Entrevista | Sharon den Adel (Within Temptation) – “Está na hora de mudarmos o jeito como vivemos”

Pouco mais de um ano depois de conversar com o Blog n’ Roll sobre o single Entertain You, a sempre simpática Sharon den Adel, vocalista do Within Temptation, concedeu mais uma entrevista para falar sobre a evolução do novo trabalho, além do single Shed my Skin.

Em resumo, o Within Temptation não tem planos definidos para um novo álbum, mas seguirá lançando canções produzidas recentemente.

Shed my Skin é uma canção que fala sobre algo que acho muito importante, as mudanças que a vida toma. Fale um pouco mais sobre ela.

Para nós foi uma inspiração o momento que estamos passando, na pandemia. Aliás, passando talvez pelos mesmos problemas, a vida parou para todos ao mesmo tempo, e algumas pegaram esse tempo para refletir sobre como a vida estava indo, e chega um ponto que talvez pensem que precisam de uma mudança. 

Para mim é algo que vi em outras pessoas, afinal somos contadores de histórias, mas também em experiências pessoais, onde a gente sente que precisa de mudanças para se sentir vivo, e às vezes nem todos que vivem conosco podem seguir o mesmo caminho que queremos. Então precisamos decidir o que fazer com nossas vidas e torcer para que depois as outras pessoas continuem conosco.

Você mencionou a pandemia, você acredita que ela contribuiu para que as pessoas se relacionassem mais com a música?

Sabe, tudo mudou para todo mundo em algum ponto. Todos tiveram que trabalhar de maneira diferente em diferentes lugares: aulas em casa, home office. E alguns sentiram falta da vida antes disso, e outros não, então esse tipo de conclusão citada na música veio para várias pessoas, eu acho.

O videoclipe de Shed my Skin foi parte do show virtual The Aftermath. Como vocês fizeram aquilo, o quão difícil foi trabalhar com tanta tecnologia?

Por sorte nós tivemos ajuda do cara que fez a maioria de nossos clipes, e ele foi quem entrou em contato conosco, pois sabia que estávamos buscando algo diferente das apresentações acústicas que fizemos durante a pandemia. Queríamos algo mais próximo de uma apresentação ao vivo nossa. 

E esta foi a forma de criar um cenário épico, que fizesse tudo que desejássemos, e também alcançasse várias pessoas. E acho que se será algo pro futuro também, a tecnologia veio pra ficar e mais pessoas farão isso no futuro e nós também. Apesar de ter consumido muito tempo e dinheiro, foi muito divertido e pioneiro.

E você acha que essa tecnologia pode ser usada em apresentações ao vivo do Within Temptation?

Na verdade não, pois é completamente diferente da tecnologia. Acho que pode ser usada como um extra, um jeito diferente de se apresentar.

E você acha que as bandas vão continuar fazendo isso, mesmo após o retorno dos shows presenciais? Esses shows online serão mantidos após o fim da pandemia?

Eu acho que é legal para pessoas que não tem a oportunidade de te ver ao vivo, e é algo mais próximo da experiência de um show.

E agora falando de Shed my Skin novamente, tem uma participação de outra banda, chamada Annisokay. Qual é a relação do Within Temptation com esta banda?

Na pandemia estávamos procurando por uma nova inspiração, e saímos procurando na internet por novas histórias, e músicas e conhecemos o New Core Metal, que não conhecíamos tão bem. E eles estavam entre as três bandas que mais gostamos. Christopher tem uma voz linda, mas também me tocou a maneira como ele canta, muito melódico. 

Gostei como eles escreviam as músicas, e nos inspirou, e quando escrevemos a música pensamos que seria uma colaboração legal. Nós os convidamos, e eles ficaram muito entusiasmados e acho que o resultado ficou muito bom.

Vocês ouvem novas bandas em holandês, são próximos delas?

Nós nos encontramos às vezes, claro, em festivais, bebemos algo juntos, conversamos. Mas todo mundo está sempre na correria, já indo para outro show, então não há muito tempo também. Mas claro que nos encontramos às vezes. No entanto, não tanto quanto se espera. E acho que você se conecta com bandas ao redor do mundo por fatores mais fortes, como a música, ao invés da nacionalidade, mas quando nos vemos é sempre divertido.

Falando da pandemia novamente, como ela afetou o trabalho do Within Temptation?

