Entrevista | Eagle-Eye Cherry – “Queria levar para Become a Light essa energia que vem do palco e do público”

Desde os tempos de Save Tonight, Eagle-Eye Cherry construiu uma carreira marcada por reinvenção e honestidade musical. Filho do lendário jazzista Don Cherry, ele sempre transitou entre os mundos do jazz, do rock e do pop com naturalidade e curiosidade artística. Ao longo das décadas, manteve-se fiel ao palco, dizendo que ali se sente “em casa”, mesmo em meio às mudanças da indústria da música. Em Become A Light, seu sétimo álbum de estúdio, ele retoma as guitarras e capta a energia e o sentimento do rock e do pós-punk com os quais cresceu ouvindo. Metade do disco foi gravada em Los Angeles, ao lado de Jamie Hartman e Mark Stoermer (The Killers), e a outra metade na Suécia, com Peter Kvint. O primeiro single, Hate To Love, nascido de uma sessão espontânea no Sunset Marquis, mostra bem esse espírito de fluidez criativa e conexão com o instante. Em entrevista ao Blog N’ Roll, Eagle-Eye Cherry nos leva para dentro desse processo de retomada artística: ele fala de memórias da origem do seu nome, o primeiro instrumento que aprendeu, da influência do legado familiar, da escolha de covers no setlist, das relações entre os ambientes americano e sueco de gravação, e das emoções da perda de sua mãe que alimentaram o álbum. Você quer explorar mais o rock nesse álbum. De onde veio esse desejo de revisitar esse som? Acho que foi algo natural, porque é uma continuação do que eu estava fazendo no meu último álbum, Back on Track. Eu queria capturar a energia que tínhamos nos shows ao vivo, então entrar com a banda no estúdio o mais cedo possível depois de tocar foi essencial. Queria levar para o disco essa energia que vem do palco e do público. Depois, comecei a escrever músicas que senti que faltavam no setlist, canções com mais energia e movimento. Foi um processo bem espontâneo, e naturalmente o som acabou ficando mais alto e com mais guitarras. Durante a pandemia, você mencionou revisitar discos da sua adolescência, como London Calling, do The Clash. Quais outros álbuns te inspiraram nesse processo? Durante a pandemia, comecei a ouvir os discos que comprava quando era adolescente. Não é que eu quisesse fazer algo que soasse como The Clash ou Sex Pistols, mas queria resgatar aquela sensação de energia e descoberta musical que eu tinha naquela época. Isso me inspirou muito a compor novamente. Musicalmente, porém, acho que estou mais próximo do universo do Tom Petty, que sempre soube equilibrar a sensibilidade pop com o som do rock americano tradicional. Como foi trabalhar com Mark Stoermer, do The Killers, nesse álbum? Foi ótimo. Nós nos conhecemos em Los Angeles, e logo começamos a escrever Hate to Love. Estávamos desenvolvendo a ideia do verso quando o Jamie Hartman apareceu no estúdio, ouviu o que estávamos fazendo e trouxe a ideia do refrão. Em poucas horas, a música estava pronta. Foi um processo muito fluido e inspirador. Foi realmente uma boa dobradinha. Qual é a principal diferença entre gravar nos Estados Unidos e na Suécia? Por eu ser meio americano por parte de pai e meio sueco por parte de mãe, é algo muito natural para mim. Quando estou nos Estados Unidos, me sinto sueco. Quando estou na Suécia, me sinto americano. Gosto de ir e vir, visitar as duas partes de mim mesmo. Tenho grandes conexões com músicos suecos, e a maioria da minha banda é de lá, então é natural gravar também na Suécia. Esse equilíbrio me faz bem. O título Become A Light carrega uma forte carga emocional, especialmente ligada à memória da sua mãe. Como isso se refletiu nas músicas? Sim, essa é a essência do álbum. A faixa-título nasceu num dia em que eu estava lembrando o funeral da minha mãe, que faleceu em 2009. A canção fala sobre aquele sentimento de perda, mas também sobre estar vivo e sentir o vento, os cheiros, as pessoas em volta. Era como se ela ainda estivesse ali, transformada em luz. Foi uma experiência muito profunda, e é daí que vem o nome Become A Light. Seu pai, Don Cherry, teve grande influência artística. Qual parte do legado dele você mais tenta honrar? Meu pai sempre dizia para manter as coisas simples. Quando eu tentava complicar demais na bateria, ele me lembrava disso. Até hoje, ouço essa voz na minha cabeça no estúdio. Ele também me ensinou a dar espaço aos músicos, a deixá-los se expressar. Às vezes, as ideias deles são até melhores do que as minhas. Essa generosidade musical é algo que herdei dele. Já que você falou de tocar na infância, qual foi o primeiro instrumento que você aprendeu a tocar? Bateria. Na verdade, eu quebrei o dedo quando era criança tocando, então aprendi do jeito difícil. Mais tarde, descobri a guitarra, que acabou sendo o instrumento que realmente me abriu as portas para o meu som e onde sinto que minha voz combina melhor. Você costuma dizer que o palco e a estrada são seus lugares favoritos. Por quê? Acho que porque cresci assim. Meu pai levava a família nas turnês, e quando comecei a excursionar com meu primeiro álbum, percebi que aquele era meu segundo lar. Tudo faz sentido quando estou na estrada — as composições, as gravações, as entrevistas. Tocar ao vivo é o coração de tudo. Hoje é mais confortável, claro, mas ainda mantenho essa essência. E é importante ter boas pessoas na equipe, porque uma só pode arruinar toda a harmonia. E já que a vida é na estrada, onde você está neste exato momento? Estamos em Dijon, na França. Tocamos em Bordeaux há alguns dias e agora estamos seguindo para a Alemanha. Esses shows já são da turnê nova, então gostaria de saber como têm sido os primeiros shows da tour Become A Light? As reações do público surpreenderam você? Foi incrível. O público tem reagido muito bem às novas músicas, e estamos misturando faixas de vários álbuns. Na França, tenho uma ótima relação com os

