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Válvula de Escape - Pablo Mello

Válvula de Escape #19 – A mesma fossa de sempre em todos os dias de chuva

Carregado por um sentimento estranho trazido pelas chuvas do último fim de semana, fui obrigado a fazer algo mais pessoal para o texto desta semana. Todos temos discos ou canções que continuam mexendo conosco ano após ano. No meu caso, Me Chama é a música da vez neste sentido.

Conheci a faixa ainda na minha infância, talvez por influência paterna. Na época, apesar de tratar-se apenas de mais um MP3 no bolo de outros tantos arquivos daquele computador antigo, a música me trouxe uma sensação que eu só compreenderia mais tarde.

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A canção, composta por Lobão, foi primeiramente lançada por Marina Lima no álbum Fullgáss, em 1983. A versão da cantora traz uma balada clássica, o que é indicado principalmente pela sua levada de bateria – que tem uma crescente a partir do trecho que antecede o “Mágica no absurdo” inicialmente, sendo que o mesmo ocorre posteriormente de antemão ao “Lágrima no Escuro”.

Vale pontuar que o baterista da banda que acompanhava Marina à época, era o próprio Lobão. O músico relançou a faixa no ano seguinte com o projeto Lobão e Os Ronaldos. Desta vez integrando o disco Ronaldo foi pra guerra, a faixa obtém uma melancolia maior, que é concebida através de um vocal que grita e, de fato, expressa o que é dito na letra. Definitivamente, isso é o o que mais me fascina na versão do grupo que ainda tinha Alice Pink Pank (ex-Gang 90), Guto Barros, Odeid Pomeranblum e Baster Barros em sua formação.

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Em entrevista ao Canal Bis, pelo quadro Por Trás da Canção, Lobão contou “não queria ser artista solo”, já que “achava isso muito cafona”. Interessado em montar uma banda com o guitarrista Guto Barros, que retornara há pouco de Boston, Lobão teve de lidar com a perda de sua mãe antes de seguir com o grupo.

Ainda na matéria citada acima, o músico relatou o fato como “um grande trauma”. “Fiquei abaladíssimo. A Alice, que era minha namorada no momento, tinha sugerido que a gente fosse pra Holanda visitar a família dela. Aí lá no final da viagem, o pai dela morre. A Alice falou que ia ficar e eu voltei pra casa”, relatou.

Retornando ao Brasil mais triste do que estava antes da viagem à Europa, Lobão teve de lidar com uma péssima situação financeira, que somada à saudade da companheira, tornou-se uma inspiração para o cantor.

“Eu estava duro feito um louco e só comia mortadela porque não dava pra comer outra coisa. Eu não podia ligar pra ela porque o meu telefone estava cortado e eu ficava agoniado querendo que ela me telefonasse. Eu recebia ligação de fora, mas não podia ligar. Aí teve um dia desses, que chovia e chovia, era junho ou julho. Uma coisa assim.  Eu escrevi uma coisa óbvia como ‘Chove lá fora e aqui tá tanto frio, aonde tá você, me telefona’. Eu fui fazendo e fazendo, mas no fim achei uma porcaria.  Nesse meio tempo,chegou um amigo meu. Eu já ia rasgar o papel, quando ele insistiu pra ouvir”, afirmou.

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No fim, o artista felizmente o escutou e a canção é lembrada até hoje como um dos marcos da década de 1980. Obrigado por compor minha fossa atemporal, Lobão. Deixo abaixo uma versão acústica da faixa, tão bela quanto ambas acima. 

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