Certamente este era um dos mais aguardados filmes do ano, pois o cineasta Robert Eggers (“A Bruxa” e “O Farol“) não havia errado em seus primeiros longas e dificilmente iria errar a mão com “O Homem do Norte“. Apesar do mesmo ter citado que a Universal Pictures lhe fez deletar uma boa parte da metragem (que seria de quase quatro horas), confesso que não houveram problemas na própria narrativa e tudo acabou fluindo plausivelmente. Com uma forte inspiração na obra de William Shakespeare, “Rei Lear” (que curiosamente foi inspirada em uma lenda Viking), vemos que Eggers apostou em um estilo bem diferente ao mesclar uma trama épica com toques de horror psicológico.
A história se passa cerca de 600 DC, quando o então Rei Aurvandil War-Raven (Ethan Hawke) está prestes a se aposentar e passar o reinado para seu filho, o Príncipe Amleth (Oscar Novak). Porém, aquele acaba sendo brutalmente assassinado por seu irmão, Fjölnir (Claes Bang) e sua mãe, a Rainha Gudrún (Nicole Kidman) acaba sendo sequestrada por ele. Anos depois do ocorrido, ele retorna ao local (agora interpretado por Alexander Skarsgård) com uma enorme sede de vingança.
Imagem: Universal Pictures (Divulgação)
Em um primeiro momento muitos irão se estranhar com a narrativa de Eggers, pois o roteiro (que foi escrito pelo próprio com o cineasta Sjón) apela e muito para o lado Shakespeariano (com diálogos mais cultos e dicção mais parada). Mas neste estilo, ele começa uma interessante construção para Amleth, pelas quais vemos que o mesmo é humano (possuindo seus erros, acertos e até mesmo se machucando feio durante as batalhas, embora seja considerado um grande guerreiro). E isso também é mérito de Skarsgård, que possui um semblante perfeito para este papel.
Claro, sua jornada é repleta de violência e cenas bizarras de assassinato (inclusive o excesso de exposição de cadáveres putrefatos e decepados, foi a causa da censura ter sido 18 anos), pelos quais os mais sensíveis irão se sentir desconfortáveis (mas isto é plausível, pois faz parte da construção do terror psicológico). E isto atrelado a fotografia de Jarin Blaschke (constante colaborador de Eggers), fica ainda mais tenso, mas belo quando estamos visitando cenários do Norte da Europa (pelos quais a maior parte do longa se passa).
Com relação ao elenco de apoio, todos estão operantes. Mas existem dois momentos chaves das atrizes Nicole Kidman e Anya Taylor-Joy, pelos quais entendemos o porquê da ênfase na escalação das duas (não vou entrar em detalhes, para não acabar dando spoilers).
“O Homem do Norte” acaba sendo um longa bastante diferente do habitual, e explora o universo Viking de uma maneira totalmente diferente do padrão deste tipo de produção. Mais um acerto de Robert Eggers.