Foi difícil! No começo foi bom estar com a família em casa, mas demorou muito, a pandemia foi se alongando, e também teve o aspecto mental, que foi muito difícil. Então foi muito difícil para todos, principalmente escrever novas músicas. 

Nós tínhamos, claro, lançado um álbum em 2019, que não faz muito tempo, e nós sempre levamos um bom tempo para escrever um novo álbum. Aliás, nós já tínhamos decidido que iríamos lançar músicas individualmente, pois ainda não tínhamos um álbum finalizado.

Queríamos tentar este modelo ao invés do modelo mais tradicional de se lançar um álbum, então escrevemos a música, e dois meses depois a lançamos. O que foi muito refrescante, principalmente em meio a pandemia, mesmo tendo decidido isso antes da pandemia, e no final do ano que vem lançaremos um novo álbum. 

Você acha que essa pandemia mudará de alguma forma a humanidade?

Eu espero que sim, mas também acho que as pessoas se acostumam com algo e depois retomam seus antigos hábitos com muita facilidade. É legal pensar que as pessoas mudarão, e usarão essa oportunidade para mudar sua vida de alguma forma, especialmente para o meio ambiente. 

Mas eu sou muito mais ligada a este tipo de coisa, não quero dizer às pessoas o que fazer, mas acho que está na hora de mudarmos o jeito como vivemos. Como comemos, como vivemos, como nos relacionamos com os animais, como fazemos tudo na verdade. Isso seria legal, sabe? Acho que algumas pessoas já pensaram nessas mudanças, mas não acho que maioria ainda iniciou essa mudança.

Você mencionou sua preocupação com o meio ambiente. Você acha que isso cabe em uma música? Falar sobre as preocupações com problemas ambientais, você acha que isso se aplica?

Nós fizemos isso em algumas músicas, porém de algumas formas de maneira metafórica, em que você pode interpretar de várias maneiras. Mas se você escutar The Silent Force haverá muitas músicas sobre a natureza. 

Então tem sido um tema que vem nos inspirando durante muitos anos. E talvez aparecerá novamente em uma futura música, pois somos o tipo de pessoa que é muito engajada com tudo que ocorre no mundo, socialmente e ambientalmente.

Falando do Within Temptation, vocês lançaram seu primeiro álbum em 1997, e agora estão lançando novas músicas, pensando em um próximo álbum. O quanto vocês pensam que evoluíram desde o início da carreira?

Acho que evoluímos muito, mas acho que pessoas que vêm de fora e não conhecem nosso tipo de música, não enxergam que mudamos muito. Você tem a voz, o peso, as melodias, então depende para quem pergunta, um fã diria que sim, eu também diria que sim. 

Mas acho que nossos elementos chave, a melancolia, a orquestra, a voz, o peso e a combinação de sempre buscar uma nova mescla, é algo muito típico nosso e que sempre fazemos, e nós precisamos mudar, é o que nos inspira. 

E eu nem acho que quero escrever um no Mother Earth, ou outro álbum antigo que as pessoas gostam, eu nem conseguiria, pois mudei muito, mas amo nossos trabalhos anteriores, é mais a necessidade de mudança e de fazer música nova.

Qual é o seu maior sonho na música?

Acho que a maioria das coisas consegui realizar. Pra maioria das pessoas é visitar lugar e tocar em festivais, mas pra mim é escrever uma música nova que me faça feliz, pois adoro criar. Pra mim tudo começa por aí, pelas músicas e as outras coisas se conectam a isso.

E tem outro sonho que eu sei que você tem, que é tocar no Brasil novamente. Você tem planos de vir para cá após a pandemia?

É claro que temos planos de ir para todo lugar novamente, mas o fato é que temos que cumprir todos os compromissos que já temos planejado e após isso veremos, pois temos muitas opções. Eu espero ir ao Brasil, mas caso não aconteça teremos que pensar em algo. 

O que você escuta no seu tempo livre?

Escuto todo tipo de música, nova e velha, de metal a reggae, música clássica, gosto de todo tipo. Gosto de buscar coisas novas para me inspirar a fazer coisas novas, e New Core Metal é algo que tem me inspirado muito no momento. 

Eu não tenho certeza se haverá outra música nossa que terá esse tipo de influência novamente. Nossa próxima música será muito diferente, que será lançada ainda este ano, que remete mais ao nosso álbum The Unforgiven, na minha opinião, mas ainda não está finalizada. No entanto, será muito boa, e gosto muito do estilo.