shame abre a roda e consolida relação com fãs em São Paulo

Matheus Degásperi Ojea No já longínquo ano de 2019, os londrinos da shame se apresentaram pela primeira vez no Brasil. Na época, eles vieram como parte do line-up do Balaclava Fest, festival organizado pelo selo independente de mesmo nome, e fizeram uma apresentação paralela, na extinta casa de shows Breve. Então com apenas um disco de estúdio lançado, a passagem da banda, principalmente o show na Breve, visto por algumas centenas de pessoas, rapidamente se tornou um dos eventos mais comentados daquele ano e serviu de carta de apresentação aos fãs brasileiros. No último fim de semana, uma pandemia e um disco novo depois, a missão da banda, tocando sozinha na Fabrique, era avançar a relação para o próximo nível, o que conseguiu com maestria em um show explosivo. Parte de uma nova leva de bandas de punk e de pós punk surgidas na esteira do Brexit e dos sucessivos fracassos da condução do partido conservador inglês na política do país, o quinteto, no palco, parece aquela banda que os seus amigos formaram no ensino médio, se ela tivesse dado certo. Os integrantes, todos na casa dos 20 anos, aparentam ter recém saído da adolescência. O vocalista, Charlie Steen (rs), é o grande foco das atenções desde o primeiro momento, tanto pela sua altura quanto pelo carisma. Com uma performance magnética, ele conduz a pista (muitas vezes de dentro dela), que se transforma em um grande mosh pit durante a cerca de uma hora e meia do show. Pode até ser uma cartilha seguida por grande parte dos frontmen do estilo, porém é sempre satisfatório ver ela executada à perfeição e, principalmente, de maneira honesta. O restante da banda (Sean Coyle-Smith e Eddie Green, nas guitarras, Josh Finerty, no baixo, e Charlie Forbes, na bateria), apesar de mais discreta, não fica atrás. Bem entrosados, não só pelos ensaios, mas também por uma agenda lotada de shows pelo mundo, a banda dá o clima da festa sem deixar tempo para o público respirar. Pelo meio da apresentação, estão todos igualmente suados, público e artistas. Vale destacar o português macarrônico de Charlie Steen. O vocalista demonstrou um pouco mais de domínio na língua do que a média dos artistas internacionais que tocam no país. No meio do show explicou: “minha namorada é brasileira”. Disco novo, turnê nova do shame A responsável por trazer a banda ao Brasil é, novamente, a Balaclava Records, que comemora 10 anos em 2022. A turnê que passa pelo país é a do segundo disco de estúdio da banda, o ótimo Drunk Tank Pink, lançado em 2021 e composto durante a fase mais grave da pandemia de Covid-19. Mais sombrio que o seu antecessor (Songs of Praise, de 2018), o disco novo demonstra uma evolução da banda, porém não perde a essência do som levado por baixo e guitarras do primeiro registro. O disco, não por acaso, carrega uma ansiedade latente em boa parte de suas letras. No show, as faixas dos dois discos estão bem equilibradas, como a abertura, com Dust on Trial, do primeiro, e Alphabet, do segundo, já demonstra logo de cara. Tudo é bem recebido pelo público, que canta junto e, na falta da letra decorada, demonstra a sua satisfação na roda. O set é encerrado com Snow Day, uma das faixas mais interessantes do Drunk Tank Pink e que parece ser feita sob medida para finalizar apresentações. No entanto, não foi o fim de verdade. Após vários gritos de “olê, olê, olê, shame, shame”, a banda voltou ao palco, visivelmente satisfeita, para um incomum bis, com Gold Hole, do disco de estreia, somente então o show se encerrou e os roadies puderam subir ao palco para retirar o equipamento. Uma das coisas que mais chama a atenção no show da shame é o quão urgente ele é. A banda está acontecendo agora. O que o futuro reserva não dá para saber, porém, fica a oportunidade de acompanhar o crescimento de um dos grupos mais interessantes do rock atual. Independentemente de qualquer coisa, a relação entre a banda e os fãs brasileiros parece assegurada. Ao fim do show, Charlie prometeu voltar ao país ainda no ano que vem, com um disco novo. Ficamos no aguardo do cumprimento da promessa. SETLIST Dust on Trial Alphabet Fingers of Steel Concrete Alibis The Lick Six Pack Tasteless Adderall Born in Luton 6/1 Burning By Design One Rizla Angie Water in the Well Snow Day BIS: Gold Hole
Twenty One Pilots rouba a cena no GP Week, em São Paulo

