Após ter conquistado três Oscars por “Birdman” e um por “O Regresso“, era óbvio que muitos iriam pegar um tempo para conferir o novo filme do cineasta mexicano Alejandro G. Iñárritu. Concebido durante 2020/21, “Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades” foi comprado pela Netflix que não só irá o distribuir mundialmente (com breves exibições nos cinemas mundiais, antes de chegar na plataforma), como também mira em novas indicações na premiação citada (inclusive o mesmo se tornou o representante do México, para o Oscar 2023). Só que por ser um projeto mais pessoal (como o próprio descreveu em várias entrevistas), acredito que ele irá dividir e muito o espectador.
A história gira em torno do renomado jornalista Silverio (Daniel Giménez Cacho), que está no ápice de sua carreira e em está vivenciando uma série de homenagens ao seu legado no México e em breve irá para os EUA, para receber um grandioso prêmio e homenagem. Só que ao mesmo tempo, ele começa a ter uma grande crise existencial, o que lhe faz questionar se realmente deixou um bom legado para sua família e o jornalismo.
Imagem: Netflix (Divulgação)
Uma coisa é unânime: não havia necessidade de Iñárritu realizar um longa de 159 minutos, uma vez que ele possui quase cerca de 1/4 com cenas reflexivas (só para enaltecer a fotografia e mixagem de som) e que posteriormente são explicadas em breves diálogos. Ele também pecou ao tentar mesclar a pauta do conflito entre México e EUA (com algumas críticas ao governo Trump, que no contexto atual não se encaixam mais) em um cenário maior, deixando várias lacunas quando parte para retratação das críticas do jornalismo, como um todo.
Neste tópico, o mesmo parece que “bebeu demais” da fonte do sucedido “Birdman” (inclusive há uma discussão na cobertura de um prédio, remetendo demais ao que foi visto no filme com Michael Keaton), ao mostrar vários pontos de vista de como o jornalismo se reduziu a manchetes do TikTok e notas em posts de Facebook (mas infelizmente se resumem em diálogos, ao invés de explanações). Isso sem citar que faltou aquela acidez que o veterano já havia mostrado no citado, se tratando de conflitos nos bastidores da profissão.
Mas não estamos falando de um filme relativamente ruim, muito pelo contrário, é um bom filme, só que como toda produção do citado, certamente este irá dividir e muito o espectador (já que estamos falando de uma narrativa que está repleta de mensagens subliminares, e poucos diálogos em alguns arcos). Um claro exemplo é colocado nos primeiros 15 minutos, onde embora deixe embasada uma ótima fotografia de Darius Khondji (que consegue tirar reflexos em poças de água e à todo momento nos transporta para dentro da cena, tamanho realismo que é exercido) e mixagem de som (que consegue fazer até um simples estalo e assobio, terem presença em cena).
Em quesito de atuações, digamos que o verdadeiro grande nome é de Daniel Giménez Cacho (que embora não fature indicações nas premiações grandes do cinema, terá vários novos projetos gigantes pelo qual será atrelado), que consegue transpor tamanha maluquice que sua mente está vivenciando. Inclusive, é inevitável recordarmos quaisquer jornalistas brasileiros ao vermos a história de Silverio (principalmente os mais renomados como Roberto Cabrini).
“Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades” termina sendo um ótimo filme em aspectos técnicos, mas com uma fraca história, contada por um dos maiores cineastas da atualidade.