Foto: Luiz Aureliano / Divulgação
Uma vaca no meio da pista de dança, acompanhada de galinhas pintadas em cores flúor, banho em banheira de groselha no subsolo da casa, punks, carecas, darks e travestis, todos em perfeita harmonia. Sim, esse lugar existiu. Ou melhor, ainda existe. A histórica casa noturna Madame Satã, em São Paulo, há 32 anos em atividade, é tema de um documentário do jornalista paulistano radicado em Santos, Wladimyr Cruz.
Nesta terça-feira, a partir das 21 horas, o Cine Roxy 5, do Pátio Iporanga, recebe uma sessão gratuita do filme Uma Nova Onda de Liberdade: A História do Madame Satã. Para garantir presença na sessão, o público precisa retirar o ingresso na bilheteria uma hora antes do evento.
O jornalista ressalta o que motivou a gravação do seu segundo filme. O primeiro, lançado em 2014, foi Woodstock – Mais Que Uma Loja.
“Posso enumerar uma porção de motivos, mas acho que os três principais são: o fato de a casa estar em funcionamento até hoje – todas as outras já fecharam; o Madame Satã foi a mais influente para a cultura pop brasileira e, obviamente, minha relação e gosto pela casa, a favorita dentre os night clubs que frequentei quando mais novo”, diz Cruz.
A influência do Madame Satã para a cultura brasileira está relacionada também ao surgimento de grandes nomes da música nacional, sejam eles independentes ou não. Mercenárias, Inocentes, Ira!, RPM e Titãs são alguns deles.
Mas a relevância do Madame Satã não está restrita ao cenário musical. Cruz ressalta que a casa noturna foi berço e incubadora de artistas de diversos segmentos da arte.
“Foi dali que saíram nomes para as artes cênicas, como a Grace Gianoukas e a Angela Dip; para a fotografia – como o Rui Mendes; para o movimento GLBTS – como a Claudia Wonder; além de frequentadores de renome que iam de Cazuza a Caio Fernando Abreu. Desta turma, escolhemos alguns de destaque em suas respectivas áreas, para contar suas histórias no casarão paulistano”.
Contemporânea
O local escolhido para a sessão do filme em Santos é bem representativo. O proprietário do Cine Roxy é o empresário Toninho Campos, ex-proprietário da casa Heavy Metal, contemporânea do Madame Satã.
“É uma cidade que também foi culturalmente muito ativa nesta mesma época do auge do Satã, recebendo as mesmas bandas aqui em casas como a Heavy Metal ou o Circo Marinho. No Uma Nova Onda De Liberdade não falamos apenas de uma casa noturna, mas sim de toda uma cena, de uma turma, da semana de arte moderna dos anos 1980”, argumenta o diretor do documentário.
O jornalista diz que é impossível fazer um paralelo do Madame Satã com apenas uma casa noturna. “Era muito amplo em sua proposta. Tem coisas do Studio 54, do CBGB, da Batcave, do The Haçienda. É um mix de tudo isso, mas com aquela cara de São Paulo, enfrentando a garoa e a abertura política pós-ditadura”.
Próximo trabalho
Nem mal lançou o filme sobre o Madame Satã e Cruz já está em produção com o seu próximo documentário, esse com uma ligação absoluta com Santos: Os Portais do Inferno se Abrem: A História do Vulcano. Feito em parceria com a produtora local JustDesign, o filme tem previsão de estreia para o primeiro semestre de 2016.
“Iremos contar a história da Vulcano, uma das principais bandas da música extrema mundial, pioneira em seu estilo, e genuinamente santista. A história do grupo conversa diretamente com a história de toda a cena santista, com uma abrangência que passa por nomes como o Harry, Charlie Brown Jr e o Psych Possessor”.
O filme sobre a Vulcano remete ao final dos anos 1970, mostrando a origem do metal na Baixada Santista. Apesar de não ter um reconhecimento tão grande no Brasil, a Vulcano é referência em música extrema no exterior. Surgiu antes do Sepultura.
“Eles foram convidados para ser headliners em um festival na Europa. E o Ghost, que tocou no Rock in Rio, abriu o show deles lá”, comenta Cruz.
Com as próprias pernas
O difícil trabalho de tirar uma produção audiovisual do papel é compensado por parcerias e engajamento dos produtores, segundo Cruz. “Em cada projeto há uma produtora parceira. Neste, a BDT Filmes, de São Paulo, acreditou e entrou na produção. No próximo é a JustDesign, de Santos. E assim a gente segue na árdua tarefa de realizar o audiovisual no Brasil sem precisar de dinheiro público”.
Ficha Técnica: Direção, Roteiro e Produção: Wladimyr Cruz. Duração: 110 minutos.