entreter o público. Em contraponto a eles, temos vilões genéricos, coadjuvantes que servem só para ajudar os dois personagens citados. Isso porque não entrei no mérito de situações clichês, que só servem para causar risos inusitados nos espectadores, que vão de personagens com desfechos previsíveis, que sempre sobrevivem em situações fatais e que só servem para “serem as crianças”da narrativa (Shuya Sophia Cai, que retorna no mesmo papel do original). “Megatubarão 2” termina sendo uma continuação no mesmo nível de seu antecessor, porém só irá conseguir conquistar os fãs daquele e do cinema trash.
Crítica | Magic Mike: A Última Dança

Engenharia do Cinema Sendo uma das franquias mais lucrativas do cinema, “Magic Mike” nasceu de uma ideia descompromissada entre Channing Tatum e Steven Soderbergh, com inspiração na vida do primeiro antes de ingressar no universo do cinema. Com produções tendo orçamento na cerca de US$ 7 milhões, a trilogia já rendeu cerca de US$ 346 milhões (apenas nos EUA). “Magic Mike: A Última Dança” foi concebido com o intuito de ir direto para a HBO Max, mas o CEO da Warner, David Zaslav viu que poderia ter uma boa passagem nas telonas primeiro. Com um resultado inferior aos dois primeiros, este terceiro foi um fracasso absoluto, pois rendeu US$ 57 milhões (tendo custado US$ 40 milhões). E o que seria um lançamento mundial nos cinemas, acabou sendo reduzido mais uma vez ao streaming do HBO Max (inclusive no Brasil). Realmente, a decisão foi sábia, uma vez que estamos falando do mais fraco exemplar da saga. Trabalhando como barman em eventos da alta sociedade, Mike (Tatum) acaba esbarrando com a misteriosa bilionária Maxandra Mendoza (Salma Hayek). Após uma noitada, este oferece a ele a chance de lhe auxiliar em uma peça teatral inspirada em um show de stripers, concebidos pelo próprio. Imagem: Warner Bros Pictures (Divulgação) O roteiro de Reid Carolin (que cuidou do roteiro dos outro dois filmes) parece ter sido tirado de uma ideia forçada, de tão rasteira e cansativa (são quase duas horas de duração, sem necessidade) que se tornou essa trama. Não há uma explanação ou aproximação de nenhum dos personagens que são apresentados, e embora Hayek faça milagres (uma vez que sua atuação é realmente boa), fica nítido que o intuito deste filme foi apenas encher o catálogo do HBO Max. Com menos danças, sensualidade e até mesmo motivações plausíveis (como o primeiro havia mostrado), parece que resolveram produzir este filme por conta do sucesso entre o público feminino com as franquias “50 Tons de Cinza” e “365 Dias“. O pior é que o diretor Steven Soderbergh (que fechou com a HBO Max, para a produção de vários filmes), retornou para a franquia e nitidamente ele também estava no automático e desinteressado em fazer este projeto. “Magic Mike: A Última Dança” é um vergonhoso encerramento para a franquia, que possivelmente resultará no congelamento da mesma durante alguns anos.