Entrevista exclusiva | Manapart – Conheça a banda russo-armênia comparada ao System of a Down

Misturando elementos étnicos do Oriente com o peso do nu metal e metal moderno, a banda Manapart vem se tornando um dos nomes mais falados da nova cena do Leste Europeu. Surgida em 2020, em meio a pandemia, o grupo traz em suas letras temas introspectivos, espirituais e simbólicos, muitas vezes inspirados nas complexidades políticas e culturais da Armênia, país de origem de parte dos integrantes. Com melodias densas e atmosferas melancólicas, o Manapart busca mais do que entretenimento: uma experiência emocional e quase ritualística. Nesta entrevista exclusiva ao Brasil, a banda fala sobre suas raízes, semelhanças e diferenças para o System of a Down, a espiritualidade presente nas letras, o cenário atual da Armênia e o carinho pelo público brasileiro, que hoje é representado pelas cinco cidades com maior base de ouvintes da banda no Spotify. Em uma conversa descontraída com o Blog N’ Roll, Arman Babaian e Zakhariy Zurabian mostram que são uma banda consciente de seu papel artístico e político, mas que mantém viva a paixão genuína pela criação musical. Como o Manapart nasceu e o que inspirou o nome da banda? Originalmente fomos uma banda cover de System of a Down com Arman e Artyom, nossos vocalistas. O nome da banda era WishUp, e se alguém procurar no YouTube por WishUp Toxicity, vai encontrar nossos primeiros covers do SOAD. Depois de alguns anos e alguns shows, decidimos que poderíamos produzir nossa própria música. Nosso ex-baixista, Pete, deixou a banda porque tinha ideias diferentes, e começamos a escrever nosso próprio material. Então nós escolhemos o nome Manapart. Para ser honesto, não tem um significado específico. Quando pensei no nome, era Man Apart, mas já existia uma banda com esse nome, então decidi tirar o espaço. Assim nasceu Manapart, um nome sem nome. Não deixa de ser original… Sempre acreditei que o nome de uma banda deve ser fácil de ler e pronunciar em qualquer idioma. Manapart é simples, fácil de lembrar e funciona em inglês, armênio, russo ou português. Isso faz diferença. Eu nunca gostei de bandas que usam números no nome, acho estranho, mas claro, Blink-182 e Sum 41 têm suas histórias. Vocês surgiram em 2020, quando o nu metal ainda estava adormecido. Esse revival do estilo abriu portas para vocês? Sim, mas nós não começamos por moda. Gostamos genuinamente do gênero. Temos entre 30 e 35 anos, então crescemos ouvindo nu metal. Pensamos em fazer algo mais moderno, mas decidimos seguir o que realmente amamos. Acreditamos que tentar compor algo que você não sente é um erro. Então seguimos pelo caminho natural: fazer o som que gostamos. Muito se fala em comparações entre vocês e o System of a Down. Mas o que eu mais quero saber de vocès é o que diferencia o Manapart do SOAD e como vocês definem o próprio som? Nós temos mais elementos étnicos na música, com instrumentos orientais e uma identidade armênia mais acentuada. O System também tem isso, mas decidimos ampliar esse aspecto. Não foi planejado para soar igual ou diferente, foi natural. Claro que há inúmeras semelhanças, pois somos parcialmente armênios e compartilhamos influências culturais. O vocal também pode lembrar o Serj Tankian, o que ajuda a chamar atenção, mas nossa música é mais sombria e melancólica. Enquanto o System é mais agressivo e político, nós exploramos temas pessoais, espirituais e introspectivos. As letras de vocês exploram temas psicológicos e espirituais. Isso é intencional, pessoal… Exatamente. Tentamos escrever letras mais abertas, para que cada pessoa possa interpretar de forma pessoal. Quando você define demais um tema, tira a conexão emocional do ouvinte. Então, prefiro deixar espaço para que cada um insira sua própria experiência na canção. Aprendemos muito sobre a Armênia com o System of a Down. Na visão de vocês, como está o país hoje? Acho que as palavras que descrevem a Armênia são “complicada” e “trágica”. É um lugar lindo, com uma história profunda, mas que vive um momento difícil politicamente. Eu me sinto triste quando vou lá, por tudo o que acontece, mas é um país seguro para se visitar. A Armênia tem uma posição geopolítica muito delicada, cercada por Turquia, Azerbaijão, Irã e uma pequena fronteira com a Geórgia. É imprevisível o que pode acontecer no futuro, mas acreditamos que, enquanto a cultura for preservada, a Armênia continuará viva. E como é a cena musical na Armênia? Há artistas incríveis. Um dos meus favoritos é Tigran Hamasyan, um pianista de jazz que mistura música armênia com estruturas complexas e modernas. Ele representa o orgulho musical do país. Vocês já foram elogiados por Serj Tankian. Qual a relação de vocês com os integrantes do System of a Down? Quando começamos, enviávamos demos e materiais para eles. Temos amigos em comum nos Estados Unidos. O John segue o Instagram do Zakko, por exemplo. Sabemos que o Serj conhece a banda, e o Shavo também. O único com quem temos menos contato é o Daron, mas mantemos uma boa comunicação com pessoas próximas a ele. O single com o Tardigrade Inferno teve ótima recepção. Esperavam esse impacto? Há planos de novas colaborações? Sim, nós somos amigos do Tardigrade Inferno, da mesma cidade, então foi natural. Queríamos algo divertido e sabíamos que a Dasha, vocalista, traria uma energia única. Gostamos do resultado. Também colaboramos recentemente com a banda Shira, que tem saxofone e vocais femininos incríveis, queríamos criar algo inesperado e funcionou. “Delirium” foi lançado como um single. Vocês pensam em álbuns conceituais ou preferem lançar faixas isoladas? Depende do momento de inspiração. Quando temos muitas ideias, gravamos tudo. Às vezes, algumas músicas se conectam e formam um EP. Outras funcionam melhor sozinhas. Não forçamos a criação de álbuns, preferimos deixar fluir naturalmente. O Brasil tem as cinco cidades que mais ouvem o Manapart no Spotify. Como veem essa conexão com o público brasileiro? É incrível. Temos ouvintes em São Paulo e Campinas, e isso nos deixa muito felizes. Além do Brasil, nossos maiores públicos estão na Rússia, Alemanha, Estados Unidos e Armênia. E vocês têm

