Entrevista | Mudhoney – “Por favor atualizem minha foto no Wikipedia”

Uma das bandas mais autênticas e influentes da geração grunge, o Mudhoney está prestes a chegar ao Brasil para apresentações em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Ainda há ingressos disponíveis. O último álbum do Mudhoney, Plastic Eternity (2023), será uma parte importante do repertório da apresentação, mas o setlist não está 100% definido. Segundo o vocalista, Mark Arm, a banda pretende cobrir diferentes fases da carreira, resgatando músicas do início e dos anos intermediários. “Temos 35 anos para cobrir. Trabalho duro”, brincou o artista em entrevista ao Blog n’ Roll. Além de falar sobre o show, Mark Arm relembrou uma situação inusitada que viveu no Brasil: durante uma passagem pelo país, ele percebeu que havia esquecido sua guitarra nos Estados Unidos, mas só se deu conta disso ao abrir o case vazio em São Paulo. “Imediatamente pensei que alguém tinha roubado minha guitarra”, contou. A solução foi improvisar com instrumentos emprestados, um dos quais aparece na foto de sua página na Wikipedia até hoje, fato que o incomoda bastante. Na mesma entrevista, Mark Arm compartilhou suas expectativas para os shows no Brasil e relembrou momentos marcantes da trajetória do grupo. Quais são suas expectativas para os shows no Brasil? Você já tem um set list definido? Não temos um set list pronto em particular, mas temos uma ideia geral e esperamos nos divertir. Pretende priorizar algum álbum? Tocaremos uma boa quantidade de músicas do último disco, Plastic Eternity, mas tocaremos coisas dos primeiros álbuns e dos anos intermediários. Temos 35 anos para cobrir, é um trabalho duro. Você se recorda de alguma história memorável no Brasil? Você já veio com o Mudhoney e também com o MC5. Uma vez voamos para cá e eu tinha um case de guitarra muito pesado, tipo um case tipo bigorna com metal ao redor. E estávamos na passagem de som em São Paulo e abri meu case e ele estava vazio. Eu imediatamente pensei que alguém tinha roubado minha guitarra. E fiquei, tipo, puta merda. Então meio que me recompus, isso foi antes de ter um celular que ligasse para o exterior e confirmasse. O André Barcinski (jornalista) me ajudou a ligar para casa e perguntei para minha esposa se ela poderia descer e dar uma olhada na sala da banda. E lá estava a guitarra. O case era tão pesado que não percebi que não tinha uma guitarra dentro. E como você conseguiu tocar? Tive que pegar emprestada as guitarras das pessoas. Na foto principal da minha Wikipedia estou com uma das guitarras emprestadas daquela turnê, uma SG. Eu não tenho uma SG, toco com uma Gretsch, por favor atualizem essa foto. Foi uma estupidez da minha parte esquecer essa guitarra. Mudhoney sempre foi uma das bandas que representou o grunge de uma forma mais autêntica e crua. Como você descreveria a evolução do som da banda desde o começo até hoje? No começo, nós apenas pensávamos em nós mesmos como uma espécie de banda punk rock e underground, nós não pensávamos nessa coisa chamada grunge. Isso nem era uma coisa que existia em termos de marketing ainda. Nós apenas sentíamos que fazíamos parte daquela tradição underground realmente ampla que incluiria Butthole Surfers, Sonic Youth, Big Black, The Replacements, entre outras. Quero dizer, essas são algumas das bandas mais conhecidas, mas tinha também Killdozer e Scratch Acid, além de muitas australianas como Feedtime, The Beasts of Suburban, The Scientists e Cosmic Psychos. Essas eram as coisas com as quais sentíamos afinidade. Assim como nossos amigos em Seattle, Portland e Vancouver. Seattle foi o centro das atenções entre o final dos anos 1980 e o início dos anos 1990. Você acha que um novo movimento de bandas como o grunge é possível hoje? Eu não sei. Claro, tudo é possível. Para muitos críticos musicais, Mudhoney é o padrinho do grunge. Você acha que Nirvana, Alice in Chains, entre outros, teriam existido sem vocês? Sim, Alice