Entre as muitas bandas da nova onda psicodélica que assola o rock, o Spaceface já vem com selo de garantia. Seu líder, o guitarrista Jake Ingalls, vem sendo talhado no obrigatório Flaming Lips desde 2009. O verbo ‘talhar’, aí, não é mera força de expressão.
O músico iniciou seu contato com os malucos de Oklahoma após dar uma mão no carregamento das tralhas do grupo depois de um show. Logo, foi chamado para virar roadie. O conhecimento demonstrado o elevou a técnico de guitarras. Não demorou para Wayne Coyne, vocalista do Lips, o convidar para ir para o palco e, mais tarde, ingressar oficialmente na trupe psicodélica.
Quem ficou em seu lugar na manutenção das guitarras foi Matt Strong. Ele é o outro guitarrista do Spaceface, sexteto formado em 2011 por Ingalls. Ou seja: filhote de ET, ETzinho é.
https://soundcloud.com/spacefacememphis/cowboy-lightning-1
A banda acaba de lançar seu primeiro álbum, Sun Kids, sem muito alarde. Merecia mais barulho. Junto com Volcano, dos ingleses do Temples, já um dos destaques de 2017 nessa safra neopsicodélica recente. E crescente. Em entrevistas, o frontman não nega suas influências principais: a efervescente cena psicodélica dos Estados Unidos nos anos 1970. Não mente – é daquela água lisérgica, sem dúvidas, que ele bebe.
O resultado, no entanto, não soa datado. Não apenas pelos efeitos moderninhos que aparecem vez ou outra ao longo das 11 faixas do disco, mas pelo tratamento que Ingalls impõe às canções. É música contemporânea, não mera cópia de Jefferson Airplane, Love, Country Joe and the Fish, Electric Prunes e associados. Fq-106 é puro experimentalismo; Spread Your Head é viajante; Evening View se escora no folk; Cowboy Lightning, o primeiro single, lembra os australianos do Tame Impala, que também absorvem ecos do passado para fazer brotar uma nova lisergia.
https://soundcloud.com/spacefacememphis/sun-kids-3
O grupo baseia sua sonoridade nos ícones daquele período, mas vai além. Atualiza as referências, incorpora outras, e oferece um caldo substancioso, novo, encorpado. E sujeito a propiciar algumas alucinações pelo caminho, é claro. Faz parte.