Antes de se consagrar com bons filmes originais, a Netflix penou e acabou trazendo inúmeras pérolas ao cinema em seu início. Os exemplos mais clássicos são The Ridiculous 6, Zerando a Vida, A História Real de um Assassino Falso e Tau. Dizem que tudo mudou quando lançaram Bird Box. No entanto, cinco meses antes estreava Calibre.
De fato, Calibre chegou sem moral e atenção. Logo foi esquecido. Entretanto, o Blog n’ Roll mostrará que ele faz parte da lista de injustiçados da plataforma.
Sobre o filme
Vaughn (Jack Lowden, de Dunkirk) e Marcus (Martin McCann, de 71: Esquecido em Belfast) tiram um final de semana para caçar numa pequena cidade da Escócia. Porém, ao encherem a cara na noite anterior, vão de ressaca e acabam provocando um acidente.
Quando cai a ficha, eles passam a ter que lidar com fortes consequências. Pois, o que era para ser uma simples jornada entre amigos, gera uma bola de neve de caos e medo. O acidente passa a trazer frutos trágicos não apenas para suas vidas, mas também para a de todos os moradores da estranha cidade.
Estreia de peso
Depois de realizar os curtas Island (2007), Daylight Hole (2006) e The Gas Man (2014), Matt Palmer inicia sua trajetória em longas com Calibre. E que debute!
Palmer soube muito bem como criar tensão, angustia e arrependimento. A química entre os personagens principais acaba nos fazendo até torcer pelos “vilões” e odiar os “mocinhos”.
E essa interação junto ao acidente em si, nos coloca no meio do filme, bem na posição dos personagens. Nos levando a questionar: o que você faria no lugar deles? Chamaria a Polícia? Ou fugiria?
O ponto – quase – baixo da direção de Palmer é na ausência das subtramas relevantes dos personagens secundários. Principalmente os que compõem a população da isolada vila. Mas, por outro lado, talvez seja uma aposta: o desconhecido assusta, te deixa apreensivo, você não sabe o que esperar, tornando a atitude dos envolvidos imprevisíveis.
Uma cidade pequena, com autoridade local, em que todos desconfiam dos forasteiros, antes e depois da tragédia. E quando esse grupo de homens entram no caminho de Vaughn e Marcus, a tensão duplica. Todo jantar, caminhada e conversa emana o clima de “vai tudo explodir agora”.
Fotografia
A fotografia de Calibre é sombria. As florestas e estradas da Escócia são retratadas com tons mais opacos, sempre com um céu acinzentado. O cineasta ainda acerta ao escolher os ângulos de câmera, todos com intenção.
Diversos planos gerais para mostrar o quão isolada do resto do mundo é a vila. Enquanto closes na dupla de amigos dão um ar de sufoco, agonia e paranoia.
O filme britânico é um prato cheio para quem gosta de conclusões de tirar o fôlego. Aqui, o final não termina feliz para sempre, mas com uma circunstância chocante, na qual o personagem terá que arcar para o resto de sua vida.
Conclusão
Calibre é um filme com muita tensão que faz qualquer um roer as unhas para saber o desenrolar da trama e a conclusão. Com uma fotografia tenebrosa, atuações válidas e um final surpreendente, não é à toa que é um dos melhores originais da Netflix.
