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Crédito: Thomas Rabsch

Entrevistas

Entrevista | Gavin Rossdale (Bush) – “Me senti como o Justin Bieber”

Entre 1995 e 2000, a banda britânica Bush empilhou uma sequência incrível de hits nas paradas e videoclipes que disputavam todas as premiações possíveis. Dois anos depois, após um álbum (Golden State, 2001) não tão bem sucedido, a banda entrou em um longo hiato, que durou oito anos.

Desde o retorno, em 2010, a banda conseguiu manter uma consistência nos lançamentos e na formação. Foram cinco álbuns até o momento, sendo o mais recente The Art of Survival, lançado no início do mês. Além disso, Chris Traynor (guitarrista) e Corey Britz (baixista) seguem fixos no lineup desde o ressurgimento do grupo.

O vocalista e fundador do Bush, Gavin Rossdale, conversou com o Blog n’ Roll, via Zoom, sobre o novo álbum, possibilidade de shows no Brasil, além do sucesso da banda nos anos 1990 e como lida com isso até hoje.

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More Than Machines, um dos singles do disco, aborda questões como a destruição dos direitos das mulheres e do planeta. Qual é a sua opinião sobre esses temas?

Acho que são coisas que devemos conversar e discutir todos os dias. Você vive no Brasil, a floresta está sendo desmatada diariamente, e sofremos com isso. É estranho, pois as pessoas não parecem ligar, me pergunto se as pessoas no Brasil ligam com o que acontece na Amazônia. Não acho que as pessoas liguem o suficiente.

E nos Estados Unidos nós temos essa situação bizarra com as mulheres, a remuneração. Acho que o direito de todos é muito pessoal, e não digo que deva fazer isso ou aquilo, mas sou humano e acredito em direitos individuais.

O que digo sobre isso é que as pessoas podem votar para isso, é uma democracia. Meu lance é pensar sobre as coisas que importam pra mim, mas na minha cabeça não sei mais do que você, outra pessoa, ou talvez menos do que você. Só tento cantar sobre o que é real para mim, o que é verdadeiro, muito genuíno, seja o que for, qual a forma, é algo genuíno.

Sei que você já disse que seu trabalho não é ensinar ninguém sobre esses assuntos, mas você considera que os artistas podem levar as pessoas a pensar mais sobre temas assim tão importantes?

A música é incrível pois é um lugar seguro para as pessoas se sentirem ouvidas. Quando se canta ao vivo, você se conecta com as pessoas, e elas acreditam que a música é para elas, e é. Este é o poder da música, tão incrível, não é sobre uma opinião, é sobre a discussão.

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Se eu cantar sobre as máquinas, que somos melhores do que elas, pois nós sentimos empatia, é apenas uma sugestão de conversa que está no meu cérebro, um tópico aberto. Para mim é sobre ser o mais honesto possível, e canto e escrevo muito naturalmente. Não tento criar algo, não coloco uma máscara e a tiro.

The Art of Survival é uma referência justamente a esse mundo caótico que vivemos? Ou tem outros significados? Exemplo, a arte de sobreviver e se reinventar depois de tanto tempo de banda.

É tudo! Digo, são palavras. A melhor coisa sobre palavras é que elas mudam de significado o tempo todo, dependendo de quem as diz. Acho que todo mundo, quando olho ao meu redor, como em um avião, quando sento do lado de alguém e lhe peço que me conte uma história, invariavelmente, viveu e teve desafios. Certamente, elas me contarão as três coisas que fizeram para mudar a vida delas.

As pessoas são muito mais complexas do que elas podem demonstrar no tempo que damos a elas. Toda troca é muito rápida, apenas nas nossas casas, com nossas famílias e amigos, as pessoas vão falar sobre o que acontece no interior delas.

Então gosto de fazer música para que as pessoas sintam que alguém as entende. Quando canto “this fuckery could be the death of us all” (essa palhaçada pode ser a morte de todos nós), e coisas assim, “this bravery will save the world a bit” (sua coragem mudará um pouco o mundo), quero que as pessoas ouçam essas frases e achem que não estão sozinhas, pois as pessoas pensam assim.

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É estranho, pois quanto mais pessoal você torna, mais verdadeiro, maior a chance de se conectar com outras pessoas. Ironicamente, quando tentamos atingir as pessoas de uma maneira não genuína, artificial, calculada, talvez não conecte tanto. Me parece um disco tão honesto que acho que as pessoas irão se relacionar com isso.

Você acredita que o rock não está mais tão forte como nos anos 1990? O que mudou? Como resgatar as coisas boas daquele tempo?

Tudo é cíclico. Quando me apaixonei pelo rock era uma contracultura, não era mainstream, o pop era. E tive tanta sorte que meu primeiro disco estava pronto, ou próximo de ficar pronto, e houve uma explosão da música com guitarra. Então tivemos sorte o suficiente de pegar uma onda. E depois o hip-hop, trip-hop, música eletrônica, dub-step, tudo teve seu momento. Mas a rádio pop é muito maior que a rádio rock, nos EUA por exemplo, que parece uma grande perda.

Mas isso me faz gostar ainda mais, sinto autenticidade nessa forma de tocar, com guitarras e cantando, tento meu melhor. Às vezes penso se estivesse na dance music, seria super popular. No BTS, por exemplo, seria ótimo. Post Malone tem uma vida incrível, mas tive meu momento onde me senti como o Justin Bieber por três minutos da minha vida. Vivi aquela vida em que tudo funcionava, MTV, 50 mil discos por semana, limusines, tudo está ótimo e de repente não está mais.

Acho que há algo muito puro em viver apenas pela música, sim, nós fizemos grandes shows, tocamos para 500 mil pessoas esse ano, é muita gente. Algumas bandas fizeram isso em dez shows, para nós foram muitos shows. Mas amamos o que fazemos, amo minha vida, sou muito grato.

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Existe a possibilidade de vir ao Brasil com o novo álbum?

Quero voltar para o Brasil e tocar. Os melhores públicos do mundo estão no Brasil, todos sabem disso, é um fato. Para mim é interessante, não tenho ideia de quem quer falar comigo, ou onde irei tocar, só me falam que vou tocar e chego lá e toco. Escrevo músicas, as performo e espero que meu agente faça um ótimo trabalho.

Não tento performar várias tarefas, sendo música, agente, acho que estão fazendo o melhor que podem, e acho que esse disco é muito forte. Tenho uma visão muito simples: meu trabalho é fazer esse disco ótimo, e me entregar completamente em todo show.

O que recorda de suas passagens pelo Brasil?

Tive algumas aventuras no Brasil, tocamos algumas vezes, mas gostaria que tivéssemos tocado mais. Foi no Brasil que conheci Bowie. Nossa primeira turnê mundial foi com David Bowie. Uma turnê com ele, em estádios, foi uma experiência incrível. Passeando com ele, almoçando com o Bowie pela América do Sul, é uma memória profunda.

Sei que você é um apaixonado por futebol. Está confiante que a Inglaterra pode brilhar na Copa do Mundo?

Eles foram tão bem na última Copa, foi de partir o coração. Realmente acho que há muita velocidade. No passado não tivemos tanta velocidade, é um time rápido, mas é possível. Já está na hora da Inglaterra ganhar uma Copa. Lutamos muito na última e não tivemos sorte, apenas esperamos que tenhamos mais sorte dessa vez. Sempre é um momento legal.

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*Entrevista por Isabela Amorim. Tradução por Matheus Monteiro

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