Após a desistência de Ben Affleck do manto de Bruce Wayne/Batman, uma lacuna se abriu ao cargo de um dos maiores personagens da DC. No meio do caos que estavam nos bastidores, a Warner Bros acabou contratando o cineasta Matt Reeves (que tinha acabado de finalizar a sucedida trilogia de “O Planeta dos Macacos“), para dirigir e escrever (junto de Peter Craig) uma nova trama (já que nada do que foi feito por Affleck, nestas funções, não seria aproveitado também). Com a escalação de Robert Pattinson para o papel de protagonista, muitas pessoas ficaram divididas (afinal, o grande público não conhece seus trabalhos diversos em filmes menores, ao contrário de “Crepúsculo“). E só digo uma coisa: eles trouxeram uma imagem totalmente nova do personagem.
A história se passa cerca de dois anos depois que Bruce Wayne assumiu o manto de Batman, onde enquanto Gotham ainda não tinha se acostumado com o herói, com exceção do detetive James Gordon (Jeffrey Wright). Quando misteriosas mortes começam ocorrer, acompanhadas de misteriosos enigmas realizados pelo criminoso Charada (Paul Dano), ambos começam a ver que a cidade está correndo um perigo muito além do que imaginavam.
Imagem: Jonathan Olley/Warner Bros Pictures (Divulgação)
Notamos que estamos falando de uma pegada totalmente diferente do personagem, em seus primeiros minutos em cena. Quando Batman chega para analisar uma cena de crime, vemos que o cenário não é de tranquilidade, e sim de desprezo por grande parte dos presentes. Carregado com a trilha sonora de Michael Giacchino, acompanhadas da icônica música do Nirvana, “Something In The Way” (cuja letra combina exatamente com o cenário visto em cena), conseguimos embarcar na jornada do próprio Batman. Sim, Reeves e Craig idealizaram este filme sobre o próprio alter-ego de Bruce Wayne, ao invés do próprio (que aparece relativamente pouco, em relação de quando está como a sua outra persona).
Tanto que não há muitas cenas de ação com CGI, explosões excessivas e até mesmo feitos grandiosos. Estamos falando de um filme de investigação, com uma forte pegada noir e se assemelhando até os sucedidos filmes “Seven” e “Zodíaco” (cujo estilo ultimamente havia sumido dos cinemas). E Pattinson realmente da conta do recado, pois o ator tem a expressão e presença necessária para este tipo de contexto.
Agora, enquanto em “Coringa“, víamos o nascimento de um vilão em torno da sujeira e desgraça que estava a cidade de Gotham (que facilmente podemos igualar com qualquer município real), em “Batman” vemos um nascimento deste herói, neste mesmo cenário. E digo isso, pois a fotografia de Greig Fraser, entelada ao design de produção de James Chinlund (que inclusive criou fisicamente a maior parte externa de Gotham), nos transpõe toda aquela depressão que é a cidade onde o filme se passa.
Quanto às personalidades que vimos serem mergulhadas neste cenário, Reeves primeiro explora de forma plausível Selina Kyle/Mulher-Gato (Zoë Kravitz), o mafioso (John Turturro, em ótima interpretação) e até o próprio Charada (que até então não tinha sido um ótimo vilão nos cinemas). Enquanto algumas sementes são plantadas para vindouras continuações neste universo, como o próprio Oswald Cobblepot/Pinguim (Colin Farrell, em uma irreconhecível e ótima maquiagem).
“Batman” só mostra que quando os executivos da Warner/DC resolvem não meter a mão em um projeto, ele pode claramente se tornar um dos filmes mais marcantes da história do cinema.