in Chains estava em um caminho diferente. Quer dizer, eles começaram em meados dos anos 80. Pelo menos esse nome estava por aí, sabe, eles não mudaram o som. Acho que originalmente eram mais como uma banda de glam metal. O Soundgarden existia bem antes do Mudhoney começar. Eles eram contemporâneos do Green River. As pessoas estariam tocando música, quer existíssemos ou não. Mas o Mudhoney tem uma grande influência nessa geração de músicos, mesmo soando diferente, certo? Sim, acho que há muitas bandas de Seattle que soam diferentes o suficiente para nós. Pearl Jam, que são grandes amigos nossos, eles não soam como nós. Então talvez nós os influenciamos de uma forma que eles disseram: ‘nós não queremos soar assim. Isso não nos levará a lugar nenhum’. (risos) A morte de Kurt Cobain foi o começo do fim do grunge ou houve outros fatores que contribuíram para a perda de força da cena? Sim, tenho certeza. Essa foi uma lápide fácil de colocar e não acabou com nada para mim. Só me deixou terrivelmente triste. A energia do Mudhoney no palco é uma das mais comentadas sobre coisas dos fãs. O que você sente quando está no palco? É difícil colocar em palavras o que sentimos. É só que não consigo realmente analisar e destilar em algo que seja, mas é um show muito bom e o público gosta, então, nós nos alimentamos uns dos outros. Como se sentíssemos a energia deles. Espero que eles sintam a nossa. E isso meio que, conforme o show avança, fica meio mais forte e intenso. Esse é o marcador de um ótimo show. Como essa experiência ao vivo evoluiu ao longo dos anos? Ficamos muito mais velhos, não sou nem de longe tão flexível quanto costumava ser. Minhas articulações doem de vez em quando. Dói meu tornozelo e meu quadril. Não quero ter uma conversa de velho, onde fico sentado e reclamando, mas realmente me dói toda vez que acordo. Mas, por exemplo, acho que quando você envelhece, tem um entendimento melhor disso. Quando você é mais
Entrevista | L7 – “Seria muito horrível se aquele avião virasse”

Prestes a desembarcar no Brasil pela quarta vez, a banda californiana L7 acompanhará o Garbage em sua turnê pelo País a partir da próxima semana. Os shows acontecem nos dias 21, 22 e 23 de março, no Rio de Janeiro (Sacadura 154), São Paulo (Terra SP) e Curitiba (Ópera do Arame), respectivamente. A banda The Mönic fará a abertura dos eventos em São Paulo e Curitiba. Ainda há ingressos disponíveis. O grupo, formado por Donita Sparks, Suzi Gardner, Jennifer Finch e Demetra Plakas, não lança um álbum de inéditas desde 2019, quando divulgou Scatter the Rats. No entanto, gravar um sucessor não está nos planos. A ideia é seguir excursionando e tocando seus principais sucessos. As apresentações no Brasil, inclusive, devem ser focadas no maior sucesso comercial da banda, Bricks Are Heavy, de 1992. Sons novos também estão nos planos. Em entrevista ao Blog n’ Roll, a vocalista e guitarrista Donita Sparks falou sobre a expectativa para os shows, as lembranças da icônica passagem da banda pelo Hollywood Rock de 1993 e a relação com o produtor Butch Vig, responsável pelo álbum Bricks Are Heavy. Além disso, Donita comentou o atual cenário político dos Estados Unidos e a dificuldade de produzir novos álbuns de estúdio. Confira a entrevista completa abaixo. Como está a preparação para os shows no Brasil? Set já está definido? Hoje (dia 13) à noite é nosso primeiro ensaio para os próximos shows no Brasil. Então, ainda não temos o set list. Vamos trabalhar nisso hoje à noite. Mas vou te dizer que vamos adicionar algumas músicas novas no set que não tocamos no Brasil. Isso vai ser emocionante. No entanto, também temos uma baterista que acabou de fazer uma cirurgia no joelho em janeiro. Então, temos que ser muito eficientes com o que escolhemos, porque ela não pode tocar muito agora. Mas vocês pretendem priorizar algum álbum? Sim. Nós, provavelmente, tocaremos a maioria das músicas do Bricks Are Heavy, foi o nosso maior disco