Fotos: Janine Van Oostrom / Aesthetic Magazine
As transformações, experimentações e o desafio de sair da zona de conforto são alguns pontos comuns na carreira de uma banda ou artista. Nos últimos anos acompanhamos alguns desses casos, como Linkin Park, Evanescence, Paramore, Foo Fighters, Fall Out Boy, sem falar nas cantoras pop como Beyoncé, Katy Perry e Miley Cyrus.
Quem está vivendo um momento semelhante de experimentações é o Arctic Monkeys. Seu último disco, Tranquility Base Hotel & Casino, lançado em maio, dividiu opiniões entre os fãs. Virou o famoso “ame ou odeie”. O sexto disco dos ingleses, o primeiro em cinco anos, recebeu muitas críticas positivas da mídia especializada, mas frustrou quem esperava algo pesado e dançante como AM.
Sim, Alex Turner e companhia partiram para uma linha mais intimista, alguns ousam chamar de pop espacial, reconhecem influências de glam e enxergam até mesmo um piano de jazz. Mas Turner não se contenta em mudar apenas a sonoridade, trocou a temáticas das letras (explora ficção científica, política, religião, entre outros temas não muito comuns em suas composições).
E foi com esse background que a banda chegou ao Scotiabank Arena (o antigo Air Canada Centre), em Toronto, no último dia 5, após quatro anos sem tocar por lá, para um dos primeiros shows da atual turnê. De cara, uma coisa já chama a atenção: a pista com apenas metade de sua capacidade ocupada. Confesso que foi uma surpresa. Comprei meu ingresso antes do lançamento de Tranquility e quase todos os ingressos já haviam sido vendidos. Na perna europeia da turnê, que está rolando agora, quase todos os shows já deram sold out.
Toronto enfrenta uma forte onda de calor, tal como grande parte do hemisfério norte, para mim isso já conta como um ponto positivo para encher o show, afinal o Scotiabank Arena é bem fresquinho. Mas talvez não tenha empolgado os fãs após o lançamento do disco.
Foi a minha terceira vez assistindo aos britânicos e, de longe, a apresentação mais fria: ar condicionado da casa do Toronto Raptors e Maple Leafs? Estranhamento com o novo disco? Frieza característica dos canadenses? Bom, estou procurando motivos até agora, mas não consigo cravar com absoluta certeza o que houve.
Headliner no Lollapalooza Chicago (e cotado para a versão brasileira, conforme adiantado pelo colega Lúcio Ribeiro, da Popload), o Arctic Monkeys não decepciona no palco, longe disso. Abre a apresentação com o melhor single do disco (e meu toque de celular), Four Out of Five, que teve uma recepção morna dos fãs.
A sequência, com faixas de outros discos, é melhor recebida e faz o público cantar junto e dançar (teve até quem se levantou das cadeiras para curtir). Do I Wanna Know?, Brianstorm, I Bet You Look Good on the Dancefloor, Teddy Picker e Crying Lightning não decepcionam.
Alex Turner não é bobo. Doze anos após o lançamento do primeiro disco do Arctic Monkeys, Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not, ele já sabe muito bem que seria arriscado soltar sequência de faixas novas no início do show. Acredite se quiser, teve gente que deixou a apresentação antes do fim. Vai entender…
O repertório é bem equilibrado: AM (6), Tranquility Base Hotel + Casino (5), Favourite Worst Nightmare (4), Humbug (3), Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not (2) e Suck It and See (1).
No palco, o vocalista pouco falou com os fãs, tocou piano, guitarra, cantou e arrancou o terno na reta final do show. Em Toronto, a banda abriu mão dos covers que vinha inserindo nas apresentações. Mas nada que tenha atrapalhado o andamento.
Quem foi e ficou até o fim, parece ter saído satisfeito, mas com duas coisas na cabeça (depende do lado que você está): 1. “Imagina esse show mais intimista em um barzinho?”; 2. Será que eles vão reduzir o número de faixas do Tranquility no próximo show em Toronto?
Moral da história… caso confirme o show no Lollapalooza Brasil, existe um caminho duplo para agradar todos os fãs brasileiros: headliner no festival e com uma lolla party mais exclusiva. Deixando a brincadeira de lado, penso que um show idêntico ao que assisti em Toronto será muito mais caloroso no Brasil.