Crítica | Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fabulosa

Aves de Rapina na CCXP19

Após o fracasso de crítica e público de Esquadrão Suicida, sendo a personagem da Margot Robbie a única coisa boa do filme, não seria difícil imaginar um filme solo. Em um mundo onde grandes heroínas são veneradas, como a Mulher-Maravilha, seria um tanto quanto dificil, e anti-ético, simpatizar com uma vilã. E isso, Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fabulosa consegue fazer facilmente. Sobre o filme Posteriormente aos acontecimentos de Esquadrão Suicida, Coringa e Arlequina não estão mais juntos, fazendo com que a loira toque o terror em Gotham City. Após uma sucessão de eventos causados pela Arlequina e as personagens ao redor, um caça ao tesouro por um valioso diamante começa acontecer, fazendo a anti-heróina se desdobrar para o encontrar. Alucinante, engraçado, bonito, frenético e emocionante são algumas palavras que definem o novo filme. Porém, por mais que o título do filme foque no grupo de heroínas Aves de Rapina, a estrela do longa é a Arlequina. Margot Robbie incrível Em um mundo colorido, fugindo da Gotham cinzenta do Coringa, de Joaquin Phoenix, a anti-heróina é divertida, maluca e nos faz simpatizar com toda loucura que ela comete. Tudo isso é devido a excelente atuação de Margot Robbie. Aqui, ela não é só a vilã maluca. Ela também é empoderada, divertida, com momentos concientes e tristes. Margot consegue reproduzir tudo o que o roteiro propôs. Consegue nos fazer rir, ter pena, se emocionar e até torcer para ela bater nas pessoas. A loucura da Arlequina pode ser um dos acertos, mas também um dos erros. Às vezes é difícil acreditar em certas atitudes impossíveis da personagem, mas tudo é bem tolerável, já que estamos falando de filmes de super-heróis. “Você sabe o que é um arlequim? A função do arlequim é servir. Ele não é nada sem um amo. E ninguém liga a mínima para quem nós somos além disso“. Arlequina Intensas lutas e brigas Além de ser bem divertido, outro ponto alto do filme são as sequências de ação. Todas muito bem coreografadas e sonorizadas. Fugas e brigas chegam a dar um ar sério e cômico, principalmente quando a Arlequina usa a sua arma favorita. Um fato interessante é que quando a anti-heroína mata alguém, sai glitter e purpurina no lugar de sangue. Quando explode algo, sai fogos de artifício ao invés de explosões cinematográficas. Um artifício simples, mas que trouxe o contexto da loucura da Arlequina e ainda deixou o filme muito lindo visualmente. O fato do longa ser somente para maiores de 16 anos, trouxe a possibilidade de trazer à tela muita violência. E a Aves de Rapina? Uma das maiores críticas ao Esquadrão Suicida foi a apresentação dos personagens. Aqui, veio através da narração da Arlequina e de flashbacks. Sendo que até rolou uma esquecida proposital com uma das heroína. Por mais que elas marquem presença desde o começo do longa, Caçadora, Canário Negro e a detetive Renée Montoya (trio de super-heroínas que formam a Aves de Rapina) não têm protagonismo e acabam sempre ficando à mercê da Arlequina. Em contrapartida, as tramas da Canário Negro (Junrnee Smollet-Bell) e da Renée Montoya (Rosie Perez) convencem e nos fazem simpatizar com as heroínas. Somente a da Caçadora, interpretada pela Mary Elizabeth Winstead (Scott Pilgram, Projeto Gemini e Rua Cloverfield 10), que ficou um pouco raso, talvez pelo fato de aparecer menos na tela e da escolha do roteiro de ser a última introduzida aos espectadores. O vilão Máscara Negra (Ewan McGregor), juntamente com seu capanga Victor Zsasz (Chris Messina), rouba a cena com um jeito maluco e excêntrico, exatamente como o de Arlequina, por isso traz uma real sensação de perigo à moça. O plot do filme é simples, mas não necessariamente o roteiro também seja. Com flashbacks, heróinas, figurantes que roubam cena, narração didática e animações no meio das cenas, poderia ser uma mistura caótica. Porém, com o acerto da diretora Cathy Van, tudo ficou muito bem calculado. Conclusão Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fabulosa é completo. É divertido, alucinante e com muita violência. Não havia uma atriz melhor para interpretar Arlequina. Não tinha como o filme solo da anti-heroína mais famosa da DC não sair desse jeito. Em cartaz Na Baixada Santista, o filme Aves de Rapina – Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa está em cartaz no Roxy Anilinas, Roxy Gonzaga e Roxy Brisamar.