de todos os tempos. Além disso, Butch Vig, do Garbage, produziu esse disco. Gostaríamos que ele ouvisse algumas dessas músicas ao vivo. Depois de todo esse tempo, nós sempre tocamos mais coisas do Bricks Are Heavy do que nossos outros discos. Nós estamos realmente ansiosas para tocar com o Garbage. Nós conhecemos esses caras, conhecemos Butch há décadas. E os outros caras da banda estavam acostumados a trabalhar com Butch quando gravamos Bricks Are Heavy. Isso é muito emocionante. Conheci Shirley há cerca de dez anos e ela é muito divertida de se conviver. Apesar dessa relação, nós nunca tocamos com o Garbage antes. Você comentou sobre o Butch Vig. O quão importante ele foi para o sucesso do Bricks Are Heavy? Ele é um excelente produtor. E ele também não é um idiota, é uma pessoa muito legal, tem um bom senso de humor, além de ser muito diplomático em sua abordagem trabalhando com músicos. Alguns produtores são tiranos, simplesmente horríveis. Tivemos sorte de não termos trabalhado com nenhum desses tipos de pessoas. Butch não apenas é um cara legal, mas trouxe sons de guitarra realmente ótimos e agressivos, e também encorajou nosso lado melódico, nos encorajou a explorar isso um pouco mais do que outros produtores fizeram. E vocês planejam trabalhar juntos novamente? Ah, não agora. Butch é muito caro, não podemos pagar Butch. Você sabe o que quero dizer? Ele é um grande negócio, nós não somos. Não temos dinheiro para Butch Vig. Teríamos que ser um projeto de caridade dele para trabalharmos juntos. Eu adoraria em algum momento trabalhar com ele, mas isso está muito distante hoje. Uma das memórias mais marcantes que tenho do L7 no Brasil foi a apresentação no Hollywood Rock, em 1993. Você se lembra dessa primeira vez no país? Foi muito emocionante! Estávamos no mesmo avião com o Nirvana, Alice in Chains, Red Hot Chili Peppers… Quando voamos de São Paulo para o Rio, todas as bandas estavam naquele voo. E aquele voo, quando pousou, quase virou, foi realmente assustador. Imagina isso? Seria muito horrível se aquele avião virasse, todo mundo estava naquele avião. No fim, deu tudo certo e nós fomos ao show, mas foi bem assustador. Não esperávamos a recepção positiva do público no festival, foi muito legal. Meu Deus! Que horror essa situação Muito! Nós pousamos de lado, estávamos quase fora de nossos assentos. A inclinação era tão intensa. Nós estávamos totalmente apavorados, todos os músicos, mas os roadies estavam rindo, achando tudo divertido. Mas você acha que antes desse incidente foi divertido, estar todos juntos no mesmo avião? Nós saímos mais com o Nirvana, mas também um pouco com o Layne Staley (ex-vocalista do Alice in Chains), ele era muito divertido, essas lembranças que ficam. O L7 sempre foi muito associado ao grunge. Mas acho que é um erro, já que vocês vieram antes do movimento. Isso é algo que te incomoda? Não me incomoda mais. Acho que talvez na época incomodasse, só porque achava que era um jornalismo preguiçoso nos colocar todos juntos daquele jeito. Mas todo mundo precisa de uma porra como essa. Tenho certeza de que bandas que eram chamadas de punk também não gostavam do rótulo. O mesmo acontecia com a new wave. O feminismo sempre esteve presente na história do L7. Você acha que os tempos mudaram se comparado com o início da carreira do L7? Cresci com o feminismo na década de 1970, minha mãe e irmãs eram feministas, isso faz parte do meu DNA. Mas meu pai era feminista também. Então, cresci com direitos ao aborto na minha casa. E o direito ao aborto foi aprovado nos Estados Unidos em 1973 ou algo assim. Portanto, agora, o aborto só ser legal em alguns lugares dos Estados Unidos é muito bizarro para mim, muito doloroso. Nós temos um presidente fascista, isso também é inacreditável. É foda o que está acontecendo aqui. Em momentos como este, só tenho que fazer o que faço como artista, essa é minha contribuição. Vou continuar fazendo música, vamos