Entrevista | Street Bulldogs – “Eu que acredito que essa volta vai mexer com o Léo”

Após mais de uma década longe dos palcos, o Street Bulldogs volta à ativa para uma série especial de quatro shows em março de 2026. O retorno de uma das bandas mais influentes do punk/hardcore nacional passará por três capitais brasileiras: Curitiba (13/03, Stage Garden), São Paulo (14/03, Carioca Club e 19/03, Hangar 110) e Belo Horizonte (15/03, Galpão 54). As apresentações serão pontuais e marcam o reencontro do grupo com uma base de fãs que se manteve fiel mesmo após o fim das atividades em 2010. Formado em Pindamonhangaba (SP), em 1994, o Street Bulldogs construiu uma trajetória sólida na cena independente, com discos que se tornaram referência do gênero, como Street Bulldogs (1998), Question Your Truth (2001), Unlucky Days (2003) e Tornado Reaction (2004). A sonoridade crua e direta, marcada por letras que equilibravam crítica e autenticidade, consolidou o grupo entre os principais nomes do hardcore brasileiro no final dos anos 1990 e início dos 2000. Agora, com o vocalista original Leo vindo da Irlanda especialmente para a ocasião, o Street Bulldogs promete celebrar sua história em quatro noites intensas. A formação que retorna é a mesma que gravou o DVD no Hangar 110, em 2010: Fabio Sonrisal e Rodrigo Koala nas guitarras, Sanmy Saraiva no baixo, Guilherme Camargo na bateria e Leo Bulldog nos vocais. Em entrevista ao Blog N’ Roll, Koala fala sobre o retorno aos palcos, as memórias da banda e o impacto duradouro do Street Bulldogs. O que motivou a volta do Street Bulldogs aos palcos depois de tanto tempo? Fui pego de surpresa, pra ser sincero. Acho que o Guilherme, nosso baterista, e o Léo estavam conversando e eu nem sabia. Fui saber quando já estava decidido. Fiquei muito feliz, porque eu sempre quis voltar, mas o Léo era o cara que dizia que não queria mais. A gente até teve proposta no ano passado, mas ele não topou. Quando ele avisou que viria pro Brasil e que queria tocar, foi um choque bom. Acho que foi quando a gente parou de pedir que ele resolveu fazer. Foi tranquilo reunir todo mundo e definir a formação? Sim. A gente tem um grupo no celular e se fala direto, o que facilita muito. O que mora mais longe é o Sonrisal, em Pindamonhangaba, e o Léo, que vem da Irlanda. Então vamos deixar a banda redonda antes dele chegar. Quando ele estiver aqui, faz uns ensaios com voz e pronto. Eu e o Sonrisal estamos tocando direto, então estamos com ritmo. O Guilherme, que é batera, talvez sinta mais, ele está ativo com outros projetos, porém são músicas mais lentas. Já dá pra adiantar algo sobre o setlist? Ainda estamos escolhendo. Tem gente dando ideia de tocar músicas que nunca fizemos ao vivo ou que ficaram muito tempo fora. Vai ter surpresa, com certeza. E também deve ter participações. O plano é fazer algo inesquecível, principalmente no Hangar. Com dois soldouts rápido em São Paulo, existe chance de novas reuniões ou até músicas inéditas? Tudo pode acontecer. Hoje o Léo é muito resistente à ideia de voltar pra valer ou gravar algo novo. Fazer um show já é quase um milagre. Mas a música tem esse poder, né? Às vezes o cara pisa no palco e muda tudo. Se ele se animar, vou ser o primeiro a apoiar. Com a tecnologia, dá pra gravar à distância tranquilamente. Eu acredito que essa volta vai mexer com ele. O punk brasileiro começou em português, com Cólera, Inocentes, Invasores de Cérebro… Mas o hardcore dos anos 90 foi majoritariamente em inglês com o Garage Fuzz, Hateen, Rivets e até mesmo Dead Fish chegou a cantar em inglês. Por quê? A gente não tinha muita referência de como fazer hardcore em português. Parecia que o idioma não encaixava. A influência vinha toda de fora, e cantar em inglês era natural no underground. Bandas como o Sepultura também mostraram que dava pra ser brasileiro e cantar em inglês, e isso inspirou muita gente. A virada pro português veio mais pro final dos anos 90, e o CPM 22 foi essencial pra provar que dava pra soar bem cantando em português. O Street também tem também algumas músicas em português… Sim. Tem Padrão, Tarde Demais, Adolf… e talvez mais alguma. A gente deve tocar algumas delas nessa volta. Qual show marcou mais, tanto positivamente quanto negativamente, na sua carreira? Teve um com o Pulley no Volkana em São Bernardo que foi meio chato por causa do produtor. A banda era legal, mas o cara era mala. A banda era muito legal, os caras super gente fina, mas o produtor tinha um dentinho, a gente aprendeu ele de Tooth. Já experiências ruins com bandas, quase nenhuma. A gente sempre se surpreendeu positivamente. O hardcore tem isso, as pessoas costumam ser acessíveis e gente boa. O que mais dava problema eram contratantes tentando dar calote. A gente tinha fama de bravo, mas era só cara de pedreiro mesmo, nunca batemos em ninguém. Eu sei histórias, por exemplo, eu não estava na banda, mas quando o Agnostic Front veio para o Brasil, eles fizeram uma turnê com o Street, eu não estava no Street ainda. Eles foram fazer a Argentina junto. E o baterista do Street na época era o Gordinho, lá de Pinda. E o Gordinho dormiu no carro. Aí ele deitou a cabeça no ombro do vocalista. Bem do Miret, do Roger Miret. Deitou a cabeça no ombro do Miret, né, cara? E o Léo dirigindo falou que olhou assim, cara, falou, puta, fodeu, né, meu? Cara gigante, boladaço. Esse gordo filha da puta deitou a cabeça no ombro do cara, que ela vai matar a nós. Aí falou o cara, pôs a sua mão nele assim, ele é um bom garoto, deixa ele dormir aqui e tal. Então acho que essas coisas, tipo… Ele me conta isso com muito carinho, assim, né? Você tem falado sobre sua rotina mais saudável. Como enxerga esse novo rock mais “careta”? Pra mim