Crítica | Até os Ossos

Engenharia do Cinema Depois do sucesso de “Me Chame Pelo Seu Nome“, era inevitável que o diretor Luca Guadagnino e o ator Timothée Chalamet iriam repetir a parceria em um futuro próximo. Sendo lançado no Brasil timidamente, na semana da CCXP, e ficado apenas uma semana em cartaz na maioria dos cinemas (uma vez que o circuito foi dominado por “Avatar 2“, logo em seguida), “Até os Ossos” chegou agora nos serviços on-demand e provavelmente vai começar a ser notado pelo grande público. Baseado no livro de Camille DeAngelis, a história é centrada em Marren (Taylor Russell) que vive como nômade com seu Pai (André Holland), pelo fato dela esconder seus desejos canibais. Porém, após um descuido da mesma, este acaba lhe deixando sozinha e ela começa a viver totalmente sozinha. É quando ela conhece Lee (Chalamet), por quem ela se apaixona e possui os mesmos hábitos canibais. Imagem: Warner Bros Pictures (Divulgação) É um fato que Guadagnino sabe como criar uma atmosfera desconfortável em seus filmes, quando a premissa tem este tópico como foco (vide o remake de “Suspíria”, feito pelo próprio em 2018). Aqui ele não hesita em mostrar cenas de canibalismo explícito (que chegam a beirar o perturbador), e situações que acabam transpondo o quão isso é algo totalmente desconfortante (vide uma cena onde ele intercala uma senhora sendo devorada, com suas fotos em família). E para auxiliar nisso, o design de produção, figurino e até mesmo a fotografia de Arseni Khachaturan sempre transparecem uma tonalidade acinzentada, com aspecto sujo e nojento em quaisquer cenários por onde os personagens passam (com o intuito de representar o quão eles vivem em uma sujeira total). Embora Russell e Chalamet estejam ótimos em cena, embora o segundo mais uma vez esteja preso na persona de adolescente rebelde, quem rouba o protagonismos destes é o veterano Mark Rylance (que interpreta o misterioso Sully). Mesmo aparecendo relativamente pouco, sua característica é uma verdadeira mescla dos citados, mas ainda sim transparece uma incerteza de suas verdadeiras intenções. “Até os Ossos” pode facilmente conquistar os fãs de filmes trash de horror, mas causará um desconforto enorme nos que esperam encontrar um romance clichê e gostosinho de se ver.
Crítica | Não Se Preocupe, Querida

Engenharia do Cinema Realmente estamos falando de um projeto um tanto que polêmico, uma vez que muitas pessoas desviaram a atenção do longa para focar nas tretas de bastidores (como o namoro de Olivia Wilde com Harry Stiles, as confusões de ego entre esta e Florence Pugh e a mais recente “cuspida” daquele em Chris Pine). O fato é que por aqui falamos e bebemos cinema, e fofocas deixamos para aquelas páginas que “entendem de cinema”. Sim, Não Se Preocupe, Querida é uma daquelas produções que conseguem entrar em nossa cabeça e nos fazer se questionar realmente sobre o que vai acontecer. A história é centrada no casal Alice e Jack Chambers (Pugh e Stiles), que resolvem se mudar para um local totalmente tranquilo, em meados dos anos 50. Enquanto os homens trabalham, as mulheres cuidam da casa e da família, mas embora o clima conservador do local pareça um tanto que normal, a primeira passa a desconfiar que nem tudo é o que parece. Imagem: Warner Bros Pictures (Divulgação) Começo enfatizando o talento de Olivia Wilde como diretora, que em Fora de Série já havia mostrado brevemente que possui realmente um dote plausível e que merecia reconhecimento (uma vez que ela sabia tratar bem as sequências de romance, comédia e até mesmo com outras tecnologias como a de Stop-Motion). Aqui, ela nitidamente aplicou um estudo sobre as principais atrizes dos anos 50 e colocou o visual delas em todas as personagens (ela mesma, remeteu a Bette Davis), em uma referência que é nítida para aqueles que conhecem realmente a sétima arte. Enquanto os homens remeteram aos mafiosos (uma vez que em 80% das cenas, os vemos de ternos em preto e branco), que naquela época estava em ápice. Isso sem citar o figurino, design de produção e até mesmo diálogos, que remetem a um filme dos anos 50. Isso sem citar que ela sempre coloca um pouco de figuras homeopáticas, que tendem a ser como “pílulas” dentro de nossa mente, ao tentar raciocinar sobre o que está por vir. Embora algumas atuações, também remetam a enorme estranheza da situação como um todo (lembrando até momentos da clássica série The Twilight Zone – Além da Imaginação). Com relação às atuações, realmente ela foi inteligente em ter colocado Florence Pugh (Midsommar) como a protagonistas e Chris Pine (Star Trek) como antagonista, uma vez que ambos já conseguiram demonstrar que possuem o semblante necessário para ambos estilos. Embora Harry Stiles esteja operante, não podemos realmente dizer que ele é bom como ator neste papel. Não Se Preocupe, Querida acaba sendo um interessante suspense, que não deixa de ser uma carta de amor ao cinema clássico.