Com integrantes do Skank e Jammil, Trilho Elétrico aposta em mix de gêneros; leia entrevista

Depois de décadas como baixista do Skank, Lelo Zaneti resolveu embarcar em um novo desafio musical com a banda Trilho Elétrico. O grupo, que mistura influências de MPB, rock, reggae e pop, reúne músicos experientes de diferentes vertentes, como integrantes do Jammil e da cena do reggae baiano. Em entrevista ao Blog n’ Roll, Lelo falou sobre a formação da banda, a sonoridade e os planos para o futuro. Formada pelos mineiros Lelo e Rodrigo Borges (herdeiro e atual representante do Clube da Esquina) e os baianos Manno Góes (Jammil e Uma Noites) e Lutte (ex-vocalista da Mosiah), a banda Trilho Elétrico tem como objetivo criar um som que transite em diferente gêneros. Até o momento já lançou um álbum (homônimo, de 2023) e alguns singles. “Acho que tem algumas pontas que se conectam. Por exemplo, quando ensaiamos músicas do Jammil para um show, percebi que a condução do baixo poderia remeter a algo meio Paralamas do Sucesso. Esse ensaio nos levou a resultados muito interessantes, onde você se pergunta: ‘Isso é Jammil, Paralamas ou Skank?’. São linguagens que acabam se aproximando naturalmente”, explicou o baixista. A forte conexão da banda com a cena musical da Bahia também é um diferencial. Segundo Lelo, o Skank já participou de muitos eventos de axé e sempre teve afinidade com o ritmo. Além disso, o Trilho Elétrico tem integrantes que vêm do reggae baiano, como Lutte, da Mosiah, um fenômeno local. “A Bahia é um celeiro musical muito poderoso. Lá, a gente vê o brilho nos olhos das crianças quando elas enxergam algo relacionado à música. Tocamos no Carnaval de rua e nas praças do Pelourinho, onde há uma circulação forte de estrangeiros e do público jovem. Então, houve toda uma pesquisa e experimentação para chegarmos na identidade do Trilho Elétrico.” “Plot Twist” e a nova fase da Trilho Elétrico O primeiro single do Trilho Elétrico em 2025, Plot Twist, já começou a ganhar destaque, entrando em playlists editoriais do Spotify. A canção traz uma mescla de pop, reggae e MPB, refletindo a diversidade sonora do grupo. “O arranjo da música foi feito com muito cuidado. Gravamos no estúdio do Chico Neves, que trabalhou com Paralamas, Skank e até Peter Gabriel. Ele conseguiu tirar um som incrível. No final, percebemos que Plot Twist nasceu de forma muito natural, parecia que já estava dentro de nós”, contou Lelo. A estratégia da banda para os próximos lançamentos segue uma tendência do mercado digital: em vez de lançar um álbum completo de uma vez, o grupo pretende soltar singles ao longo do ano. “A leitura do digital hoje é essa: lançar quatro ou cinco singles por ano. Isso mantém o público sempre com novidades e favorece o engajamento nas plataformas. Nos anos 60, os Beatles impulsionaram o formato de singles. Depois, o Led Zeppelin veio e resgatou a força dos álbuns. Agora, voltamos a uma era onde os singles dominam de novo. A música precisa se adaptar ao tempo”, refletiu. Com uma forte presença em festivais e no circuito independente, o Trilho Elétrico quer expandir ainda mais seu alcance. Segundo Lelo, um dos objetivos é entrar em circuitos como o do Sesc, que oferece estrutura e visibilidade para artistas de diversos gêneros. “A gente tem que entrar em circuitos que mostram o trabalho para um outro público. O Sesc, por exemplo, é um espaço que permite um amadurecimento do som. O Emicida fez isso muito bem. É um projeto de longo prazo, mas estamos no caminho certo”, afirmou. Enquanto isso, o Trilho Elétrico já está de olho nos próximos lançamentos e até em colaborações especiais. “Estamos prospectando convidados para o próximo single e a ideia é seguir nessa linha do Plot Twist, algo que o brasileiro tem na veia. O primeiro disco teve um som mais aberto, com participações de Daniela Mercury, Tony Garrido e Luiz Caldas. Agora, queremos consolidar essa identidade pop rock e seguir lançando novas faixas ao longo do ano.”
