Prestes a completar 76 anos de idade (no próximo dia 3 de março), Jards Macalé lançou dois singles em janeiro: Trevas e Buraco da Consolação, sendo esta última uma parceria com Tim Bernades (O Terno). Ambas as canções irão integrar o primeiro álbum autoral de Jards desde O q faço é música (1998). O disco está previsto para esta sexta-feira (8).
Há tempos que um amigo muito próximo insiste arduamente para que escute o material desse artista “com mais carinho”, já que não obtive afeto pelo pouco que havia escutado até aqui. Bem, com os novos lançamentos em pauta, resolvi fazê-lo aos poucos, justamente iniciando pelos singles citados acima. Não me envolvi tanto com Trevas, apesar de ser uma boa canção, que mistura leves distorções, diversas quebras e uma pitada de “jazzy”. Vale pontuar que a adaptação de Jards Macalé para Canto I de Ezra Pound, a partir da tradução de Augusto de Campos, Décio Pignatari e Haroldo de Campos.
No entanto, fui acertado em cheio pela canção Buraco da Consolação, que aborda a regionalidade em meio à melancolia de um samba-canção inspirado pelo disco Jamelão interpreta Lupicínio Rodrigues, de Jamelão com a Orquestra Tabajara. A letra de Tim simplesmente é tocante, e ganha toda a intensidade vozes simplesmente se encaixam muito bem na melodia de Jards, crescente e bem arranjada devido à bela produção de Kiko Dinucci e Thomas Harres.
Enfim, o ponto é que o então próximo disco de Macalé já me causa certo anseio, mas não chega nem perto de empolgar ao ponto de chegar nos pés dos discos já consagrados pelo artista, em termos de expectativa. Falando nisso, caso tenha caído sorrateiramente de paraquedas neste texto, sugiro a audição do EP Só Morto/Burning Night. O trabalho conta com quatro faixas, incluindo a poderosa Soluço.
Agora, preciso finalizar aqui. Afinal,”ainda não comprei meus óculos escuros”