Yellowcard alcança o auge com Better Days, disco que une nostalgia com a nova era do pop-punk

O Yellowcard retorna em grande forma com Better Days, álbum que consolida a nova fase da banda e marca um dos momentos mais importantes da carreira. Produzido por Travis Barker, do Blink-182 e que também tocou bateria no disco, o novo trabalho combina o pop-punk nostálgico dos anos 2000 com a sonoridade moderna que domina o gênero hoje. O resultado é uma fusão de estilos que colocou o grupo pela primeira vez no topo das paradas: o single “Better Days” conquistou o primeiro lugar da Billboard Alternative, feito inédito para a banda. Com uma passagem de destaque no Brasil no mês de agosto, o Blog N’ Roll esteve presente no I Wanna Be Tour e no sideshow, ambos em São Paulo, e pode conferir ao vivo os primeiros singles deste novo trabalho. Participações de Avril Lavigne e Matt Skiba dão brilho extra ao álbum Entre os destaques de Better Days está “You Broke Me Too”, parceria com Avril Lavigne. A faixa é uma das mais intimistas do disco, resgatando a emoção da balada Only One e é forte candidata a liderar novamente no ranking da Billboard. Avril adiciona força e contraste à voz de Ryan Key, criando um dueto poderoso que encapsula bem o espírito do novo trabalho. Outro momento marcante é “Love Letters Lost”, que traz Matt Skiba (Blink-182, Alkaline Trio) nos vocais. A faixa reforça a ponte entre o Yellowcard e a nova geração do pop-punk, com guitarras afiadas e um refrão carregado de melancolia. A presença de Skiba não é apenas simbólica: ela ajuda a construir o tom mais maduro e emocional que permeia o álbum. Produção moderna e bateria visceral de Travis Barker A produção de Travis Barker é um dos pontos altos de Better Days. Além de assinar o som do disco, o baterista do Blink-182 participa diretamente das gravações, imprimindo ritmo e dinâmica com sua marca registrada. As levadas de bateria são intensas e precisas, equilibrando o peso das guitarras com os arranjos de violino de Sean Mackin, que seguem como símbolo da identidade do Yellowcard. O trabalho de Barker na mixagem e estrutura das músicas dá um ar contemporâneo ao álbum, aproximando-o da estética do Blink atual, mas sem apagar a essência melódica e emocional que sempre definiu o grupo. Ping-pong faixa a faixa do Better Days, do Yellowcard Com dez músicas, Better Days alterna momentos de energia explosiva e introspecção. “Better Days”: A faixa-título abre o disco com força, em ritmo acelerado e refrão marcante, reafirmando o retorno do Yellowcard ao topo;“Take What You Want” mantém o clima urgente e traz letras sobre frustração e amadurecimento;“Honestly i” surge como uma confissão pessoal de Ryan Key, abordando temas de paternidade e transformação;“City of Angels” é o respiro do álbum, mais atmosférica e contemplativa, enquanto “Bedroom Posters” e “Skin Scraped” reforçam o lado emocional da banda com guitarras densas e refrões melódicos.O encerramento com “Big Blue Eyes” é delicado, acústico e bem intimista, uma despedida suave para um disco que trabalha bem o equilíbrio entre dor e renascimento. Mais do que um retorno, Better Days é uma afirmação de identidade. O Yellowcard amadureceu sem perder o vigor juvenil, e isso explica por que o disco conquistou novos ouvintes e garantiu à banda o primeiro número 1 da carreira.