Acadêmicos do Offspring encerram Carnaval de SP com desfile campeão no Allianz Parque

Se a banda californiana The Offspring fosse uma escola de samba, certamente teria grande êxito com a apresentação no Punk is Coming, no último sábado (8), no Allianz Parque, em São Paulo. Um ano após a última passagem pelo Brasil, a banda mostrou ainda mais consistência. Donos da festa, Dexter Holland e Noodles usaram diversos artifícios para garantir uma grande festa punk rock no principal palco de shows de São Paulo. O enredo escolhido pelos californianos foi o punk rock dos anos 1990. Das 19 músicas tocadas, dez vieram dos álbuns lançados nesse período efervescente do punk rock californiano. Americana (4), Ixnay on the Hombre (3) e Smash (3) foram muito bem representados. Os telões, inclusive, trouxeram lembranças de videoclipes, entre outros adereços da época. Dentro desse enredo, o Offspring surpreendeu pela inclusão de Mota no repertório, música do Ixnay on the Hombre que estava fora dos shows desde 2019. Inclusive, Jason “Blackball” McLean, parça dos caras, estava no palco para gritar “Mota” durante a canção. A bateria do Offspring seguiu nota dez. Brandon Pertzborn, que nasceu no ano em que o álbum Smash (1994) foi lançado, deu um gás extra para a banda. Isso, aliás, parece ter impulsionado ainda mais os veteranos. Apesar de ter apenas 30 anos, Brandon já coleciona experiências com Black Flag, Doyle, Marilyn Manson e Suicidal Tendencies. Tá bom, né? Samba-enredo do Offspring agradou fãs O samba-enredo da temporada, sem dúvida alguma, foi Come To Brazil, faixa dedicada aos fãs brasileiros e presente no último disco da banda, Supercharged (2024). Após o anúncio que imagens para um videoclipe estavam sendo registradas, o público vibrou além do normal. No carro alegórico, ou seria telão, várias animações com referências ao país. Na reta final da canção, Dexter puxou o “ole, ole, ole” dos fãs. Mestre-sala e porta-bandeira do Offspring, Dexter Holland e Noodles deram mais um show de carisma no palco. Dentre os vários momentos de interação entre eles, o destaque ficou para o medley que Noodles apresentou de Smoke on the Water / Man on the Silver Mountain / Iron Man / Back in Black / In the Hall of the Mountain King. Em outra parte do show, os dois veteranos do punk californiano elogiaram os fãs e brincaram que “era o maior público de rock da história”. A comissão de frente ficou a cargo do público, que é parte importante do show. Sem a interação com os músicos, o show talvez não tivesse o mesmo peso. Boa parte deles com camisetas pretas com alusão ao grupo e uma energia inesgotável. Harmonia, alegoria e fantasia A harmonia também não deixou a desejar. Público cantou todas as músicas do início ao fim em alto e bom som. Do álbum mais novo do Offspring, Make It All Right e Come to Brazil, samba-enredo da temporada, pareciam até hits dos anos 1990. No quesito alegoria, o Offspring se destacou com dois “carros alegóricos”: um representado por duas grandes caveiras, uma em cada lado do palco, outro com dois bonecões do posto do White Guy, personagem central do single Pretty Fly. A fantasia dos integrantes, apesar de clichê, ainda cai muito bem nesses senhores da casa dos 60 anos. Punk rock puro, com roupas escuras, munhequeira e calças. Evolução Por fim, a evolução foi o quesito que garantiu o título de melhor show do festival para o Offspring. Sem deixar lacunas e sem correr para cumprir o tempo de show, soube condensar bem em 1h20 o grande apanhado de hits. Começou com a energia no talo tocando All I Want, Come Out and Play e Want You Bad. O recheio do desfile, acompanhado de diversas queimas de fogos e explosões de papel picado, contou com cover do Ramones (Blitzkrieg Bop), o clássico Bad Habbit e Gone Away, que estava ausente dos sets desde 2020. Aliás, logo que foi encerrada, veio acompanhada de um solo de bateria de Brandon. A reta final do desfile punk rock do Offspring foi recheado por hits absolutos, como Why Don’t You Get a Job?, Pretty Fly (for a White Guy) e The Kids Aren’t Alright, todos do Americana (1999). Ainda teve espaço para Lullaby, You’re Gonna Go Far, Kid e Self Esteem. Acadêmicos do Offspring entregou o melhor encerramento de Carnaval possível para São Paulo.
