É sexta-feira! Dia de maldade e dia de Ruídos. Hoje vou falar sobre um dos maiores e mais respeitados contribuintes da música pop: o rei dos sintetizadores, Brian Eno.
Conhecido mundialmente por produzir gigantes da música como Coldplay, U2 e ninguém menos que David Bowie (cujo nome ainda será muito citado nesse texto), talvez seja pleonasmo dizer que Eno também tenha uma discografia própria de encher os ouvidos. Apesar de nunca terem chegado ao mainstream (por vontade própria de seu idealizador), seus discos – cada um bem encaixado em seu contexto na larga trajetória do artista – são obrigação para aqueles que apreciam obras originais, inovadoras e influentes. A lista de álbuns é grande, mas, como de costume, irei listar três (os essenciais de cada fase de Eno). Vamos aos escolhidos:
Here Come the Warm Jets – 1974, Island
Nos início dos anos 1970, o que reinava no Reino Unido era o glam rock. Graças a David Bowie, Marc Bolan e, porque não, ao clássico do cinema The Rocky Horror Picture Show, as expressões artísticas da juventude inglesa abusavam da excentricidade visual e musical. E não tem como falar de um movimento excêntrico sem falar de Brian Eno, que, inserido nesse meio discretamente, apresentou em seu primeiro disco uma mistura de tudo o que vinha acontecendo na cena com algo que só a sua mente beneficamente insuportável é capaz de reproduzir.
Os instrumentos são manipulados de forma bizarra, as guitarras são estranhamente distorcidas, os vocais são esquisitos. E tudo isso funciona perfeitamente. O disco é quase uma continuação do que o Roxy Music – excelente conjunto de art rock que Eno mantinha com Robert Fripp, Phil Manzanera e Andy Mackay – vinha fazendo, e o resultado é um clássico único e vanguardista. Prato cheio pra quem curte a fase glam do Bowie, do Hunky Dory ao Aladdin Sane, e também pra quem ama discos com capas bonitas.
Another Green World – 1975, Island
Um ano foi o suficiente para que nosso homenageado botasse pra segundo plano o art rock e o glam presente nos seus dois primeiros álbuns. Tão versátil como um camaleão, neste terceiro disco o músico passa a acrescentar na fórmula o gênero ambient, elemento que, dali em diante, seria onipresente durante todo o resto de sua trajetória.
Sucesso de crítica e disparadamente taxado como a obra prima de sua carreira, Another Green World marca seu primeiro passo na música eletrônica sem deixar de soar orgânico em nenhum momento, encontrando o equilíbrio perfeito entre a música ambiente e a música pop. Surgiram, aqui, os primeiros brotos do que seria a prestigiada trilogia de Berlim do David Bowie (sempre ele), que começaria 2 anos depois e teria a produção assinada por Eno.
Apollo: Atmospheres and Soundtracks – 1983, EG
Eis que o homem passa pela sua metamorfose, deixando de ser um ser humano para tornar-se um sintetizador espacial. Os anos seguintes de Another Green World foram marcados por certa adoração exacerbada a sons ambientes e sintetizadores, o que pode desagradar aqueles que preferiram sua antiga fase. Entretanto, se o cara é conhecido como o rei dos synths, é porque, em teoria, deve fazer bom uso deles. E faz.
Apollo é unânimidade quando se colocado no topo dos maiores álbuns do artista. Os sons etéreos presentes no compacto são o auge do que conhecemos como Brian Eno hoje em dia, com ruídos espaciais perfeitos para viajar dentro de si mesmo. As faixas são instrumentais, e premeditam os trabalhos que o artista viria produzir nos anos seguintes, como o Unforgettable Fire e o Joshua Tree, do U2, e o Souvlaki, do Slowdive. Todos eles tem um pouco (ou muito) de Apollo. E, olha, dá até pra citar o Bowie de novo: os sintetizadores de Heroes estão todos aqui, e ainda mais viajados.
Curiosidade: a faixa An Ending (Ascent) é tão bonita que até fizeram uma versão de uma hora pra colocar no Youtube.