Crítica | Elvis

Engenharia do Cinema Após o sucesso de “Bohemian Rhapsody” e “Rocketman“, Hollywood apostou em fazer a cinebiografia definitiva de um dos maiores nomes da música: Elvis Presley. Tendo uma carreira com altos e baixos, a ideia de diferencial em relação aos citados, foi que a história seria contada na perspectiva do empresário deste, o Coronel Tom Parker (sendo interpretado por Tom Hanks). Sendo trabalhado pelo cineasta Baz Luhrmann (“Austrália”) há vários anos, é nítido que tanto ele como o intérprete de Elvis, o ator Austin Butler, entraram de cabeça no projeto. A história tem início na década de 50, quando Parker assistiu a um show de Elvis em uma pequena apresentação circense. Ao perceber o potencial deste, resolve induzi-lo a cuidar de sua carreira e transformá-lo em um dos maiores nomes da música que já existiram. Só que da mesma forma que o sucesso vem, os percalços entre a dupla ficam cada vez mais complexos. Com quase três horas de metragem, este é mais um daqueles casos onde a narrativa funciona tão bem, que não sentimos o peso deste tempo. É nítido que Luhrmann teria que usar uma abordagem mais séria, pessoal e menos carnavalesca (apesar dele usar essa tonalidade, quando havia passagens de tempo) como o habitual de seus últimos filmes (vide “O Grande Gatsby“). Ele sabe exatamente como criar uma atmosfera entre os sentimentos de Elvis e Parker, e tais como os sentimentos da dupla ficavam cada vez mais tensos (devido aos constantes malabarismos que este fazia, para conseguir tirar o melhor daquele). Imagem: Warner Bros Pictures (Divulgação) Sim, apesar de Butler cantar algumas músicas, é nítido que as músicas originais de Elvis foram colocadas nas horas chaves (e casaram direitinho com o trabalho de montagem da dupla Jonathan Redmond e Matt Villa), mas este exerceu tanto estudo para se assemelhar com seu personagem, que realmente parece que o finado músico havia renascido para gravar este filme (não seria injustiça, ver ele levando o Oscar de melhor ator, em 2023). Inclusive, o trabalho de maquiagem e cabelo para ele e Hanks, certamente será bastante recordado nas premiações. Inclusive, este consegue exercer mais um dos seus típicos vilões que “amamos odiar”, mesmo carregado com uma enorme maquiagem e sotaque (que o deixaram irreconhecível, e também já lhe darão uma possível indicação ao Oscar). Com relação a estrutura dos cenários, o design de produção é realmente incrível e muitas vezes parece que estamos vivenciando uma história entre meados dos anos 50 e 70, seja por intermédio das vestimentas ou até mesmo dos edifícios, equipamentos e índoles dos personagens. É aí que entram as questões raciais e políticas que haviam na época, pois embora este seja o plano de fundo secundário da trama, vemos que era como uma segunda camada para a vida de Elvis e uma pedra no sapato de Tom. Mas uma dúvida que perece entre quem não conhece a trajetória de Elvis, é de “se é necessário ter uma base sobre a história deste, para ver este longa?”. Confesso que não, mas caso você goste de ter um conhecimento prévio, a experiência será ainda melhor. “Elvis” acaba como uma verdadeira homenagem ao Rei do Rock, e certamente figurará como um retrato de como realmente o mundo via o grandioso Elvis Presley.