Lampejos de vocal e nostalgia marcam show praiano do Sublime em SP

Com tempo de headliner, 1h20 de palco, o Sublime entregou um show de nostalgia pura no Punk is Coming, no sábado (8), no Allianz Parque, em São Paulo. O baixista Eric Wilson e o baterista Bud Gaugh, agora acompanhados de Jakob Nowell, filho do finado vocalista Bradley Nowell, transportaram o público para 1996, ano auge da banda e do lançamento do principal álbum, homônimo. Com várias imagens de Bradley e Jakob no telão, o show encantou mais pela nostalgia do que pela qualidade. Jakob teve lampejos de vocalista ao longo do show. Prejudicado pelo som no início da apresentação, ele muitas vezes deixou de cantar pontos importantes da música para dar pulos, fazer dancinhas e qualquer outra coisa. Aos 29 anos, Jakob tem muito potencial para crescer e se tornar uma referência na banda, mas isso exige mais dedicação e foco. Bonitão, jovem, filho de Bradley e com um histórico na música (foi vocalista da banda de ska punk LAW), além de uma ótima relação com dois terços do Sublime original, tudo pode melhorar bastante se houver interesse. Voltando ao show, nove das 17 faixas do álbum homônimo foram tocadas em São Paulo. A grande baixa certamente foi Seed, mas tenho dúvidas que Jakob conseguiria cantar direitinho. O set contemplou também mais sete músicas dos dois primeiros álbuns do Sublime, 40oz. to Freedom (1992) e Robbin’ the Hood (1994). Vale destacar também os covers de Toots & The Maytals (“54-46” – That’s My Number) e Bob Marley (Jailhouse). Coincidência ou não, Jakob parece ter melhorado o vocal na apresentação após a participação especial de Noodles, do Offspring, em What I Got. Em Boss DJ e Pool Shark, ambas de Robbin’ the Hood, Jakob esteve sozinho no palco e pode mostrar que consegue cantar bem as faixas e até emocionar. Eric Wilson e Bud Gaugh, que parecem ter subido ao palco após um longo dia no Quebra-Mar de Santos, deram toda segurança para Jakob honrar o legado do pai na reta final do show. No fim do show, Feel Like That (cover do Stick Figure), Same in the End e Santeria garantiram um cartão de visita melhor de Jakob. A última, por sinal, foi o grande momento de interação entre público e banda. Edit this setlist | More Sublime setlists
Rise Against faz show de gente grande e sai ainda mais gigante do Punk is Coming

De festival em festival, o Rise Against vai aumentando o seu público no Brasil. Depois do Lollapalooza 2023, a banda marcou presença na primeira edição do Punk Is Coming, que rolou no último sábado (8), no Allianz Parque, em São Paulo. Abraçada pelo público do início ao fim, a banda de Chicago teve um 1h05 de show para desfilar seus principais hits e ainda apresentar algumas novidades. O vocalista e guitarrista Tim McIlrath conversou em alguns momentos com os fãs, perguntando quem já conhecia a banda ou quem havia ido nos shows de 2023 (fez Lolla Side também). Parecia muito feliz em retornar ao país. Em outro momento, Tim destacou as bandas The Warning e Amyl And The Sniffers, garantindo que o “futuro do rock estava bem representado” com elas. Com 12 faixas no repertório, a banda focou nos hits, gastando logo de cara: Re-Education (Through-Labor), The Violence e Give It All. Foi a apresentação que mais agitou o público, com exceção do Offspring, dono da festa.Mais adiante, Tim perguntou se o público se incomodaria com a inclusão de uma faixa nova no set. Com a resposta positiva, tocou Nod, lançada no fim de janeiro, logo após outro clássico, Satellite. Rise Against em alta temperatura Na sequência, aumentou a temperatura ao máximo com Ready to Fall e Prayer Of The Refugee. Com o mosh pit bastante violento, uma pessoa ficou ferida e precisou de atendimento médico. Ao perceber a presença dos bombeiros na plateia, Tim pediu para o público cooperar e interrompeu o show até garantir que o fã estivesse bem. Foi bastante aplaudido pela ação. Para reduzir um pouco a insanidade dos fãs, mandou a balada Swing Life Away, cantada apenas com violão e voz. Foi o suficiente para acalmar os ânimos e garantir o primeiro momento de luzes de celulares acesas. Aliás, antes de Savior, Tim falou sobre como é difícil ser um sobrevivente em 2025 diante de tantas atrocidades causadas por políticos gananciosos e intolerantes. Por fim, podemos dizer que o Rise Against saiu ainda mais gigante do que entrou no Allianz Parque. Show de banda consagrada e veterana. Edit this setlist | More Rise Against setlists