Circuito Nova Música, Novos Caminhos 04: shows gratuitos e inéditos em São Paulo e interior

O Circuito Nova Música, Novos Caminhos chega à sua quarta edição entre 9 e 12 de outubro, conectando artistas, público e espaços independentes em uma rota que parte de São Paulo rumo ao interior do estado. A travessia sonora passará por Sorocaba, Americana e Campinas, reunindo atrações nacionais e locais em uma série de shows, encontros e experiências de música ao vivo. Entre os nomes confirmados estão Pelados, Nina Maia feat. Francisca Barreto e Chococorn and the Sugarcanes, além de bandas convidadas de cada cidade. A estreia da edição #4 acontece no dia 9/10 no Cineclube Cortina, em São Paulo, com o duo de hip-hop Kim & Dramma. Em Sorocaba, no dia 10/10, o Asteroid Bar recebe o rock alternativo do Pobre Orfeu, banda local que abre a noite. Já em Americana, no Espaço GNU, a Lighthouse dá início à programação no dia 11/10. O encerramento acontece em Campinas, no Tetriz Pub, no dia 12/10, com a banda local Paralelo ao Fim, conhecida pelo rock/emo e prestes a lançar seu disco de estreia pelo selo Downstage. “O Circuito Nova Música, Novos Caminhos foi concebido com o desafio de ser referência em curadoria de novos artistas e estamos muito felizes de fortalecer a cada edição essa imagem diante do público. Seguimos com o desafio contínuo de expandir para novos públicos e destinos, além de dar visibilidade a todos os artistas que passam pelos nossos palcos”, destaca José Guilherme Padovani, co-idealizador do projeto. Uma novidade desta edição é o lote grátis, sujeito à lotação, recomendando-se retirada antecipada. A lista de entrada gratuita inclui pessoas trans e não binárias, enquanto os demais ingressos têm preço acessível, reforçando o caráter inclusivo do evento. O circuito, que já se consolidou como selo reconhecido no mercado da música independente, segundo o curador Lúcio Ribeiro, busca sempre apresentar artistas com sonoridade própria e distante da mesmice. “Com esta edição, vamos aumentar ainda mais nossa barra de exigência. O Circuito tende a crescer cada vez mais, dando chances de realizarmos tudo o que planejamos com ele”, afirma Ribeiro. A identidade visual do Circuito #4 também é destaque, criada por André Faria, managing director da Evil Twin Music. Publicitário premiado com 42 Leões de Cannes, André acumula experiência de duas décadas no mercado e também atua como músico, tendo se apresentado em festivais como Primavera Sound e abrindo shows para Radiohead e Flying Lotus em São Paulo. O Circuito Nova Música, Novos Caminhos segue como uma plataforma itinerante que fortalece a música independente no estado de São Paulo, conectando artistas emergentes, público e espaços culturais de forma inédita a cada edição. ServiçoCircuito Nova Música, Novos Caminhos #4 Ingressos: primeiro lote gratuito (sujeito à lotação), lista gratuita para pessoas trans e não binárias. Demais lotes com preço acessível. Patrocínio Heineken.

Scream Invasion: Tudo o que você precisa saber sobre o novo festival Emo do Brasil