Crítica | Batman (Sem Spoilers)

Engenharia do Cinema Após a desistência de Ben Affleck do manto de Bruce Wayne/Batman, uma lacuna se abriu ao cargo de um dos maiores personagens da DC. No meio do caos que estavam nos bastidores, a Warner Bros acabou contratando o cineasta Matt Reeves (que tinha acabado de finalizar a sucedida trilogia de “O Planeta dos Macacos“), para dirigir e escrever (junto de Peter Craig) uma nova trama (já que nada do que foi feito por Affleck, nestas funções, não seria aproveitado também). Com a escalação de Robert Pattinson para o papel de protagonista, muitas pessoas ficaram divididas (afinal, o grande público não conhece seus trabalhos diversos em filmes menores, ao contrário de “Crepúsculo“). E só digo uma coisa: eles trouxeram uma imagem totalmente nova do personagem. A história se passa cerca de dois anos depois que Bruce Wayne assumiu o manto de Batman, onde enquanto Gotham ainda não tinha se acostumado com o herói, com exceção do detetive James Gordon (Jeffrey Wright). Quando misteriosas mortes começam ocorrer, acompanhadas de misteriosos enigmas realizados pelo criminoso Charada (Paul Dano), ambos começam a ver que a cidade está correndo um perigo muito além do que imaginavam. Imagem: Jonathan Olley/Warner Bros Pictures (Divulgação) Notamos que estamos falando de uma pegada totalmente diferente do personagem, em seus primeiros minutos em cena. Quando Batman chega para analisar uma cena de crime, vemos que o cenário não é de tranquilidade, e sim de desprezo por grande parte dos presentes. Carregado com a trilha sonora de Michael Giacchino, acompanhadas da icônica música do Nirvana, “Something In The Way” (cuja letra combina exatamente com o cenário visto em cena), conseguimos embarcar na jornada do próprio Batman. Sim, Reeves e Craig idealizaram este filme sobre o próprio alter-ego de Bruce Wayne, ao invés do próprio (que aparece relativamente pouco, em relação de quando está como a sua outra persona). Tanto que não há muitas cenas de ação com CGI, explosões excessivas e até mesmo feitos grandiosos. Estamos falando de um filme de investigação, com uma forte pegada noir e se assemelhando até os sucedidos filmes “Seven” e “Zodíaco” (cujo estilo ultimamente havia sumido dos cinemas). E Pattinson realmente da conta do recado, pois o ator tem a expressão e presença necessária para este tipo de contexto. Agora, enquanto em “Coringa“, víamos o nascimento de um vilão em torno da sujeira e desgraça que estava a cidade de Gotham (que facilmente podemos igualar com qualquer município real), em “Batman” vemos um nascimento deste herói, neste mesmo cenário. E digo isso, pois a fotografia de Greig Fraser, entelada ao design de produção de James Chinlund (que inclusive criou fisicamente a maior parte externa de Gotham), nos transpõe toda aquela depressão que é a cidade onde o filme se passa. Quanto às personalidades que vimos serem mergulhadas neste cenário, Reeves primeiro explora de forma plausível Selina Kyle/Mulher-Gato (Zoë Kravitz), o mafioso (John Turturro, em ótima interpretação) e até o próprio Charada (que até então não tinha sido um ótimo vilão nos cinemas). Enquanto algumas sementes são plantadas para vindouras continuações neste universo, como o próprio Oswald Cobblepot/Pinguim (Colin Farrell, em uma irreconhecível e ótima maquiagem). “Batman” só mostra que quando os executivos da Warner/DC resolvem não meter a mão em um projeto, ele pode claramente se tornar um dos filmes mais marcantes da história do cinema.
Crítica | Matrix Resurrections

Engenharia do Cinema O primeiro Matrix revolucionou o cinema e mudou a perspectiva do gênero de ficção-científica, além de alavancar a carreira de Keanu Reeves, Laurence Fishburne e Carrie-Anne Moss. Apesar de também serem um sucesso, os dois longas posteriores encerraram um arco que estava estabelecido como “sem chances de ser reaberto”. Porém, com várias franquias voltando aos cinemas, a Warner Bros viu que era a hora de renascer com uma das suas maiores produções: Matrix Resurrections. Matrix Resurrections brinca com si mesmo, com o assunto é “não se deve realizar um reboot, de uma produção que funcionou no passado”. Mas já aviso de antemão, que estamos falando de um projeto que possivelmente irá dividir a maioria dos espectadores e fãs do universo citado. A história tem início com Thomas Anderson (Reeves) trabalhando em uma produtora de games, pelo qual está projetando um novo jogo da franquia Matrix (sim, realmente ele está acreditando que todos os acontecimentos antecessores, eram um videogame e não real). Mas ele passa a