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Crítica | Sergio – um mito em tempos sem mitos

Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, o carioca Sérgio Vieira de Mello foi o primeiro brasileiro a ocupar um cargo no alto escalão da Organização das Nações Unidas (ONU). Morto em um atentado terrorista em Bagdá, no Iraque, em 2003, ele era apontado como provável substituto de Kofi Annan na secretaria-geral da ONU.

Homenageado com um busto próximo do Emissário Submarino, em Santos, o diplomata tinha como grande trunfo sua facilidade em negociar acordos de paz em áreas turbulentas pelo mundo. Tais histórias, no entanto, nunca tiveram tanta atenção em Hollywood.

Agora, quase 17 anos após a morte do carioca, a Netflix estreia o longa Sergio. A cinebiografia, que estreia nesta sexta (17) na plataforma, retrata Mello em missões no Timor-Leste, Camboja e Iraque. Mas também mostra o diplomata em suas relações pessoais.

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Sobre o filme

O filme utiliza flashbacks de operações de Mello pelo mundo, enquanto sua atuação em Bagdá é apresentada ao público.

Carismático e complexo, Mello (Wagner Moura) passou a maior parte de sua carreira como diplomata sênior da ONU. Em resumo, atuando nas regiões mais instáveis do mundo.

Habilidoso, ele conseguia fechar acordos com presidentes, revolucionários e criminosos de guerra para tentar proteger a vida das pessoas comuns. Justamente no momento em que se preparava para viver uma vida mais simples com a mulher que amava (Ana de Armas), Sergio assumiu uma última missão em Bagdá, recém-mergulhada no caos após a invasão americana.

A tarefa deveria ser breve, mas uma explosão fez com que a sede da ONU caísse literalmente sobre ele. É o início de uma emocionante batalha de vida ou morte. Inspirado em uma história real, Sergio apresenta um homem levado aos limites físicos e emocionais.

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Moura, mais uma vez, está muito bem em cena. Falando boa parte do filme em inglês, o ator se destaca nos momentos de conflitos. Em uma das cenas, ele é confrontado por um líder do Timor-Leste, que o questiona se a ONU ficará apenas assistindo os massacres no país, tal como ocorreu na Bósnia e Ruanda.

Contexto histórico

As duas missões, por sinal, são duas das maiores falhas da história da ONU. Na primeira, o exército holandês, que comandava a missão de paz em Srebrenica, na Bósnia, só faltou servir o chá da tarde para os militares sérvios, enquanto eles arrancavam todos os homens do acampamento de refugiados. Na sequência o que se viu foi um dos maiores genocídios da história.

Em Ruanda, não foi diferente. A falta de negociação, entre 1990 e 1994, levou a morte de 800 mil pessoas. Milícias formadas por hutus praticamente devastou os tutsis.

Mello passou a liderar negociações de conflitos após esses fracassos. E foi da segunda metade dos anos 1990 em diante que ele mostrou personalidade para lidar com tensão.

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Em outra cena marcante de Sergio, o diplomata discute com Paul Bremer, o enviado do governo dos Estados Unidos ao Iraque. “A ONU trabalha para nós, ele não pode tomar iniciativa”, reclama o norte-americano ao saber que Sérgio agendou uma reunião com o Aiatolá Sistani, com o intuito de organizar as eleições iraquianas e o fim da ocupação americana.

“A ONU não é ferramenta de ninguém. Somos uma organização independente. O secretário-geral Kofi Annan e eu não dependemos de ninguém. Então não venha me sugerir que estamos aqui para ajudar os EUA e a coalizão”, rebateu o diplomata em entrevista.

Com a demora em chegar a um acordo para o fim da ocupação norte-americana no Iraque, Mello virou alvo da Al-Qaeda, que assumiu a autoria do ataque.

Uma cinebiografia cuidadosa e recomendada para quem está em busca de heróis e mitos brasileiros nos dias atuais.

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