The Rasmus acerta em cheio com Weirdo misturando pop e metal

O The Rasmus chega ao 11º álbum de estúdio com a segurança de quem já sabe o próprio caminho e, ao mesmo tempo, a ousadia de abraçar novas camadas de som e discurso. Weirdo é um trabalho que equilibra peso e melodia, mantendo a marca registrada da banda finlandesa enquanto mergulha em temas de aceitação, diferença e identidade. O início com Creature of Chaos estabelece o tom sombrio e poderoso, conduzido por riffs densos e atmosfera que flerta com o Nu Metal e a sonoridade dos anos 2000. Em seguida, Break These Chains cresce em intensidade até desembocar em um refrão explosivo. A sequência com Rest in Pieces e Dead Ringer reforça a capacidade do grupo de escrever músicas que transitam entre a fúria e a vulnerabilidade, sempre guiadas pela voz inconfundível de Lauri Ylönen. O coração do disco, no entanto, está na faixa-título. Weirdo, em parceria com Lee Jennings (The Funeral Portrait), transforma-se em um hino de celebração ao “ser diferente”. A canção consegue pop, mas ao mesmo tempo traz o discurso que permeia todo o álbum. Em meio às surpresas, Banksy injeta energia punk, Love Is a Bitch, minha favorita, aposta em um refrão radiofônico com groove provocativo e Bad Things mostra força na simplicidade. Já You Want It All aponta para o lado mais acessível da banda, ainda que menos impactante em comparação às anteriores. O desfecho com I’m Coming for You, escrita para o filho de Lauri, oferece um momento íntimo e emotivo, que fecha o trabalho de forma delicada e sincera. Com produção polida e variada, Weirdo reafirma o The Rasmus como um nome capaz de dialogar tanto com fãs antigos quanto com novas gerações. É um álbum de refrões pegajosos, arranjos bem trabalhados e mensagens universais. Se não revoluciona, mostra consistência e coração, qualidades que mantêm a banda relevante mais de duas décadas depois do sucesso mundial.

Entrevista | The Dead South “Estamos muito animados para ir ao Brasil e conhecer sua cultura”

