Em 2018, o número de assassinato de pessaos trans chegou a quase 400 em todo o mundo. Os dados apontam o Brasil como país que mais mata pessoas trans no mundo.
Segundo a Antra, Associação Nacional de Travestis e Transexuais, em 2019, houve 124 assassinatos no país, sendo as vítimas 121 travestis e mulheres trans e três homens trans.
Vale ressaltar que a escala de assassinatos pode ser ainda maior, já que, a transfobia não é noticiada pela polícia e grande mídia. A maioria das vítimas chegam a óbito por espancamento. Diversos casos acontecem em zonas periféricas, onde há difícil acesso a informações.
Projeto Transceda e documentário
Viver em um mundo norteado pelo preconceito, por si só, já é difícil. Afinal, tudo que foge do padrão recebe olhares tortos. Por mais que seja complicado, encarar essa sociedade é muito mais sereno para pessoas cisgêneras. Isto é, indivíduos que se identificam em todos os sentidos com o seu gênero de nascença.
No entanto, para pessoas trans, o panorama é catastrófico, pois a marginalização começa dentro da própria casa. Por isso, Bryan Henrique Faria de Souza, 20 anos, e Raphaella Silva Peixoto, de 19, decidiram criar um canal de comunicação informativo, educativo e acolhedor para a comunidade, em específico aos jovens trans.
A plataforma online, nomeada Transceda, é dedicada a pautas da comunidade LGBTQIA+. O veículo de comunicação ganhou até documentário, que leva o mesmo nome. Entretanto, a ideia alcançou uma terceira pessoa, inspirada pela causa.
O projeto tornou-se tema do trabalho de conclusão do curso de Jornalismo do estudante Vinícius do Carmo Almeida, de 22 anos. Então surgiu o curta documentário Transceda (2020), de quase 12 minutos, que foi gravado em apenas três dias.
A ideia surgiu da proximidade do diretor com o tema ao acompanhar a batalha diária contra o preconceito. “Meu objetivo era transformar meu TCC em um canal de voz para estas pessoas. Ele tinha que ser prático, educativo e sensível”.
“Uma ferramenta para os entrevistados contarem um pouco de suas histórias e sensibilizarem o espectador ao mesmo tempo, combatendo o preconceito a partir do conhecimento sobre o assunto. Eu, como jornalista, acredito muito na profissão como uma aliada das causas sociais, o que também foi fundamental na escolha do tema”, relata Vinícius.
O filme também contou com a participação da estudante de Cinema e Audiovisual Isabella Graça. A equipe decidiu seguir um caminho informativo, explicando ao espectador sobre os conceitos de gênero.
Além disso, abordam empregabilidade, marginalização, saúde mental e relacionamentos amorosos das pessoas trans. Tudo a partir do depoimento do casal de ativistas e agentes sociais.
Um canal essencial para a comunidade LGBTQIA+
Neste ano, o projeto Transceda completa dois anos. Além de atuarem nas redes sociais, possuem uma sede física em parceria com o projeto Tia Egle, na Zona Noroeste, em Santos.
O projeto também consiste em palestras sobre a temática em instituições e eventos. Em entrevista exclusiva ao Blog’n Roll, o casal fundador conta sobre o relacionamento, criação do Transceda e também o processo de amor próprio.
“Nosso maior processo de aceitação foi juntes, pois quando começamos a namorar tínhamos muitos problemas com nossos corpos: bloqueios e inseguranças. O fato de sermos trans ajudou bastante para que houvesse uma grande empatia entre nós dois”.
“Isso desenvolveu uma desconstrução dos nossos corpos. Agora fazemos coisas simples do cotidiano que antes não tínhamos coragem, como ir à praia ou andar com as roupas que sempre quisemos. Percebemos também a aceitação e respeito com o corpo do outro”, confessam.
Nossos corpos são plurais. Existem várias maneiras de ser e estar. Existem várias maneiras de ser quem a gente é. A gente não precisa se limitar a uma coisa só.Raphaella Silva Peixoto
Esse processo pessoal também afetou a produção do documentário. “Nós nos sentimos muito acolhides em todo o processo de gravação. Conseguimos compartilhar muitas experiências e vivências”.
“Fizemos questão de mostrar o lugar onde moramos, de que além de sermos pessoas trans, somos pessoas periféricas, que estão em mais vulnerabilidade”, revelam.
A busca pela reflexão, portanto, torna-se ainda maior. Ainda refletem juntes sobre a importância da informação e representatividade nos meios de comunicação.
Confira o documentário Transceda, disponível na íntegra no YouTube: