*O Cine Roxy, em Santos, recebeu a pré-estreia do filme Bacurau, na última quarta-feira (21). O longa, dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, acumulou premiações nos festivais de Cannes, Munique e Lima. Talvez por isso fosse tão visível o brilho diante dos olhos do público antes mesmo do início da sessão.
Eletrizante. Esta palavra mais do que resume a película. Principalmente tendo em consideração que a mesma se fez possível durante suas duas horas e 12 minutos e ainda deixa um gostinho de “quero mais”, apesar do ótimo encerramento.
A parceria entre os diretores citados acima trouxe um olhar especial e representativo para o cinema brasileiro – lembrando que já haviam sido indicados no Festival de Cannes, em 2014, com Aquarius.
A história de Bacurau
Bacurau refere-se a história de uma cidade fictícia de mesmo nome, localizada no interior do Pernambuco. A trama inicia com a chegada de uma personagem com uma mala recheada de remédios.
A cidade enfrenta uma espécie de epidemia relacionada a algum vírus. O tema não é especificado em nenhum momento. E isso me causou inquietação. Vejo esta particularidade como único ponto negativo do filme. Os realizadores apenas deixam o assunto no ar enquanto percorrem para outro lado completamente distinto.
Os moradores viviam sua rotina pacata quando ocorre um aparente tiro, que muda tudo. A cidade é atacada por um grupo de estrangeiros. Estes isolam a região, bloqueando todos os sinais de satélite e energia, além de literalmente exclui-la do mapa. Tudo isso apenas para promover um jogo, norteado por assassinatos e afins.
Uma espécie de grande RPG transposto para a vida real, digamos. Ou seja, a obra passeia em gêneros como drama, faroeste, terror gore, fantasia e ficção científica.
Confrontos
Enfim, sem mais delongas, pode-se dizer que a população não deixa isso barato. O povo arduamente se defende, lutando pela vida do jeito que pode. Levando em consideração de que o filme estreia apenas na quinta-feira, evitarei spoilers, resumindo apenas que todo o conflito entre moradores e gringos é basicamente “de cair o queixo”.
Fica o destaque para o personagem Lunga, protagonizado por Silveiro Pereira. A atuação do ator deu toda vida necessária para o bandido local, renomado e que obtinha até certa aclamação dos habitantes de Bacurau.
Ele utilizou trejeitos e até amaciou a voz para o feito. Também vale citar a participação elogiável de Sonia Braga, veterana atriz que já participou de outros filmes dos diretores, e do ator internacional Udor Kier, que trouxe um toque a mais no longa.
Protagonismo em coadjuvantes
Um dos pontos mais interessantes é o protagonismo dado para os cidadãos do vilarejo. Ao longo da trama, as histórias se cruzam e se unem, reverenciando ainda mais o sentido de conexão do coletivo, que abriga pessoas de todos os tipos e gostos.
A construção da história conta com elementos da cultura brasileira, principalmente na arte, figurino e trilha sonora.
Na última, vale o destaque para abertura com a faixa Não Identificado, composta por Caetano Veloso. Na oportunidade, o filme fez uso da versão lançada por Gal Costa em seu disco de estreia homônimo, lançado em 1969.
Impressões finais
Bacurau fala muito sobre resistência local e força do coletivo. Um mundo “fora do mapa” onde vivem pessoas como eu e você, com anseios, desejos e medos, lutando pela sobrevivência e protegendo um ao outro.
O filme conversa com o público conforme expõe a genuinidade brasileira. Isso acontece através de personagens cômicos, como o prefeito corrupto de Serra Negra, cidade onde o distrito de Bacurau localiza-se.
Senti as mais variadas emoções. Gritei, pulei da cadeira, sorri, chorei, roí as unhas, imaginei vários finais pro filme e torci pela sobrevivência de um povo. Ao final do filme, tirei as duas mãos do peito e aplaudi junto com o público.
O filme falou com cada uma das pessoas sentadas no cinema, provocando o que o cinema faz de melhor, sair da sala e sentir a história de cada personagem.
O filme estreia nos cinemas na quinta-feira. Em Santos, o longa terá sessões no Cine Roxy e no Cinemark. Confira a programação para mais informações.
*Texto por Pablo Mello e Nicole Zadorestki