O The Dead South finalmente chega ao Brasil. O quarteto canadense, conhecido pela mistura de bluegrass, folk e rock alternativo, estreia nos palcos brasileiros em outubro com shows em Belo Horizonte (15), São Paulo (17), Curitiba (18) e Porto Alegre (19). A turnê inédita é realizada pela Powerline Music & Books, Sellout Tours e Áldeia Produções e promete apresentar ao público toda a estética peculiar da banda, marcada por suspensórios, chapéus, camisas brancas e um repertório que passeia entre histórias sombrias e bem-humoradas. Formado em 2012, o The Dead South ganhou projeção mundial com “In Hell I’ll Be In Good Company”, faixa que alcançou certificação de platina nos Estados Unidos. Desde então, o grupo consolidou uma identidade sonora única, sem se preocupar em se reinventar a cada disco, mas sim em lapidar seu estilo próprio. O mais recente capítulo dessa trajetória é Chains & Stakes (2024), gravado no Panoram Studios, na Cidade do México, e co-produzido pelo vencedor do Grammy Jimmy Nutt. O trabalho reúne 13 músicas que abordam vinganças, intrigas familiares e narrativas sobrenaturais. Diferente das formações tradicionais de bluegrass, o The Dead South dispensa bateria e violino para apostar em banjo, violoncelo, violão e bandolim. Esse formato acústico, aliado às harmonias vocais de três vozes, cria uma sonoridade distinta, capaz de ir de baladas sombrias a temas acelerados. Nate Hilts, vocalista e responsável pelos violões e bandolim conversou com o Blog N’ Roll sobre a expectativa de conhecer o Brasil, um novo álbum que está a caminho e até mesmo em qual filme ele sonha em emplacar uma trilha sonora. Você tem ouvido muito “Come to Brazil” nas suas redes sociais? Quais as expectativas para conhecer o público daqui? Sim, há muito “Come to Brazil” nas nossas redes e é ótimo. Nunca estivemos no Brasil, então estamos muito animados. Sempre quisemos vir e saber que as pessoas realmente querem que toquemos aqui é incrível. A expectativa é que o público goste e que possamos voltar mais vezes. E o que você sabe sobre os fãs brasileiros e a música brasileira? Ouvi dizer que os fãs são intensos, apaixonados e realmente dedicados quando gostam de algo. É exatamente isso que procuramos. Conheço um pouco do folk brasileiro. Quando eu estava na escola, uma banda do Brasil foi tocar em uma das minhas aulas e foi incrível. Além disso, só algumas coisas que ouvi no rádio ou através de amigos. Não conheço muito, mas admiro as músicas que já chegaram até mim. Vocês lançaram um álbum no ano passado e uma nova música já este ano. Quais são os planos para um novo disco? Assim que terminarmos essa turnê no Brasil, vamos voltar para o Canadá e fazer algumas pré-produções para nos prepararmos para janeiro, quando vamos gravar o novo álbum. Estamos muito animados. Falando ainda sobre o último álbum, qual foi o processo criativo e a experiência de gravar Changes and Stakes no México? Foi incrível. Estando na Cidade do México, no bairro Condesa, sentimos uma atmosfera muito relaxante. Acordávamos no nosso AirBnB, fazíamos uma caminhada, tomávamos um café e íamos para o estúdio. O Panoram Studios tinha um balcão externo onde podíamos sentar, trocar ideias e depois entrar naquele espaço lindo para simplesmente colocar em prática o que estávamos sentindo. Foi muito libertador. E por que vocês escolheram o México para gravar o álbum? Estávamos procurando um lugar diferente. O álbum anterior foi gravado em Muscle Shoals, Alabama. Quando falamos sobre um novo estúdio, nosso selo sugeriu o México, e ficamos muito empolgados. Muitas bandas incríveis já gravaram lá antes também. Que músicas de Chains & Stakes você acha que funcionaram bem ao vivo? Provavelmente Completely, Sweetly, 4Yours to Keep, Tiny Wooden Box e, ultimamente, Father John também tem sido bem recebida pelo público. O álbum explora temas como vingança e intrigas familiares. Como essas histórias surgiram? Acho que é algo que vem naturalmente quando escrevo. Às vezes me inspiro em experiências pessoais ou de pessoas que conheço e elaboro em torno disso, embelezando um pouco para que pareça quase fictício. Como você equilibra humor e temas sombrios nas músicas? Acho que é natural. Sempre vi a tragédia como algo pesado, mas colocar um pouco de humor ajuda a tornar mais leve. Infelizmente essas coisas acontecem, mas uma abordagem menos densa ajuda as pessoas a lidar melhor com isso. A música In Hell I’ll Be in Good Company ganhou destaque anos depois do lançamento. Você já imaginava que essa música se tornaria um marco na carreira da banda? Como foi testemunhar esse sucesso tardio? Nem de longe, mas estamos felizes que sim. O reconhecimento veio depois que lançamos o clipe, mesmo que de forma tardia. Essa música acabou ofuscando até o álbum seguinte, mas foi ótimo, porque a canção continuou crescendo com o tempo. Nós éramos apenas garotos quando a escrevemos. Vocês têm planos de lançar outro álbum ao vivo depois de Served Live? Sim, falamos sobre isso. Não há uma data definida, mas estamos gravando todos os nossos shows e depois vamos revisá-los. Certamente vamos lançar outro disco ao vivo. O álbum de covers Easily Listening for Jerks 2 traz uma homenagem ao “…and out come the wolves”. Como a cena punk te inspira? E vejo também um casaco do Pennywise atrás de você. Sim, cresci ouvindo rock clássico, mas depois mergulhei no punk. Isso foi muito importante para me motivar a ir a shows e querer tocar música. Ainda é uma grande parte da minha vida e influencia minhas composições. Você gravou The Doors, System of a Down, CKY… Já pensou em gravar algum cover punk? Sim. A ideia do Easy Listening For Jerks é justamente ser um projeto paralelo em que podemos fazer o que quisermos. Com certeza pensamos em mais covers, incluindo Pennywise. Na hora que vi a capa já imaginei vocês gravando Ruby Soho… Sim. Seria incrível. Você são chamados dos gêmeos do mal do Mumford & Sons. Como vê essa comparação? Entendo, já que temos banjo, guitarra acústica e elementos semelhantes.

