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Válvula de Escape - Pablo Mello

Válvula de Escape #54 – O Terno se renova entre floreios setentistas e orquestrações

Na última vez que escrevi por aqui, ressaltei a ansiedade que sentia pelo novo trabalho do trio O Terno. Pois bem, o álbum saiu.  E sinceramente, é digno de encher os olhos d’água.  O álbum é tão saudosista quanto os demais trabalhos do grupo. No entanto, ainda assim é atual e contemporâneo.  Ao abusar de arranjos de cordas por exemplo, percebe-se uma espécie de clara evolução em relação ao ciclo Melhor Do Que Parece (2016)/Recomeçar (2017), respectivos último lançamento da banda e álbum de estreia solo do vocalista Tim Bernades.

Isso acontece principalmente porque a banda enxerga-se como um motor que atravessa (e com muita facilidade, diga-se de passagem) todos os prováveis fechos que pressupõe-se quando um grupo obtém o formato de um trio de rock, vulgo bateria, guitarra e baixo, entre sua cama instrumental. Ou seja, é regado de orquestração, onde metais e cordas fazem com que soe mais como grupo de apoio. O disco é composto por 12 faixas, sendo que todas, sem exceção, seguem esta prerrogativa.

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Particularmente, me senti especialmente tocado pela Pegando Leve. A música sintetiza a agonia entre as inevitáveis decisões que somos obrigados tomar  quando estamos com “20 e poucos anos”. Numa única faixa, Tim exalta a confusão jovial  no anseio por pontos que se opõem. Aliás, o cantor recita à si de modo sorrateiro, com Deixar Fugir, Recomeçar e Ai Ai Como Eu Me Iludo.

Velha conhecida

Eu Vou é outra faixa que se destaca no álbum. Já esperava por isso desde meados de 2017, quando a mesma música foi lançada na voz de Paulo Miklos, integrando o repertório do disco A Gente Mora No Agora. Tudo que eu queria naquele momento, ocorrera: uma versão da faixa na voz do seu próprio compositor. Tim é sútil e simultaneamente intenso. Seu timbre sempre foi bonito, mas agora o músico consegue florear melhor, passeando bem entre falsetes e afins. Isto é imprescindível para que esta música soe tão bem, inclusive.

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Participações mais do que especiais e backing vocals

Admito que nunca imaginara O Terno com backing vocals. Se alguém me contasse que a banda utilizaria este artifício há alguns meses, dificilmente acreditaria na possibilidade disto tornar-se real de fato. No entanto, em , o trio consegue fazê-lo ainda obtendo duas frentes distintas. Em Bielzinho/ Bielzinho, Tim, Biel e Guilherme trazem uma quentura que me remete diretamente ao samba rock de Jorge Ben Jor. Com backing vocals de Ana Frango Elétrico, Luiza Lian, Maria Beraldo, Maria Cau Levy e Tulipa Ruiz somados à um violão pra lá de dançante (além de todo o belo o arranjo), eles fazem essa menção na melodia. A música também me fez recordar Ben devido à sua letra. Já que Tim tira proveito de toda a informalidade possível ao homenagear o próprio baterista do grupo, Biel Basile.

Outra faceta vocal d’O Terno ocorreu em relação às participações especiais de Devendra Banhart e Shintaro Sakamoto na faixa Volta E Meia. Devendra repete os versos de Tim, no entanto cantando em espanhol, de uma forma um tanto sussurrada, é verdade. Já Shintaro, realizo uma espécie de citação, em japonês. Assim, consegue prender a atenção com uma letra que diretamente nos faz pensar nas idas e vindas de um relacionamento.

Conceito visual

É impossível finalizar este texto sem abordar a tocante esfera visual de . A capa contém as três esferas em cores primárias em meio à um branco conceitual. Segundo a banda, isto trata-se de “um horizonte sem limites, representando três caminhos que se unem para a solução da equação na soma desses. A divisão tripartida concretista do nome da banda reforça o conceito, em que o ‘O’ simboliza o indivíduo, o sujeito; o ‘Ter’ remete à bagagem que se carrega, e o ‘No’ à situação, onde se está, para onde ir e de onde se veio”.

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