O Scream Invasion está prestes a invadir São Paulo com uma explosão de energia e nostalgia. Marcado para o dia 2 de novembro de 2025, no Vibra São Paulo, o festival reúne os nomes que transitam entre o emo, screamo, post-hardcore e metalcore em uma noite inesquecível: Senses Fail, I Set My Friends on Fire, Underoath e Black Veil Brides. Do Brasil, o Gloria será o representante. O evento promete ser mais do que um simples festival. Será uma celebração da cena emo e alternativa que marcou gerações. Com um line-up que atravessa décadas de história é uma oportunidade única para reviver clássicos e descobrir novas músicas que continuarão a ecoar nos corações dos fãs. O Blog N’ Roll preparou um guia com apresentando o atual momento de cada banda e também os prováveis setlists que eles irão tocar, com base em seus últimos shows. Black Veil Brides O Black Veil Brides é o headliner e grande estrela do Scream Invasion. A banda, liderada por Andy Biersack, está prestes a lançar seu novo álbum, que já está totalmente mixado e em processo de masterização. Andy compartilhou que este trabalho representa uma expressão mais autêntica e pessoal, comparável ao seu primeiro álbum solo. Recentemente, eles lançaram o single “Hallelujah”, que tem sido bem recebido pelos fãs e críticos. Além disso, o grupo se apresentou no Vans Warped Tour e está atualmente em turnê pela América do Norte. Possível Setlist:Knives and PensBleedersTorchFaithlessCoffinHallelujahDevilThe LegacyPerfect WeaponI Am BulletproofIn The End Underoath Em março deste ano, o Underoath lançou seu décimo álbum de estúdio, The Place After This One (leia o review), que apresenta uma sonoridade mais industrial e experimental, mantendo sua essência metalcore. O álbum foi bem recebido pela crítica, sendo descrito como ambicioso e inovador. A banda também está em uma turnê de destaque pela América do Norte como banda de abertura para o Papa Roach e Rise Against. Possível Setlist: LossIn Regards to MyselfBreathing In A New MentalityShameIt’s Dangerous Business Walking Out Your Front DoorAll The Love Is GoneReinventing Your ExitHallelujahDown, Set, GoVulturesA Boy Brushed Red Living In Black And WhiteGeneration No SurrenderWriting On The Walls Senses Fail O Senses Fail lançou recentemente o álbum Hell is in Your Head, que apresenta uma mistura de post-hardcore e elementos eletrônicos. A banda também anunciou a turnê “Scream Team Tour” com o Story of the Year, que passará por diversas cidades dos Estados Unidos. Os fãs podem esperar uma performance energética e emocional, sem deixar de lado os clássicos e clima de nostalgia. Possível Setlist Rum Is for Drinking, Not for BurningCalling All CarsLady in a Blue DressBuried a LieWolves at the DoorYou’re Cute When You ScreamSick or Sane (Fifty for a Twenty)Shark AttackDeath by WaterBloody RomanceCan’t Be SavedBite to Break Skin I Set My Friends on Fire A banda anunciou recentemente o lançamento de uma nova música chamada “Demise”, disponível gratuitamente para os fãs no Discord oficial da banda. Além disso, eles se apresentaram no tradicional Sonic Temple Festival em maio. Para quem não conhece ainda, eles foram um dos queridinhos do cast da Epitaph misturando influências de metalcore e música eletrônica, trazendo uma identidade única. Ultimamente eles têm tocado músicas do seu álbum de estreia You Can’t Spell Slaughter Without Laughter. Possível Setlist Ravenous, Ravenous RhinosReese’s Pieces, I Don’t Know Who John Cleese Is?Beauty Is In The Eyes Of The BeerholderASLSex Ed RocksWTFWJDBut The NUNS Are WatchingHxC 2-StepCrank ThatThings That Rhyme With Orange Gloria O Gloria chega ao festival em alta, não só dentro da cena, mas como um dos nomes mais persistentes do rock pesado nacional. E se a banda já esteve no Palco Mundo do Rock in Rio em 2011, em 2025 o Gloria manteve a agenda ativa: integrou a programação da I Wanna Be Tour, com passagem por Curitiba e por São Paulo (foto) em agosto, e também fez parte do Arena Hardcore em Santos, Guarulhos e Piracicaba. Possível Setlist Bicho do matoA Arte de Fazer InimigosUm segundo, um nunca maisVai pagar caro por me conhecerHorizontesTudo outra vezConvencerA cada diaAnemiaAsas fracasMinha paz Serviço 🎤 Festival: Scream Invasion📅 Data: Domingo, 2 de novembro de 2025🕓 Horário: Abertura dos portões às 16h📍 Local: Vibra São PauloAv. das Nações Unidas, 17955 – Vila Almeida, São Paulo, SP 🎟️ Ingressos: Venda presencial na Loja Estrondo, localizada na Galeria do Rock Venda online pelo Pixelticket

Entrevistas | Supercombo, Jovem Dionísio e Terno Rei nos bastidores do Aurora Sounds