Entrevista | The Calling – “Muitas músicas que escrevi foram influenciadas pelas turnês no Brasil”

A nova turnê brasileira da banda norte-americana The Calling, fenômeno do pop rock com hits atemporais que encantam diversas gerações, acaba de ter uma atualização: terá músicas novas que farão parte do novo álbum a ser lançado no início de 2026. Existe um forte vínculo emocional entre The Calling e Brasil. A banda, que nos anos 2000 cativou o mundo todo com os hits do álbum Camino Palmero (com o sucesso Wherever You Will Go), tem carisma e energia inabaláveis ao vivo, vide a extensa turnê de mais de 20 datas pelo país em 2024, com casas lotadas e público participativo. O inevitável reencontro da banda com os fãs brasileiros acontece no próximo mês de outubro, entre os dias 4 e 17, com oito shows pelo Sul, Sudeste e Distrito Federal. Assim como as últimas passagens do The Calling pelo Brasil e outros países da América Latina, a turnê é uma realização da Vênus Concerts. A seguir, você confere a entrevista com Alex Band, vocalista e fundador da The Calling, que fala sobre o carinho pelo Brasil e os planos para o álbum novo. Teremos novidades no setlist entre os últimos shows no Brasil e a turnê atual? Sim, absolutamente. Nós anotamos sugestões dos fãs e as músicas que eles querem ouvir. Então vamos tocar músicas mais antigas que normalmente não tocamos, coisas que os fãs pedem, além de mudar algumas coisas. É definitivamente um novo set e uma nova seleção de músicas. Também algumas novas faixas do novo disco que finalmente vai sair. Ótimas notícias. Ele será lançado no primeiro trimestre do próximo ano. Nós acabamos de assinar com a Virgin, então finalmente vamos lançar este álbum. O Brasil sempre recebe o The Calling com grande entusiasmo. Em que o público brasileiro mais te surpreendeu? Eu acho que a dedicação deles é incrível. Há 25 anos eu vou ao Brasil e vejo as mesmas pessoas que lembro quando eram crianças. Agora são adultos, têm seus próprios filhos, e os filhos também estão nos shows. É louco. Os brasileiros são tão entusiastas, tão emocionados. Eles são o melhor público para se apresentar. Você falou de novas músicas, mas Stand Up Now não é tão novo… Mas quando lançamos essa música, eu pensei que o álbum já estaria pronto. Só que demorou mais. Stand Up Now estará na lista de faixas do novo álbum ou foi apenas um single? Sim, sim. Definitivamente não é o primeiro single, mas está no disco. O primeiro single desse novo álbum é fenomenal. Estou muito animado para que as pessoas possam ouvir. O verso “The crowd is screaming out for a little more but I’ve had enough” foi inspirado em fatos reais? Um pouco. Essa música eu escrevi, na verdade, há 10 anos, quando fui diagnosticado com Parkinson. Eu estava no chão e não conseguia me levantar. Era um período em que havia muitas coisas acontecendo no mundo, guerras e situações que me afetaram. É uma música pessoal, claro, mas também tem aspectos políticos. Na época, achei que fosse Parkinson, mas depois descobri que era uma síndrome, não a doença. Graças a Deus. O vídeo de Stand Up Now abre com imagens do Rio de Janeiro. Quanto o Brasil influencia você como artista? Enormemente. Em muitos desses anos tentamos conseguir o melhor negócio para lançar o álbum. O único lugar em que podíamos nos apresentar todos os anos, onde sabíamos que as pessoas realmente queriam nos ver, era o Brasil. Acho que essa é a minha 12ª ou 13ª turnê no país. Toda vez que volto, é sempre uma recepção calorosa. Todo mundo é tão querido. Muitas das músicas que escrevi nos últimos anos foram diretamente influenciadas pelas turnês no Brasil. Como foi o processo de gravação do novo álbum até agora? Ótimo. Está terminado há anos. Gravamos as primeiras seis músicas em dezembro de 2023, e as últimas em dezembro de 2024. O disco já está pronto. Mas eu não queria lançá-lo de forma independente. Queria a equipe certa para fazer tudo grande e apoiar o lançamento mundial. Temos um público internacional muito forte, até mais que nos EUA. Recentemente tudo se alinhou com a Virgin. Foi uma longa espera, mas agora está pronto. Eu vi você cantando U2, Smashing Pumpkins, covers. Também percebo influência do U2 em Stand Up Now. Essas bandas influenciam sua música? Sim, claro. O U2, com certeza. Quando eu era pequeno eu ouvia muito Beatles, Led Zeppelin, mas também U2. Hits dos anos 80 como Sunday Bloody Sunday e Pride eram músicas que eu ouvia bastante. O U2 continuou lançando boas músicas, então eles definitivamente são uma grande influência. Devemos esperar algo mais próximo ao clássico Camino Palmero? Um som nostálgico ou uma direção renovada neste álbum? Ótima pergunta. Eu queria manter o som que o Calling sempre teve: Pop e Rock. Simples! Não queria que o novo álbum fosse muito diferente ou cheio de elementos eletrônicos estranhos que nos tirassem da nossa essência. Isso foi um problema por muitos anos, com produtores tentando nos puxar para outros lados. Mas eu queria ficar com o que sabemos fazer. Esse álbum é muito parecido com Camino Palmero, tem a mesma vibração. Cada faixa é sólida, não há músicas esquecíveis. É um álbum fantástico. Quanto sua experiência recente influencia as letras das novas músicas? Tremendamente. Mesmo quando uma música não é sobre mim, mas sobre amigos ou familiares, essas experiências entram nas composições. Tudo é pessoal. Stand Up Now é um exemplo perfeito de algo super pessoal. Mas gosto de escrever de forma que todos possam encontrar seus próprios significados. Como você está agora? Se sente pressionado para lançar algo novo? Claro que sim. Já se passaram 20 anos desde que o Calling lançou seu último álbum. Eu mesmo venho tentando lançar algo novo há mais de 10 anos. Tem sido uma batalha constante, uma longa luta com muitos obstáculos. Estou animado para que finalmente saia. Só quero que as pessoas possam ouvir. Você imaginou que Wherever You Will Go

