Em meio a um cenário caótico das eleições presidenciais de 2016, a indústria do cinema acabou sendo totalmente sacudida quando as jornalistas Megan Twohey (Carey Mulligan) e Jodi Kantor (Zoe Kazan) fizeram uma grande investigação que acabou resultando na condenação do poderoso empresário cinematográfico Harvey Weinstein. Acusado de vários casos de abuso com atrizes de Hollywood como Ashley Judd, Gwyneth Paltrow (que na época estava namorando Brad Pitt, um dos produtores do longa) e Uma Thurman, era o inicio do movimento #MeToo, que foi revelando vários casos do mesmo estilo na indústria cinematográfica mundial (mas ultimamente vem perdendo força por conta de politicagem e fake news, por parte da própria indústria cinematográfica e jornalística).
Inspirado no livro de mesmo nome, o longa “Ela Disse” mostra o que levou as jornalistas citadas a iniciarem a investigação contra o poderoso produtor. Em meio a um cenário repleto de tensões, ameaças e entrevistas com depoimentos fortes, a dupla acaba reparando que realmente estão entrando em um cenário sem volta.
Apesar de se tratar de uma história recente e bastante fresca na mente do espectador, era de se esperar que Hollywood iria levar este caso para as telas do cinema uma hora ou outra. E por intermédio do roteiro de Rebecca Lenkiewicz (que provavelmente vai ganhar o Oscar por este trabalho), vemos o quão ambas conseguiam transparecer a maior tranquilidade ao abordar vítimas (embora os depoimentos sejam bastante pesados) e vários executivos da própria Miramax (pelos quais na maioria das vezes, se encontravam totalmente encurralados).
Imagem: Universal Pictures (Divulgação)
Mesmo contendo apenas as vozes de algumas (como foi o caso de Rose McGowan, cujo breve arco mostra o quão a mesma ficou destruída conforme os anos), a veterana Ashley Judd foi a única atriz que optou por interpretar ela mesma na produção (enquanto outras profissionais foram vividas por atrizes) e realmente transparece o quão a situação foi complexa na vida dela e de outras mulheres.
Por se tratar de um filme que fala mais com o público feminino (inclusive, muitas delas irão se identificar com alguns diálogos e falas, como a sequência do bar), a diretora Maria Schrader errou ao tentar falar com os espectadores masculinos, uma vez que por mais que uma parcela destes saibam do ocorrido por causa da grande mídia (uma vez que não vemos a reação de quem está fora da história), certamente não será este filme que fará com que eles tenham compaixão pelo arco contado.
E com atuações realmente muito boas, tanto Mulligan como Kazan podem ser indicadas em várias premiações (assim como o Oscar), mas não por serem performances marcantes, mas sim pelo contexto da trama (inclusive, me lembrou bastante ao recente “The Post”, só que melhor e mais ácido).
“Ela Disse” consegue apresentar com êxito os bastidores do conturbado caso de Harvey Weinstein, e como o caso #MeToo é mais complexo do que imaginávamos.