Os últimos anos do Weezer têm sido bem produtivos. Foram três discos em pouco mais de três anos, além da promessa de mais um ainda neste ano. Mas nada disso tem pesado na atual turnê da banda, junto com a veterana Pixies, pela América do Norte. Prova disso é que o disco mais presente no repertório padrão é o Blue, debute dos caras, de 1994, com cinco faixas.
No início da nossa jornada pela Califórnia, a dobradinha Pixies/Weezer, em Chula Vista, bem próximo da fronteira com o México (Tijuana), no último dia 11, foi um programa completamente indispensável e garantido com alguns meses de antecedência. O Mattress Firm Amphitheater, palco desse encontro, estava completamente lotado (mais de 20 mil pessoas).
E logo de cara me chamou a atenção a forma como o Pixies se portou no palco. Apática, a banda teve poucos momentos iluminados e a resposta do público só veio com firmeza nos principais sucessos: Debaser, Gigantic, Where is my Mind. Here Comes Your Man ficou de fora, como tem acontecido com frequência nessa turnê.
Doolitle, de 1989, álbum que conta com Debaser, foi o mais lembrado por Black Francis. Desse registro, o grupo tocou oito faixas. E tal como o Weezer, a escolha também chama a atenção. O EP Come On Pilgrim e o debute, Surfer Rosa, que completam 30 anos de lançamento, vão ganhar edições de luxo nos próximos meses. Como esse ainda não é o foco dos caras, sete faixas (na soma) dos dois registros foram tocadas.
De fato, o repertório não tem como ser criticado. Head Carrier, último registro de estúdio da banda, aparece com outras cinco canções. Então, para quem é fã de Dollitle, o set é um prato cheio, vide que Head Carrier lembra muito o clima do clássico.
“Foram três semanas gravando e, de certa forma, sim (sobre a comparação com Doolittle). Nós não temos uma fórmula e não temos um plano do que fazemos. Eu acho que esse disco soa como soa porque nós sabíamos as músicas muito bem e quando entramos em estúdio foi muito fácil de gravar”, declarou o baterista, David Lovering, em entrevista exclusiva para o Blog n’Roll, à época do lançamento.
Mas se a banda não parecia muito ligada no show, a baixista argentina Paz Lenchantin destoou. Simpática na comunicação com o público, ela mostrou muita desenvoltura no palco, cantou, tocou e parecia muito mais na vibe do evento do que os seus companheiros.
Com quase 50 músicas lançadas nos seus últimos quatro trabalhos de estúdio, o Weezer parece ter passado uma borracha em tudo nessa turnê. Melhor para os fãs mais saudosistas. O show foi feito para eles. Prova disso está logo na primeira faixa da apresentação, Buddy Holly, na qual os integrantes subiram ao palco com o figurino do videoclipe e o cenário do restaurante Arnold’s Drive-In, da clássica série Happy Days (exibida entre 1974 e 1984), o mesmo do clipe.
Até Perfect Situation, sexta faixa do show, os fãs corresponderam com muito entusiasmo. Prova disso é que todos cantavam verso a verso das músicas e ninguém mais ficou sentado nas poltronas do anfiteatro.
O cenário muda algumas vezes, o visual de River Cuomos também, mas quase sempre fazendo menções ao início da carreira, como em In The Garage, na qual o vocalista avisou que “voltaria aos anos 1990, os tempos de garagem”.
Muito comunicativo, Cuomos arrancou aplausos e gargalhadas em todas suas pausas. Não deixou dúvidas sobre quem era o dono da festa.
As escolhas dos covers, sempre bem aguardadas, funcionaram também. Happy Together, do The Turtles, com um trecho de Longview, do Green Day, veio no final da primeira parte do show.
Enquanto o público ainda cantarolava o fim do medley, Cuomos deixou o palco rapidamente. O guitarrista Brian Bell assumiu o vocal para cantar Keep Fishin, mas ninguém estava muito atento nele, os olhos estavam todos voltados para Cuomos, que foi transportado por meio de uma estrutura móvel até o meio do anfiteatro.
Com o palco principal vazio e nenhuma luz no vocalista (que chegou a dizer que esqueceram de iluminar o palco secundário), Cuomos cantou Island in the Sun e Take on Me (A-Ha), ambas no violão e voz.
No caminho de volta de Cuomos para o reencontro com os seus companheiros, Brian novamente assumiu o vocal para cantar Burndt Jamb. A sequência final, já com o frontman em seu posto, não poderia ser mais enérgica: (If You’re Wondering If I Want You To) I Want You To, Feels Like Summer, Africa (Toto), Pink Triangle e Say It Ain’t So (com trechos de Paranoid, do Black Sabbath).
Essa parte final do show mostrou ainda um Weezer explorando alguns efeitos especiais, como labaredas de fogo no palco e queima de fogos de artifício. Fim de papo e muita correria dos fãs. Metade para esgotar a loja oficial do evento, o outro lado rumando aos centenas de Uber que foram até lá. Uma bagunça sem limites, nada muito diferente do Brasil (pelo menos nesse quesito).