Entrevista | Firefriend – “As bandas brasileiras não ficam devendo nada para as de fora”

A Firefriend, banda paulistana que há mais de duas décadas carrega a tocha do rock psicodélico underground, acaba de expandir sua discografia com dois novos álbuns: o explosivo Fuzz e o hipnótico Blue Radiation. Os trabalhos chegam em um momento simbólico, pouco antes de a banda embarcar em mais uma turnê pelo Reino Unido, país que tradicionalmente respira a psicodelia e tem recebido o grupo com entusiasmo crescente. Gravado em apenas quatro dias de dezembro de 2024, em São Paulo, Fuzz ganhou corpo definitivo após meses de pós-produção e contou com colaborações de músicos da cena paulistana. O disco mantém a estética que consolidou a identidade do Firefriend: baixos pulsantes, guitarras saturadas de fuzz e os vocais sussurrados de Julia Grassetti e Yury Hermuche, que criam atmosferas densas e imersivas. Entre os destaques estão “Spearhead” e “Hologram”, faixa que condensa em cinco minutos e meio o caos criativo da banda, atravessando camadas de sintetizadores, incursões de free jazz e guitarras barulhentas, com participações de Cuca Ferreira (sax) e Daniel Verano (trompete). Já Blue Radiation mostra outra faceta do grupo. Gravado durante a pandemia, em uma São Paulo silenciosa e suspensa pelo isolamento, o álbum aposta na força das atmosferas instrumentais. São dez faixas, nove delas totalmente instrumentais, que funcionam como paisagens sonoras etéreas, espectrais e distorcidas. Ao lado de Grassetti, Hermuche, Ricardo Cifas (bateria) e Pinhead (synths e teclados), o Firefriend reafirma sua posição como um dos nomes mais consistentes do underground global, evocando influências que vão de Velvet Underground e Spacemen 3 a Sonic Youth e The Brian Jonestown Massacre. Em bate papo com o Blog N’Roll, Julia Grassetti e Yury Hermuche contam sobre a expectativa para a turnê na Inglaterra e os dois álbuns lançados simultaneamente. Vocês estão indo para Londres, que é a cidade onde mais ouvem Firefriend, e o Reino Unido sempre teve uma cena psicodélica muito forte. Sentem que o público de lá entende mais a proposta da banda do que no Brasil? Firefriend: Com certeza. Na Inglaterra existe uma tradição que atravessa gerações. Eles fazem isso há 50, 60 anos. O rock psicodélico nunca parou de acontecer. No Brasil, sentimos que existem gaps geracionais, e a cena precisa ser sempre reinventada para levantar festivais e casas. Isso é uma dificuldade para toda banda underground daqui. Já na Europa e nos Estados Unidos, por conta da tradição, existe público constante e espaços para circular. Por outro lado, eles acham muito interessante ver uma banda brasileira usando elementos do rock inglês e americano, mas com outros temperos. O som de vocês mistura influências diversas, de Joy Division, post punk a experimentações instrumentais. Qual é a diferença para vocês entre músicas com vocal e faixas instrumentais? Firefriend: A maior parte dos nossos discos é feita de canções compostas e produzidas ao longo de um ou dois anos. Mas muita coisa vem das jams que gravamos em ensaios, no nosso antigo