O festival Aurora Sounds trouxe boa parte dos nomes do cenário indie e alternativo para a cidade de Santos no último sábado, 4 de outubro, no Arena Club. Antes, o evento passou por São José dos Campos, no Palácio Sunset, dia 03 de agosto. O line-up esteve centrado em cinco bandas que já vinham gerando movimento nas redes e nas rádios independentes: Hibalta, banda da casa, O Grilo, Jovem Dionísio, Supercombo e Terno Rei. Cada uma entregou seu repertório com personalidade, e, apesar de ser um festival, o público saiu com a sensação que os shows foram com apresentações bem completas e estruturadas. Em entrevista ao Blog N’ Roll, os headliners do Aurora Sounds Supercombo, Jovem Dionísio e Terno Rei falaram sobre a carreira e os planos para o futuro. Jovem Dionísio Vi que vocês vão lançar um novo álbum e já tem um single rolando. Qual é a expectativa para os fãs com esse trabalho? Bernardo Pasquali – Então, esse último single que a gente lançou ainda não faz parte do disco, na verdade. Ele dá uma ideia do que a gente está fazendo, mas o disco mesmo a gente começou a trabalhar de verdade no mês passado. Então, ele tem um som mais próprio, diferente desse single. Eu acho que são as melhores músicas que a gente já fez até agora. Mesmo nessa fase inicial do processo, já dá pra ver que vai ser muito bom, sabe? Não sei dizer exatamente o que ele remete Bernardo Hey – Acho que gente está curtindo o momento. O que a gente está gostando agora é o que está guiando o som. O tempo vai passando, a gente vai mudando o que ouve, o que quer experimentar. Então, do primeiro pro segundo e agora pro terceiro disco, parece que teve uma mudança maior mesmo. E vocês acabaram estourando nas redes sociais, especialmente com o TikTok. Qual foi o grande desafio de sair desse estigma de “a banda que viralizou com um refrão” para se firmar como um nome de peso em festivais e grandes eventos? Bernardo Pasquali – Cara, acho que a gente simplesmente seguiu fazendo o que sabe fazer, que é música. Todos esses acontecimentos no TikTok e no Instagram foram coisas que aconteceram de forma orgânica. A música que usaram era nossa, mas nenhum movimento foi criado por nós. Então, a gente se manteve focado no nosso trabalho, no ofício de criar música. A banda começou com esse princípio, e quando tudo isso aconteceu, a gente colocou a cabeça no lugar e pensou: “vamos seguir fazendo mais música pra frente”. Supercombo O primeiro show da turnê “Caranguejo” aconteceu aqui. Acabei de ver o show, mas que spoilers vocês podem dar para o público que vai acompanhar o restante da turnê pelo Brasil? Leo Ramos – Olha, primeiro que vai ter mais música do disco novo ao vivo em relação a esse show. Segundo que a gente está montando umas coisas a mais para ter nos outros shows, porque esse foi um show meio que de festival. Então é o show da turnê nova, porém um pouquinho menor. O nosso show mesmo, que são só nossos shows, que não é dentro de festival, é um pouquinho maior. Eu estou falando muita doideira porque estou depois do show. Famoso louco de show. Famoso louco de show, é isso. Mas é isso, não sei se deu pra entender. Vocês tocaram hoje músicas muito pessoais para você, como “Alento” (feito para a filha) e “Testa” (homenagem póstuma à mãe). Como foi a recepção do público e o sentimento de ver a galera cantando essas faixas ao vivo? Leo Ramos – Cara, foi emocionante demais, eu não sei nem como é que eu consegui terminar a música ali. Principalmente Testa, foi bem emocionante sim. Mas cara, foi muito massa e gratificante ver a galera cantando essa música especialmente para mim. Terno Rei São 15 anos de banda, mas os últimos anos de vocês foram intensos: Lollapalooza, abertura para o Smashing Pumpkins, participações com Lô Borges e Samuel Rosa. Qual foi o momento mais marcante desse período pra vocês? Ale Sater – Ah, eu acho que o lance de tocar no Lolla duas vezes foi muito legal, porque os dois shows deram muito certo. Mas eu também diria que, quando a gente fez a session com o Samuel Rosa, naquele momento da pandemia, foi algo muito especial. A gente estava muito restrito, sem fazer nada por um bom tempo, então foi um momento que deu um gás, de conhecer ele, fazer uma entrevista e gravar junto. Foi irado, cara, um dos momentos mais legais da história da banda acho que foi essa session com o Samuel Rosa. Vocês têm uma forte referência anos 80, e o Brasil sempre teve uma cena marcante com bandas como Legião Urbana e Capital Inicial, que exploraram o pós-punk. Como é pra vocês encabeçarem hoje esse cenário de rock alternativo brasileiro? Bruno Paschoal – Pô, eu nunca tinha parado pra pensar nisso, mas agora que você falou, eu senti uma pressão. Mas eu fico feliz de ver o reconhecimento da galera, esse respeito e o reconhecimento do trabalho duro que a gente faz. A gente dá a vida por isso há mais de 15 anos, então é muito satisfatório chegar nesse lugar, saber que as pessoas estão ouvindo, prestando atenção e querendo falar com a gente. Tudo isso é super gratificante. Esperamos continuar por muitos anos ainda, se Deus quiser, nessa toada. E aproveitando a deixa, depois do novo álbum, já tem uma próxima parada? Greg Maya – Próxima parada é minha cama (risos).

Entrevista | Yo La Tengo – “Eu amo a cultura brasileira e quero conhecer coisas novas”

