O tom é menos imparcial que o filme Polícia Federal – A Lei é Para Todos (2017), mas não alivia em nada na polêmica. A nova produção da Netflix no Brasil, O Mecanismo, que estreou ontem em mais de 190 países, mostra a origem e os desdobramentos da Operação Lava-Jato, que deflagrou o maior escândalo de corrupção da história do Brasil.
Sob a ótica do diretor José Padilha, a série parece até uma sequência natural do filme Tropa de Elite 2: o inimigo agora é outro (2010). Algumas mudanças que o telespectador observa de cara são a entrada da Polícia Federal no lugar do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), a troca do protagonista Wagner Moura por Selton Mello, além dos termos como mecanismo (corrupção) e câncer (sistema),entre outros.
Lançar a produção em um ano eleitoral não é uma coincidência. “Eu acredito que pode ter alguma influência. É algo que já está muito presente no noticiário, mas a série pode ajudar a lembrar dos fatos”, comentou o ator Lee Taylor, que interpreta um policial federal, durante a première da série, na
última semana, no Copacabana Palace, no Rio de Janeiro.
A primeira temporada é composta por oito episódios. Uma sequência não está descartada, mas também não foi confirmada até o momento. A série de Padilha é inspirada no livro Lava Jato: O juiz Sergio Moro e os bastidores da operação que abalou o Brasil, do jornalista Vladimir Netto. E o próprio diretor deixa claro que é um drama de ficção inspirado em fatos ocorridos no Brasil.
Em outros momentos, gosta de frisar que retratou da forma como ocorreu. “O doleiro foi preso dessa forma, não teve nada de diferente”, comentou na coletiva de imprensa, na última semana, no Rio de Janeiro. A versão apresentada por Padilha é um pouco diferente da mostrada no filme A Lei é Para Todos, mesmo que ele não faça menção na comparação.
Na série, Selton Mello (Meu Nome Não é Johnny) é Marco Ruffo, um delegado da Polícia Federal obcecado pelo caso que está investigando; Carol Abras (Avenida Brasil) é Verena Cardoni, a determinada aprendiz de Ruffo; Enrique Diaz (O Auto da Compadecida) interpreta Roberto Ibrahim, um criminoso que é o objeto da obsessão de Ruffo. E essa ligação bem Tom & Jerry entre Ruffo e Ibrahim, que inclui uma amizade nos tempos da escola e uma mulher em comum, termina de forma trágica. Mas vamos parar por aqui. Algumas coisas a mais podem render spoilers significativos.