porão-estúdio. Para o público pode parecer diferente, mas para nós é parte do mesmo processo. O álbum The Creation Facts, por exemplo, trouxe faixas diretamente dessas jams. Apesar de lançarmos mais músicas com vocais, os instrumentais são parte essencial. O Blue Radiation veio justamente para mostrar esse outro lado. Qual foi a maior surpresa que vocês já tiveram em turnês fora do Brasil? Firefriend: A recepção do público. Chegar em Londres e ter gente levando capa de disco e camiseta para autografar foi inesperado. Alguns fãs viajaram para assistir a vários shows seguidos. Também já tocamos às três da manhã em festival grande com a casa lotada. Outra surpresa foi perceber que as bandas brasileiras não ficam devendo nada para as de fora e, ao mesmo tempo, ver de perto uma cena estável em contraste com o Brasil. Vocês planejam registrar essa nova turnê em áudio ou vídeo? Firefriend: Sim. Vamos gravar o áudio e estamos vendo como viabilizar o vídeo. Na última turnê lançamos o Live in London, um show bem registrado, e queremos repetir essa experiência. O vinil voltou com força e vocês já têm 12 LPs lançados. Como tem sido essa experiência? Firefriend: Fantástica. Ouvir um vinil é um ritual. Quem compra, ouve com atenção e se conecta mais profundamente com a música. Desde que nossos discos começaram a sair nos Estados Unidos e na Inglaterra, vimos como os amantes do formato físico criam uma relação especial com a banda. Hoje temos 12 LPs lançados desde 2017, e muitos fãs acompanham cada lançamento. É um sonho realizado. Falando do álbum Fuzz, como foi o processo de gravação? Firefriend: Passamos dois anos compondo, testando em shows e turnês. Decidimos gravar ao vivo, os três juntos no estúdio, o que trouxe mais calor e energia. Depois fizemos alguns overdubs, mas a base é toda ao vivo. Apesar de a gravação ter levado cerca de uma semana, o processo de criação foi longo e detalhado. A faixa “Hologram” chama atenção por misturar jazz, rock distorcido e caos organizado. Como chegaram a esse resultado? Firefriend: Cada integrante traz um conjunto de referências, e ao arranjar a música colocamos essas perspectivas em choque. O resultado pode soar caótico, mas faz sentido dentro da soma de influências. Um ouvinte chegou a dizer que esse aspecto caótico é uma tradução perfeita do mundo atual, e achamos uma leitura muito interessante. Vocês já comentaram que a turbulência política influencia o som da banda. Como isso acontece? Firefriend: Totalmente. Vivemos um momento violento, perigoso e surreal. Isso se reflete na música. Alguns artistas tentam escapar da realidade, mas para nós é importante tocá-la de frente. A música ajuda a sobreviver a esse caos e conecta pessoas que buscam a mesma energia. O rock hoje não é só rebeldia juvenil, mas resistência em qualquer idade. O Blue Radiation foi criado durante a pandemia. Como foi esse processo? Firefriend: Gravamos centenas de horas de jams e selecionamos trechos que achamos interessantes para compor o disco. Paralelamente produzimos o Fuzz, e o selo inglês decidiu lançar os dois juntos. As faixas do Blue Radiation são