Crítica| Messiah – temporada 1

Quando uma produção com temática religiosa é divulgada, a polêmica é sempre garantida. Mas com Messiah pode-se dizer que foi uma estreia até discreta, ao menos aqui no Brasil. Talvez por não ter cutucado uma religião popular em nosso país. Mas o fato é que a série merece atenção, pois abre vários pontos de questionamento social e, além é claro, de ter um enredo instigante e muito bem construído. A história começa com o discurso do personagem al-Masih (Medhi Dehbi), durante um ataque do Estado Islâmico aos palestinos, tudo em meio a uma tempestade de areia. Os dizeres inflados e a certeza da salvação daquele povo levam os sobreviventes a crerem estar diante do verdadeiro Messias, que os guia até a fronteira de Israel, em busca da terra prometida. A comoção em torno do então salvador, desperta suspeitas na agente Eva Geller (Michelle Monaghan). Uma investigação da CIA, terrorismo, disputas de poder entre as organizações de segurança de Israel e EUA viram pano de fundo para a história da possível divindade. Com a chegada de al-Masih é que a narrativa ata e desata nós. O que justifica o uso do termo “possível”, pois hora nos levam a crer que ele é, hora os fatos nos levam a pensar de forma mais racional. Personagens Se por um lado o roteiro segue nuances interessantes, as histórias paralelas deixam a desejar um pouco. Os problemas secundários até poderiam ser empáticos, mas falta carisma nos personagens, entrosamento e calor. Tudo soa frio e com distanciamento. Até o próprio personagem central soa indiferente em algumas ocasiões. O que me fez questionar algumas vezes: por que as pessoas o seguem afinal? Falta palavras de amor, fraternidade e até acolhimento. Mas então, tudo é suprido com algum feito emblemático, que responde à pergunta, com um incrédulo: ah, é por isso. O que nos leva a outro ponto: a sociedade está tão carente e sedenta por milagres extraordinários, que nos agarramos a qualquer ação sobrenatural para dar sentido ao que vivemos? Talvez o único personagem que traga alguma centelha de comoção seja a garotinha com câncer e sua família. Não destrincharei sobre, porém foi o núcleo mais cativante. Mas não podemos culpar as atuações, eles realmente entregaram o que os personagens e a história pediam. Al-Masih, cumpriu seu papel como o profeta enigmático, cercado por uma áurea de charlatanismo e misticismo. E Eva, não fica atrás com sua agente cheia de traumas pessoais, mas ao mesmo tempo fria e racional. Outro personagem que merece destaque é Samir (Sayyid El Alami). Ele é introduzido logo na primeira cena da série e acompanhamos uma jornada de crescimento quase heroica, até sua última aparição. Possivelmente, o garoto ainda nos guiará por um caminho narrativo cheio de reviravoltas e teorias na próxima temporada. Real x Misticismo A situação proposta é hipotética, mas não tem como não cogitar a ideia de realmente acontecer aqui e agora. A reação das pessoas, suas dúvidas, medos e angústias expostas pela vinda de um salvador. Esses pontos são bem trabalhados na trama, seja ao mostrar o furor nas ruas ou ao colocar o presidente dos Estados Unidos como um homem vulnerável por sua fé. Se a intenção era fazer questionar sobre nossa relação com a religião e o próximo, a série cumpre a imersão.