Após mais de uma década longe dos palcos brasileiros, o Yo La Tengo retorna ao país em novembro de 2025 para dois shows em São Paulo. O trio norte-americano se apresenta no Balaclava Fest no dia 9 de novembro, no Tokio Marine Hall, em sua formação elétrica, e faz no dia seguinte, 10 de novembro, um show acústico especial no Cine Joia. A passagem faz parte da nova fase da banda, que segue divulgando o elogiado álbum This Stupid World (2023). Com mais de 40 anos de carreira, o grupo formado por Ira Kaplan, Georgia Hubley e James McNew é uma das formações mais queridas e respeitadas do indie rock mundial. Sempre transitando entre o barulho experimental e a delicadeza melódica, o Yo La Tengo construiu uma discografia marcada pela liberdade criativa e pela constante reinvenção, mantendo sua essência mesmo após quase quatro décadas de estrada. Em entrevista ao Blog n’ Roll, o baixista James McNew falou sobre o reencontro com o público brasileiro, o processo artesanal do último álbum, a parceria com Jad Fair e a química de tocar ao lado de um casal que forma a base da banda desde 1984. Faz quase uma década desde a última vinda de vocês ao Brasil. O que os fãs podem esperar dos dois shows de novembro? Um deles será em um festival, então será um show elétrico, mais reduzido, com cerca de uma hora ou um pouco mais. O outro será apenas nós, tocando de forma mais calma, mas por muito mais tempo, com muito mais músicas. Eu nem sei exatamente o que esperar desse show, mas acho que os dois serão muito divertidos, cada um à sua maneira. E como você sente a conexão do público brasileiro com a música do Yo La Tengo? Eu me sinto ótimo em relação a isso. Eu amo a música e a cultura brasileira. Faz muito tempo desde que estivemos aí, e é um lugar muito especial para nós. Não conseguimos visitar com frequência, é difícil fazer isso acontecer. Então, quando finalmente conseguimos, ficamos realmente animados. Mal podemos esperar para voltar e reviver as experiências que tivemos, além de descobrir coisas novas também. O álbum This Stupid World recebeu uma ótima recepção da crítica. Como tem sido tocar essas músicas ao vivo? Tem sido muito divertido. Tocamos bastante esse repertório em turnês por vários lugares, mas ainda não na América do Sul. Então, agora é a hora de vir para cá. Esse é um álbum pós-pandemia. O processo de gravação foi diferente dos anteriores? Totalmente. Todos os nossos discos anteriores foram feitos em estúdios, com engenheiros e produtores brilhantes. Desta vez, fizemos tudo em um cômodo onde ensaiamos, só nós três. Cometemos muitos erros, aprendemos a resolver problemas e fomos muito criativos. Trabalhar em casa foi libertador e podíamos testar ideias o tempo que quiséssemos, sem pressão. Foi um processo muito divertido. O disco foi descrito como um dos mais intensos da carreira recente da banda. Vocês buscaram essa energia mais crua de propósito? Acho que foi apenas o que estávamos sentindo. Fizemos o disco sozinhos, sem produtores ou engenheiros externos, apenas nós três. Não tínhamos ninguém para nos dizer se algo era uma boa ideia, então seguimos nossos instintos. Como vocês equilibram faixas longas e atmosféricas com músicas mais curtas e agitadas dentro do mesmo álbum? Isso acontece naturalmente. É como expressar sentimentos. O ritmo de um álbum inteiro tem que fazer sentido emocionalmente. Gostamos muito de fazer as duas coisas. Como surgiu a parceria recente com Jad Fair que entrou recentemente no streaming? Essa não é uma música nova. Gravamos esse disco há uns 30 anos, foi uma das primeiras coisas que fizemos com o Jad. O selo com o qual o Jad trabalha perguntou se gostaríamos de relançar o disco que fizemos juntos em 1996, que estava fora de catálogo há muito tempo. Nós dissemos sim. Éramos grandes fãs dele e da banda dele. Quando ele nos convidou para gravar juntos, tudo foi improvisado. Não sabíamos nem o que ele estava cantando, só seguíamos quando ele dava o sinal. Essa experiência teve uma grande influência sobre nós, especialmente em relação à espontaneidade. Até hoje, quando escrevemos músicas novas, eu penso naquele processo e em como foi divertido. E recentemente foi lançado também o registro Live in New York nas plataformas. Como foi revisitar esse show acústico de 1992? Olha, na verdade, isso foi lançado sem que soubéssemos (risos). Falando em setlists, vocês costumam incluir covers de artistas como Neil Young e The Beach Boys. Como escolhem essas músicas? Nosso setlist muda a cada show. É sempre uma questão de espontaneidade, do que parece certo naquele momento. Tocar covers é divertido. Acho interessante o contexto de incluir uma música de outro artista em meio às nossas. Dá para aprender muito sobre a personalidade de uma banda pela escolha de um cover, tanto quanto pelas músicas próprias. Existe alguma música antiga que os fãs pedem muito, mas que vocês raramente tocam? Sim, há uma música de I Can Hear the Heart Beating as One, chamada The Lie. Nós a gravamos em 1997 e só a tocamos ao vivo pela primeira vez em 2024. E como é fazer parte de um trio em que os outros dois integrantes são casados? É ótimo, eu recomendo totalmente (risos). Você sempre sabe onde os outros dois estão. Isso torna as viagens bem práticas. E o melhor é que eu não preciso dividir o quarto com eles nas turnês. Não tenho do que reclamar. Deixe uma mensagem para os fãs brasileiros que estão ansiosos para o show. Brasil, ficamos muito tempo longe de vocês, e estamos realmente animados para voltar. Não vejo a hora.

Upchuck lança I’m Nice Now, punk cru que transforma raiva em música

O Upchuck lança I’m Nice Now, seu terceiro álbum, com uma explosão de punk cru e visceral que transforma raiva em força e resistência. Produzido por Ty Segall, o disco aborda temas urgentes como racismo, sexismo e lutas diárias, mantendo a energia crua que tornou a banda referência do cenário atual. O Blog’n’Roll entrevistou recentemente a banda e, no bate papo, a vocalista Kaila “KT” Thompson afirmou: “Nunca houve um momento em que eu não tivesse raiva. Neste mundo de distrações constantes e estressores, é importante manter seu corpo e espírito sãos o suficiente para continuar nesta luta aparentemente interminável.” Essa raiva se traduz em músicas como Tired, faixa de abertura que soa como um grito coletivo contra injustiças, e Forgotten Token, escrita após a perda da irmã de KT, que aborda luto, racismo e desumanização: “Eu só sinto / Porque sou negra / Isso está empilhado / Em um armário perdido” O álbum também se destaca pela diversidade de vozes e idiomas, com o baterista Chris Salado assumindo os vocais em espanhol nas faixas Un Momento e Homenaje, trazendo uma perspectiva multicultural que amplia os limites do punk tradicional. “Para mim é natural. Meu pai e meu avô me ensinaram a tocar cumbia desde criança. Já toquei em banda de cumbia. Quando entro no estúdio, faço freestyle, vou gravando partes e guardo o que gosto. Punk e cumbia andam juntos”, confessa. A produção de Ty Segall mantém a intensidade das guitarras distorcidas e do baixo pulsante, equilibrando momentos de groove mais suaves em Slow Down e New Case com explosões sonoras em Nowhere, faixa que encerra o álbum com força e emoção. “Nós amamos o Ty. Gravamos no Sonic Ranch, em dez dias, e ele trouxe uma vibe muito boa. É um cara relaxado, que nos dá liberdade, mas também direciona em alguns pontos. Depois do último álbum com ele, foi natural voltar”, conta KT. I’m Nice Now, do Upchuck, é um manifesto sonoro de resistência e sobrevivência.