Durante o show no GP Week, em São Paulo, o vocalista do Twenty One Pilots, Tyler Joseph, confirmou o que os fãs já esperavam: era o último show da fase Scaled and Icy, álbum lançado em 2021. E o gran finale não poderia ter sido mais impactante. O Blog n’ Roll já havia acompanhado um dos shows da série de apresentações em Londres, no meio do ano, mas o que vimos no O2 Brixton Academy ganhou proporções épicas no Allianz Parque. Tyler Joseph fez coisas, no mínimo, inusitadas, como escalar uma alta torre de transmissão para cantar e tocar Car Radio e Stressed Out, lá do topo do estádio. As investidas no público, como cantar Ride nos braços dos fãs, foi algo improvisado por aqui. E foi com essa energia que a dupla mais badalada da atualidade fez um dos shows mais incríveis da temporada no Brasil. Aliás, mesmo que o repertório não mude tanto de um lugar para o outro, o Twenty One Pilots consegue aprontar algumas surpresas. Guns for Hands, por exemplo, abriu pela primeira vez um show da dupla. Morph e Holding on to You, com os dois integrantes ainda mascarados, encerram a abertura sem a presença dos músicos de apoio. Curioso notar que o baixista Skyler Acord (Issues) não foi tão festejado como ocorrera em Londres, no meio do ano. Aqui, coube o protagonismo para o guitarrista Dan Geraghty e o trompetista Jesse Blum (queridinho das bandas de pop punk americanas). Em seu momento solo, Blum tocou Aquarela do Brasil, arrancando muitos aplausos e gritos dos fãs. Em Mulberry Street, Tyler Joseph comandou um jogo de luzes dos fãs. E pareceu se divertir muito com a tradução de up e down. “Pra cima, baixo”, disse aos risos. Logo depois, os músicos improvisaram uma fogueira no palco para fazer um set acústico. Por lá, fizeram um medley das melhores músicas da dupla, incluindo The Judge, Migraine, Tear my Heart, House of Gold e We Don’t Believe Whats on TV. O que se viu após a Aquarela do Brasil, que veio na sequência do set acústico, foi um desfile de hits e invasões dos integrantes na plateia. Jumpsuit, Heavydirtysoul, Level of Concern, Ride, Shy Away, Car Radio, Stressed Out, Heathens e Trees. Não teve tempo para sair do palco esperando o pedido por bis. Foi uma porrada única. Emocionado com o apoio dos fãs, Tyler Joseph prometeu não demorar para retornar ao Brasil. Claro que a pandemia contribuiu, mas acredito que será difícil a dupla ficar mais quatro anos sem vir ao País. Setlist Guns for Hands Morph Holding on to You The Outside Lane Boy Chlorine Mulberry Street Set acústico The Judge / Migraine The Hype / Nico and The Niners / Tear my Heart House of Gold / We Don’t Believe Whats on TV Palco principal Aquarela do Brasil/ Halo Theme Jumpsuit Heavydirtysoul Level of Concern Ride Shy Away Car Radio Stressed Out Heathens Trees
Hot Chip faz show flopado em dia de grandes apresentações

A banda inglesa Hot Chip, que veio na sequência do The Band Camino, foi quem destoou do lineup do GP Week, no Allianz Parque, em São Paulo. Foi a única apresentação na qual parte do público continuou sentada na pista premium aguardando os shows principais. De fato, sonoridade não batia muito com as demais atrações e a falta de carisma do vocalista também atrapalhou. Alexis Taylor parece estar em um show particular dentro do próprio quarto, sem animação alguma. Felizmente, ele é o único que estava em um mundo paralelo. Os demais integrantes parecem se divertir bastante com as próprias canções. Dançam como se não houvesse o amanhã. Mas vale destacar que isso não é assim sempre. Alexis costuma ser muito mais animado e carismático. O repertório do Hot Chip foi bem direcionado para os dois últimos lançamentos da banda, Freakout/Release e A Bath Full of Ecstasy, que tiveram três e duas músicas executadas, respectivamente. Não quero ser injusto com a banda, talvez a vibe tenha sido estragada pelos fãs que estavam muito ansiosos por Twenty One Pilots e The Killers. Setlist Down Flutes Eleanor Freakout/Release Hungry Child Ready for the Floor Straight to the Morning Melody of Love Dance (ESG cover) Over and Over Huarache Lights I Feel Better
Com Mateus Asato de convidado, The Band Camino tem estreia promissora

