Tamanho não é documento

Essa semana foi especial para o rock. Com o Rock in Rio comendo solto por sete dias, o meu Facebook deu um tempo nos outros assuntos e abriu um espaço raro para debater performances, esmiuçar boatos, contar boas histórias e fazer piada com tudo que aconteceu na Cidade do Rock. O festival não andou lá tão representado assim pelo estilo que carrega no nome na primeira semana, mas esses quatro dias finais preencheram a cota com sobras, com destaque quase unânime para a já histórica apresentação do The Who.

Estive por lá todos os dias e, fora os antológicos Daltrey & Townshend, o que mais vou levar no coração foram as apresentações no Palco Sunset. Por ali passaram Alice Cooper, Nile Rodgers e Chic, Sepultura e o encontro de Ney Matogrosso com Nação Zumbi, todos eles o melhor show do seu dia, na minha opinião e na de bastante gente também. Isso para não lembrar que começamos o mês na certeza da vinda de Charles Bradley, que acabou cancelando em cima e falecendo ainda durante o festival. Era meu show mais esperado e com certeza iria impressionar muita gente.

Toda vez (e não foram poucas) que alguma apresentação agradava no Sunset, o elogio mais comum era “foi um show digno de Palco Mundo”. E é aí que eu acho que a mentalidade precisa mudar um pouquinho.

Hoje em dia o Rock in Rio deixou de ser o Palco Mundo. E a escalação dele é o maior dos quebra-cabeças: o próprio Roberto Medina admitiu a quantidade cada vez menor de artistas capacitados para fecharem a noite naquele espaço, entretendo mais de 100 mil pessoas. Se você reclama que o Rock in Rio repete demais as bandas, é hora de saber que não é dali que vão vir muitas novidades. Enquanto isso, a metros do Palco Mundo, tivemos Boogarins, Ego Kill Talent, Bomba Estéreo, Baiana System, Cee-Lo Green e Emicida. Um belíssimo panorama.

Mais que isso, privar Alice Cooper e Nile Rodgers desse contato mais cara a cara com o público (no show/baile do Chic teve espaço até para coreografias à beira do palco) e jogar num palco muito mais isolado dessa interação não torna o show melhor nem para o artista nem para quem vai assistir. Não é demérito para ninguém tocar num segundo palco, ainda mais algo das proporções do Sunset. Qualquer artista que viaja o mundo sabe disso.

Falta o público daqui perceber (e entender) que o melhor show do dia, e inclusive o melhor show da sua vida, independem do tamanho do palco.

Palavra de quem nunca esqueceu o dia que Ian MacKaye tocou na Audio Rebel, Wilco no Circo Voador, The Queers no Hangar 110 e o Descendents no Espaço Butantã.

Tamanho (de palco) nunca foi documento.