Não tem como notar que a Netflix tem tentado reformular a história da icônica Marilyn Monroe, desde o lançamento do documentário “O Mistério de Marilyn Monroe: Gravações Inéditas“ e agora com este “Blonde” (que ficou na geladeira da plataforma durante quase dois anos). Conhecida por ter uma personalidade boêmia, misteriosa e polêmica, neste filme de Andrew Dominik (que assina o roteiro e direção), parece que estamos falando de uma mulher que foi vítima de uma escuridão recorrente em Hollywood, mas que ela não estava ciente de alguns atos (quando muitos sabem, que ela estava).
Inspirado no livro de Joyce Carol Oates, a trama é um misto de ficção com realidade e contra a trajetória de Monroe desde sua infância e passamos por diversas fases de sua vida, por intermédio de situações chaves e marcantes. Porém, os nomes da maioria dos personagens são “trocados” (e a justificativa é plausível, datado os primeiros minutos que enaltece isso na relação entre ela e sua mãe, vivida por Julianne Nicholson) e até mesmo tratados como pseudônimos (no caso, o nome artístico Marilyn Monroe é dito apenas quando entrelaçado aos seus trabalhos e na vida pessoal ela sempre é citada como Norma Jeane).
Apesar de a própria Netflix ter usado o argumento que seria seu primeiro filme com a classificação NC-17 (censura que proíbe quaisquer menores de 17 anos, assistam a obra), confesso que não existe absolutamente nada que seja retratado para ter “conquistado essa proeza”. Tudo acaba soando como um mero marketing do serviço, uma vez que eles tinham em mãos um conjunto de cenas que sempre acabam caindo no mesmo buraco (o trauma de Monroe nunca ter conhecido seu Pai) e acaba se tornando algo constante durante quase às três horas de filme (que certamente poderiam ter menos 30/40 minutos).
Imagem: Netflix (Divulgação)
Isso porque ainda não citei que neste filme a verdadeira heroína foi Ana de Armas, que certamente encarnou totalmente uma das principais Sex Symbol de Hollywood. Seja por conta das expressões, fala delicada/rouca, olhares e até mesmo o trabalho da equipe de cabelo e maquiagem (que deixaram ela assustadoramente igual aquela).
Apesar dela não ter uma química com Bobby Cannavale e Adrien Brody (que interpretam seus primeiro e segundo maridos, respectivamente), nitidamente o intuito do diretor foi mostrar que ela era uma pessoa única e não precisava de mais ninguém (e isso falhou feio). E ainda não citei o quão chulo foi o ato que mostrava o caso dela com o Presidente Kennedy, que chega a ser um arco vergonhoso (tamanha complexidade que havia neste relacionamento de ambos).
E ainda Dominik procura enfatizar dois momentos distintos de Monroe, onde o primeiro mostra sua vida pessoal e o segundo o seu trabalho na dramaturgia. Só que por mais que ele tente jogar pautas atuais no projeto (como abusos sexuais, verbais e outras coisas torpes que haviam na indústria), sentimos que tudo foi jogado apenas para “agradar” uma parcela do espectador que só busca isso nos filmes e nada mais além.
Um outro motivo para vermos o quão o diretor jogou potencial fora, foi a fotografia de Chayse Irvin que só se resume a formatos de tela (Widescreen e Fullscreen) e tomadas em preto e branco (que acabam sendo clichês e horríveis). Faltou algo tão marcante e memorável como foram as sequências dos filmes “O Pecado Mora ao Lado” e “Quanto Mais Quente Melhor” (cuja a primeira conversa dela sobre o projeto, chega a ser uma piada ofensiva para quem conhece o mesmo).
“Blonde” acaba sendo mais um projeto biográfico da Netflix, que promete muito e só acaba entregando apenas uma atuação visceral da cubana Ana de Armas.