Pela primeira vez no Brasil, a banda norte-americana The Band Camino aproveitou bem a oportunidade de mostrar seu cartão de visitas no GP Week, no Allianz Parque, em São Paulo. Subindo ao palco logo após o bom show da Fresno, a banda deixou bem claro que o objetivo seria falar pouco e mostrar a maior quantidade de músicas possíveis. Foram 17 canções em uma hora. O que o público viu foi exatamente o que o vocalista Jeffrey Jordan disse ao Blog n’ Roll durante a semana: “Rock de peito aberto. O encontro do rock épico de arena com músicas dançantes com sintetizadores, além de letras emocionantes”. Equilibraram bastante o repertório com canções do álbum de estreia e o EP tryhard (2019). Jeffrey e Spencer Stewart dividem os vocais o tempo todo, dividindo o protagonismo em cena. E, mesmo que o foco fosse apenas em apresentar suas faixas, a The Band Camino não deixou de lado aquele carinho que o público brasileiro sempre espera. Spencer e o baterista Garrison Burgess vestiram camisetas personalizadas do Palmeiras, dono da casa, na reta final. Mesmo quem não é palmeirense, gostou da cena, vide relatos no Paddock, a pista premium da premium. Logo na sequência, durante See Through, o renomado guitarrista brasileiro Mateus Asato invadiu o palco para dar um suporte aos amigos. Ficou lá até o fim, tocando ainda 1 Last Cigarette e Daphne Blue. Estreia promissora de uma banda que tem tudo para estourar e conseguir um retorno ainda melhor do público brasileiro no futuro. Setlist Know It All Roses Less Than I Do 2/14 I Think I Like You Who Do You Think You Are? Song About You Never A Good Time Hush Hush Just A Phase California Damage What I Want Haunted See Through 1 Last Cigarette Daphne Blue
Fresno fecha trinca de festivais internacionais com show bom e cover inusitado

A banda Fresno foi unanimidade em 2022. Tocou no Lollapalooza, Popload Festival e fechou a trinca com a estreia no GP Week, que rolou no sábado (12), no Allianz Parque, em São Paulo. Arroz de festa? Pode até ser, mas a banda fez por merecer esse reconhecimento. Após 23 anos de carreira, os gaúchos vivem o auge da criatividade com o álbum Vou Ter Que Me Virar, que teve seis canções tocadas no show. Tal como já havia feito no Popload Festival, entre o primeiro e segundo turno das Eleições, o vocalista da Fresno, Lucas Silveira, caprichou nos discursos contra o futuro ex-presidente da República, Jair Bolsonaro. Foi assim antes de começar Fudeu!!! e também pouco antes de iniciar Eles Odeiam Gente Como Nós. “Esse presidente odeia gente como nós. Ele e os seguidores deles nos odeiam, odeiam vocês, odeiam os músicos que vão tocar aqui hoje”, discursou Lucas. A reação do público foi imediata com os gritos de “Ei Bolsonaro, vai tomar no cu”. Lucas respondeu: “já tomou. Agora, falta ser preso”. Casa Assombrada, também do último álbum, veio na sequência. E teve ótima recepção do público. “Puta que pariu, é a melhor banda do Brasil, Fresno”, gritaram os fãs. Antes de encerrar o show, Lucas Silveira lembrou que era a única atração nacional do festival. “Vamos fechar esse show de forma bem brasileira, com uma música brasileira que todos conhecem”, disse antes de iniciar Eva. O único porém é que Eva não é uma música brasileira. A canção, famosa com a Rádio Táxi e Banda Eva, originalmente é italiana, gravada primeiro por Umberto Tozzi. Mas o público entendeu a referência. É o que vale. Setlist ESSA COISA (ACORDA-TRABALHA-REPETE-MANTÉM) VOU TER QUE ME VIRAR FUDEU!!! Natureza caos Manifesto Quebre as correntes Já faz tanto tempo Cada acidente AGORA DEIXA Diga, parte 2 ELES ODEIAM GENTE COMO NÓS CASA ASSOMBRADA Eva (cover)
The Killers desfila hits em show apoteótico no Allianz Parque
