Em meados dos anos 1990, na ressaca pós grunge, movimento que revelou nomes como Nirvana, Pearl Jam e Soundgarden, o Garbage surgiu com um som cru, seco e carregado de um ar depressivo. Por trás daquele trabalho estava o renomado produtor Butch Vig, responsável pelos clássicos álbuns Nevermind (Nirvana) e Siamese Dream (Smashing Pumpkins).
A escolha pela escocesa Shirley Manson para o vocal era o que faltava para o Garbage estourar. Presença de palco, carisma e uma voz marcante impulsionaram o sucesso do grupo, que vendeu mais de 4 milhões de cópias do seu debute, homônimo, de 1995.
Hoje, pouco mais de 20 anos desde os hits Only Happy When It Rains, Stupid Girl, Queer e Vow, o Garbage mostra consistência e amadurecimento, mas sem deixar sua proposta de som e letras de lado. O novo álbum, Strange Little Birds, que chegará às lojas em 10 de junho, comprova isso.
A Tribuna / Blog n’ Roll conversou com a vocalista do Garbage, Shirley Manson, por telefone, que afirmou ver em Strange Little Birds um registro não apenas crítico, mas essencialmente composto por críticas.
“Falamos sobre as coisas do mundo que parecem tão alarmantes. A maneira que nós sentimos é passada por uma linguagem universal. Todo mundo pensa em si mesmo. As pessoas querem ser alimentadas, querem ter um emprego, querem ser felizes, mas estão tão longe umas das outras”.
Segundo Shirley, enquanto muitas bandas passam mensagens de um mundo perfeito, o Garbage procura expor todos os problemas da sociedade. “Há um muro muito alto, muito suspeito, distante. Existe muito mal-entendido. Falamos sobre o meio ambiente, a guerra dos sexos, está tudo lá de uma forma ou de outra”, justifica.
Semelhanças entre os álbuns do Garbage
A vocalista concorda que há semelhanças entre o novo álbum e o seu debute. No entanto, Shirley acredita que a experiência é sempre inédita. “As pessoas sempre mudam. Cada vez que você faz um disco é todo um processo diferente. Você pode dar voz às mensagens que quer passar”.
Coerente com as bandeiras que levanta, o Garbage segue tocando em algumas feridas e preconceitos, que mesmo 20 anos depois de sua estreia, ainda são uma realidade.
No álbum de 1995, por exemplo, a canção Queer já passava a mensagem de igualdade, algo que é um tabu no Brasil e em outros países. “Enquanto eu estiver viva, vou lutar por aquilo que acredito. Eu encorajo as pessoas a falar, a protestar, a organizar e a ativas nessa questão”, comenta.
Para a escocesa, o grande problema de parte da sociedade é considerar o posicionamento que ela defende como algo na linha “feminista”. “Não me vejo como feminista, como algumas pessoas falam. Penso em igualdade dos direitos, algo muito melhor e maior. Luto pelos direitos civis”, explica.
Hoje, aos 49 anos, Shirley afirma que quer apenas curtir os momentos proporcionados nos estúdios e turnês. Simpática e com um sotaque escocês bem difícil de compreender, ela avisa que tem muito lenha para queimar.
“Ainda temos o desejo de fazer um novo registro com canções realmente tristes”, avisa a cantora.
Planos incluem show do Garbage no Brasil
Os planos futuros do Garbage são animadores para os fãs. A turnê de divulgação do álbum Strange Little Birds já está especulada para o segundo semestre no Brasil. Caso se confirme, será a segunda vez que o grupo de Butch Vig e Shirley Manson vem ao País.
Aliás, durante a entrevista, Shirley Manson falou sobre a possibilidade de retornar ao Brasil. Para ela, estar no palco é a melhor forma de se conectar com os fãs e passar suas mensagens.
“Qualquer um pode estar através de uma parede de vidro e gravar. Mas levantar é uma experiência poderosa, algo que você não pode descrever, algo único”, diz. “Estamos discutindo com o nosso manager a possibilidade de irmos ao Brasil. Talvez depois de setembro, mas não posso dizer exatamente quando”.
A única vez que o Garbage veio ao Brasil foi em 2012, quando se apresentou em uma edição do extinto festival Planeta Terra, em São Paulo. Em outras entrevistas, Shirley chegou a revelar que a longa espera dos fãs por uma apresentação no País se deve a questões burocráticas, como a falta de interesse da gravadora em investir no mercado latino.
A recepção, no entanto, não poderia ter sido melhor. À época, divulgando o recém-lançado disco Not Your Kind of People, o Garbage fez uma das melhores apresentações do evento. Emplacou seus principais hits e ainda roubou a atenção da principal estrela da noite, a banda Kings of Leon.
Shows nos EUA
Anteriormente, antes de iniciar a turnê de divulgação de Strange Little Birds, o Garbage realizou uma série de shows especiais, no ano passado, para celebrar os 20 anos do álbum homônimo, o primeiro da carreira.
Na ocasião, Shirley e companhia apresentaram o disco na íntegra para os fãs. Tal experiência deve se repetir em 2018, desta vez celebrando a mesma marca do segundo álbum, Version 2.0. O disco de 1998 tem como grandes marcas os sons Push It e I Think I’m Paranoid.
“Nosso objetivo é terminar a turnê do Strange Little Birds no próximo ano. Até lá, estaremos prestes a celebrar o 20º aniversário do nosso segundo álbum e queremos fazer o mesmo que fizemos com nosso primeiro disco”, comentou a cantora em referência aos shows especiais feitos no ano passado.
Ouça Empty, o primeiro single de Strange Little Birds