Com Offspring de tiete, The Damned desfila clássicos em show para público desconectado

Momentos antes de subir ao palco, The Damned recebeu uma visita especial no backstage: Dexter Holland e Noodles, vocalista e guitarrista do Offspring, respectivamente. Os anfitriões da festa Punk is Coming acompanharam a apresentação inteira na lateral do palco. Se levarmos em consideração o tamanho da influência do The Damned no som do Offspring, a cena parecia dos filhos acompanhando o show dos pais. Dexter olhava com muita admiração para o palco, enquanto demonstrava incredulidade com a falta de interesse dos fãs. Com um set menor do apresentado no Cine Joia, na última sexta-feira (7), The Damned deixou o ambiente de “velório punk” para trás, mas não esqueceu de homenagear Brian James, guitarrista e fundador, que faleceu na quinta-feira (6). Além da citação do guitarrista Captain Sensible antes de Fan Club, o telão mostrou uma linda foto do músico durante New Rose, um dos maiores hinos punk da história e composto por Brian James. Muita gente na pista desconhecia a história do Damned e, principalmente, a sua influência na carreira do Offspring. Os comentários variaram entre “que velhinhos simpáticos”, “falta muito para o Rise Against?”, “nada a ver colocar essa banda”. Triste, mas compreensível pela idade média do público que estava na pista. A reta final desses “velhinhos simpáticos”, que estão beirando os 70 anos, contou com uma sequência perfeita: Ignite, Neat Neat Neat, New Rose e Smash It Up (Part 1) e (Part 2). Aqui com direito a “essa música é do Offspring”. Edit this setlist | More The Damned setlists
The Warning estreia no Brasil com show redondo no Allianz Parque

Pela primeira vez no Brasil, o trio mexicano The Warning vive o melhor momento da carreira. Com o quarto álbum de estúdio, Keep Me Fed, lançado em 2024, as irmãs Daniela, Paulina e Alejandra Villarreal Vélez alcançaram as paradas em vários países, incluindo Estados Unidos e Reino Unido. O disco foi a base da apresentação no Punk is Coming, no sábado (8), no Allianz Parque, em São Paulo. Tocando logo depois de Amyl and The Sniffers, The Warning também teve 45 minutos para mostrar o seu trabalho. Das 11 faixas tocadas, sete saíram desse álbum. Se comunicando o tempo todo em inglês com o público, Daniela, vocalista e guitarrista, foi quem comandou o show. Arriscou algumas palavras em português e agradeceu o carinho do público, que abraçou a banda desde o início, inclusive balançando balões com a logo do grupo. Entre os highlights da apresentação, destaco as canções Qué Más Quieres, a única em espanhol no site, SICK!, que abriu o show, além de Hell You Call A Dream e MORE, ambas cantadas por muitas pessoas na pista. Das três primeiras bandas do festival do Offspring, The Warning certamente foi quem mais contagiou o público e já parecia ter uma fanbase maior que os outros. No entanto, é preciso destacar que Amyl and the Sniffers e The Damned tocaram dias antes no Cine Joia lotado de fãs. Edit this setlist | More The Warning setlists
Casa fechada ou estádio, frio ou calor, Amyl and The Sniffers entrega da mesma forma

Responsável pela abertura do Punk Is Coming, no Allianz Parque, na tarde de sábado (8), a banda australiana Amyl and the Sniffers entregou um set arrebatador, tal como já havia feito na última quinta-feira (6), no Cine Joia. Dessa vez, no entanto, debaixo de muito sol e com um público estranho, que não tinha familiaridade alguma com as canções. Isso, porém, não alterou em nada a disposição de Amy Taylor e companhia. A banda soube aproveitar muito bem o tempo de palco, cerca de 45 minutos, emendando um som atrás do outro. A apresentação teve início com Security, um dos primeiros hits da banda, sendo emendado por Doing in Me Head e Chewing Gum, do álbum mais recente, Cartoon Darkness, além de Guided by Angels, outro sucesso do início da carreira. Pareceu uma boa estratégia para conquistar o público alheio, mas acredito que a presença de palco impecável de Amy teve muito mais êxito. Na pista do Allianz, o público não pareceu estar muito em sintonia com as faixas, mas elogiou bastante a disposição da cantora. Por fim, mesmo que o público não tenha abraçado tanto a Amyl and The Sniffers, é garantido que o cartão de visitas funcionou. Que retorne logo para mais apresentações por aqui.