Um nome para a banda

MÁRIO JORGE

O processo de criação de letras e músicas por um banda de rock deve ser uma coisa curiosa. Intriga a imaginação dos fãs. Mas há um outro fato que também atiça o imaginário: a origem dos nomes dos grupos. Como surge? Quem escolhe? É por votação? Enfim, o assunto é recorrente em publicações especializadas, especialmente na internet. Vale relembrar:

Black Sabbath: esse não foi o nome escolhido inicialmente pelo quarteto formado por Tony Iommi, Geezer Butler, Ozzy Osbourne e Bill Ward no longínquo ano de 1968, em Aston (localidade de Birmingham, Inglaterra). Começou com uma sugestão de Ozzy, Polka Tulk, que incorporou Blues no final porque essa era a proposta da recém-criada banda.

Polka Tulk, na verdade era a marca de um talco que a mãe do vocalista usava. Tempos depois, passaram a usar Earth. Como já havia um grupo com esse nome, deram ouvidos a Butler, fã de histórias de terror e magia negra. Retiraram o nome de um filme italiano de 1963 chamado As Três Máscaras do Terror, exibido na Inglaterra como Black Sabbath. O resto da história todos já sabem.

Grateful Dead: uma velha lenda inglesa dizia que o cadáver de um homem apodrecia em público num vilarejo. O povo da localidade se recusava a enterrá-lo por conta das muitas dívidas deixadas pelo falecido. Um viajante vem, se comove com a história, paga os débitos do infeliz e o enterra. Depois, numa situação de perigo, o viajante foi salvo, o que ele atribuiu ao espírito agradecido do homem que enterrou. A banda norte-americana, criada no berço da utopia hippie, fez da lenda sua identidade para iniciar um repertório musical que entrou para a história do rock.

AC/DC: Austrália, 1973. Os irmãos Young, Malcolm e Angus estavam às voltas com a procura de um nome que sintetizasse a energia e força da recém-criada trupe musical. Quebraram a cabeça em sugestões pouco criativas, até que uma irmã dos músicos, Margareth, praticamente finalizou a escolha: AC/DC, em inglês Alternating Current and Direct Current (corrente alternada e corrente contínua), que estava na parte de trás da máquina de costura de Margareth. Bastou.

Mas aí vieram as elocubrações: num táxi, certa vez, ainda nos anos 1970, o motorista perguntou aos membros da banda se eram homossexuais. Eles não entenderam, mas responderam que não e devolveram o questionamento. Segundo o motorista, a sigla era uma identificação de bissexualidade. Riram um pouco, mas ignoraram. Depois, radicais religiosos viram no AC/DC uma descrição diabólica. Era, para os fanáticos, Anti Christ/Devil’s Children ou Anti-Cristo/Filhos do Demônio. Tá, ok!

Iron Maiden: Em 1975, o incansável Steve Harris, egresso de outras bandas, resolveu criar a sua própria. Como inspiração para o estilo pesado e agressivo, buscou no cinema o nome que procurava. No filme O Homem da Máscara de Ferro, baseado no romance de Alexandre Dumas, surge um instrumento de tortura medieval que caiu como uma luva para um dos fundadores da New Wave of British Heavy Metal: Iron Maiden, ou donzela de ferro, instrumento com pontas em seu interior e na porta. É preciso lembrar que Donzela ou Dama de Ferra era também o apelido da ex-primeira ministra britânica Margareth Thatcher.

Judas Priest: o nome, escolhido ainda na década de 1970, foi extraído de um folk de Bob Dylan, The Ballad of Frankie Lee and Judas Priest. Claro que o ritmo da canção nada tem a ver com o peso que a banda leva aos palcos desde o final da década de 1960.

Whitesnake: a banda britânica de David Coverdale tem um nome um tanto pitoresco, nem sempre referendado pelo vocalista. Diz o cara que se trata de uma referência ao seu pênis. Ele já deu declarações confirmando a história, ao mesmo tempo que mencionou tê-lo tirado de uma música do tempos de Deep Purple. Sem mais comentários.

Korzus: a banda paulista de thrash metal tirou o nome da porta do armário de um amigo. Lá estava Marcos Korzus. Pompeu, frontman do grupo, viu e gostou, às vésperas de participar de um festival de bandas de escola. Não sem antes pesquisar a similaridade com o nome de um guerreiro que havia num filme, Korozum.

Sepultura: claro, toda boa banda pesada precisa ter um nome que soe maldito, que passe algo entre rebeldia e morbidez. Na “conservadora” Belo Horizonte dos anos 1980, uns garotos decidiram criar um grupo à base de metal extremo. Sepultura nasceu (contradição?) de uma música do Motörhead, Dancing On Your Grave. Para testar a força do nome, Igor e Max Cavalera mostraram à própria avó. Ela ficou horrorizada. Funcionou, mas Igor dá uma explicação: “Não tivemos nem um sonho ou visão para escolher o nome. Foi coisa de dois moleques idiotas de BH”. Bom…

Há histórias aos montes sobre a origem dos nomes das bandas e inúmeros sites estão aí para conta-las.

Assim como as capas dos antigos vinis eram um plus, um complemento do espetáculo, os nomes também traduzem a essência dos grupos. Não vai mudar muita coisa na maneira que escutamos as músicas. Pode até nem ter muita importância, mas que é legal saber, lá isso é.

Referências:
– Let There Be Rock – A História do AC/DC, de Susan Masino
– Eu sou Ozzy, biografia

Sites: Whiplash.net, Cifraclub.com.br e oaprendizverde.com.br
Algum conhecimento pessoal