ver que tudo não é o que parece, quando esbarra com uma então “misteriosa” Tiffany (Moss), e a é surpreendido pela presença do velho amigo (que ele realmente não se lembrava) Morpheus (agora vivido por Yahya Abdul-Mateen II). Imagem: Warner Bros Pictures (Divulgação) Um dos pontos positivos da produção assinada por Lana Wachowski (que também cuidou da trilogia original, com sua irmã), é que ela não necessita que você confira os antecessores para entender essa história, ou seja, é uma narrativa totalmente cânone (basicamente como foi feito com os últimos Exterminadores do Futuro). Apesar do enredo beber bastante do original de 99, seja por intermédio de constantes flashbacks com cenas daquela produção, ou até mesmo situações bastante similares. Isso funciona dependendo do ponto de vista do espectador, pois se você gosta deste tipo de filme, vai comprar a premissa, caso contrário, não (inclusive irá desistir e ir embora, antes do desfecho da projeção). No caso de quem vos fala, funcionou muito bem. Porém diferente dos anteriores, Wachowski não consegue estabelecer uma direção operante nas cenas de luta e ação. Com muitas utilizando de um slow-motion capenga, misturado com uma câmera na mão, é notável que o recurso foi estabelecido pelo fato de alguns atores não terem tido tempo para treinar artes marciais (afinal, estamos falando de uma das várias produções afetadas pela pandemia, no primórdio de suas gravações). Agora com relação às tomadas envolvendo perseguições automobilísticas, ela realmente soube trabalhar isso (inclusive, é perceptível que ela optou por menos CGI e mais efeitos visuais práticos nestas horas). Não hesito em dizer que estamos falando de um dos melhores efeitos visuais realizados em 2021, pois o realismo em determinadas cenas é enorme (diferente de recentes produções da Marvel). Com quesito das atuações, não há nenhuma em destaque, pois eles estão operantes e até mesmo canastrões de atores como Jonathan Groff (que vive o “novo” Sr. Smith), Neil Patrick Harris (intérprete do psicólogo de Thomas, que é um mais do mesmo com relação ao seus outros personagens na sua filmografia) e até ao próprio Mateen II (que não convence como um “novo” Morpheus). Matrix Resurrections é uma produção que realmente dividirá a opinião dos espectadores, pois ele acaba sendo mais um cânone que homenageia o original e possivelmente uma porta para uma nova trilogia.
Crítica | King Richard: Criando Campeãs

Engenharia do Cinema Há quase 16 anos, o astro Will Smith havia nos entregado uma das melhores atuações de sua carreira em “A Procura da Felicidade”. Tendo lhe rendido sua segunda indicação ao Oscar, a produção foi um enorme sucesso e só deixou claro que ele realmente era um bom ator. Desde então, ele não havia conseguido escolher um papel no mesmo estilo até que chegou a possibilidade de estrelar “King Richard: Criando Campeãs“. Em sua terceira tentativa de finalmente conseguir levar seu Oscar, devo confessar que isso realmente é possível. Inspirada em fatos reais, a história gira em torno de Richard Williams (Smith), que diariamente tenta provar que suas filhas Serena (Demi Singleton) e Venus (Saniyya Sidney) são grandes jogadoras de tênis. Para isso ele procura vários treinadores renomados e nomes influentes na área, para tentar colocar ambas de forma digna, nesta vida. Imagem: Warner Bros Pictures (Divulgação) O roteiro de Zach Baylin procura estabelecer de forma sutil não apenas a trajetória da família Williams, mas também mescla uma breve noção da enorme guerra racial que acontecia em plenos anos 80/90 nos EUA. Mas como o foco não é o preconceito e sim a relação da família Williams, isso é mostrado de forma homeopática, ou seja, em uma situação de 10 minutos, 2 são voltados para esta reflexão (afinal, estamos falando da vida de duas das maiores tenistas da história, que são vítimas de racismo até hoje). Com relação às atuações, realmente Smith consegue se sobressair neste papel (seja por seu olhar e até mesmo expressões) e com a ajuda da enorme maquiagem (que possivelmente vai ser reconhecida nas premiações), ficou bastante parecido com o verdadeiro Richard. Por conta disso, apesar de já conhecermos o desfecho desta história, ainda conseguimos vibrar como se não conhecêssemos a mesma. Mérito também do diretor Reinaldo Marcus Green, que soube conduzir as cenas de jogos e até mesmo as dramáticas, de forma que não parecesse um novelão mexicano. Apesar de estar passando em branco nos cinemas, “King Richard: Criando Campeãs” realmente nos trás uma das melhores atuações na carreira do astro Will Smith.