Riviera abre álbum duplo com EP Passado/Presente

Riviera, projeto do músico Vinícius Coimbra, apresenta o EP Passado/Presente, primeira parte do álbum duplo Com o Passar dos Anos. O trabalho é dividido em dois capítulos: Passado/Presente e Presente/Futuro. A ideia é que sejam os dois lados de um mesmo disco. Neste primeiro momento, o artista revisita memórias e afetos que atravessam o tempo, indo do encontro e da entrega até a perda, o luto e a aceitação. O EP traz cinco faixas e será disponibilizado neste sábado (6): Laços, Futuro, A Dor e a Cura, Molduras e Pra Você. As composições nasceram entre 2019 e 2021, em meio a um período de separação, recuperação de saúde e isolamento na pandemia. Pra Você foi a primeira a surgir, logo após o fim do relacionamento, e acabou abrindo caminho para o conceito do disco. As demais vieram em sequência, como capítulos de uma narrativa pessoal que amadureceu até ganhar forma definitiva no estúdio. A sonoridade aposta em camadas etéreas, nas quais o silêncio tem tanto peso quanto as notas. As referências vão de RY X e Jeff Buckley a Death Cab for Cutie e Seafret, passando por ecos de indie rock, emo e MPB. Pianos espaçados, guitarras atmosféricas e vocais vulneráveis definem a atmosfera. “Não queria um som que gritasse, como nos discos anteriores. Queria que dissesse muito no silêncio também”, afirma Vinícius. O título Com o Passar dos Anos resume a proposta: conviver com as lembranças sem perder o presente de vista. A capa, criada por Brunna Frade, funciona como a abertura de um livro. Cada single ganhou uma ilustração própria, todas ligadas por um fio vermelho que simboliza o tempo e o amor. Produzido em parceria com Breno Machado e Cris Simões (Skank, Jota Quest, Paula Fernandes), o EP conta ainda com o trompete de Marco Lima (James Boogaloo) em Pra Você. Uma escolha estética marca o registro: a ausência de bateria na maior parte das faixas, reforçando o caráter contemplativo do trabalho. O projeto também se estende ao audiovisual. Cada faixa recebeu um videoclipe e, juntos, formam o curta Molduras, dirigido por Vinícius em parceria com a fotógrafa Bruna Lacerda. O filme amplia a mesma atmosfera das músicas, explorando gestos, pausas e a delicadeza do cotidiano como extensão da narrativa sonora. Mais do que um conceito, o EP nasce de uma necessidade pessoal. “Tudo que está nas letras aconteceu, foi sentido, foi real. Não tem personagem aqui. Esse disco não foi feito pra provar nada, mas porque eu precisava escrever. Ele não traz respostas, mas talvez ajude a fazer as perguntas certas”, conclui o artista.

Caliban traz turnê de Back From Hell ao Brasil em dezembro

Caliban, um dos pioneiros do metalcore europeu ao lado do Heaven Shall Burn, volta à América do Sul em novembro e dezembro de 2025 para a turnê de Back From Hell. O novo álbum foi recebido pela crítica europeia como um dos registros mais pesados, autênticos e inspirados da carreira de quase três décadas da banda. A tour é uma realização da Liberation MC em parceria com a Avocado Booking. O retorno ao Brasil acontece após longos 16 anos de espera. O grupo faz show único no dia 6 de dezembro, no Fabrique Club, em São Paulo. Os ingressos estão disponíveis pela Fastix. Antes, a turnê passa pela Colômbia (Bogotá, 30/11), Chile (Santiago, 2/12) e Argentina (Buenos Aires, 4/12). Lançado em abril, Back From Hell marca a 12ª entrada de estúdio da banda e comprova a força do Caliban em combinar agressividade old school com um peso moderno e renovado. Entre os destaques, os singles I Was a Happy Kid Once, Echoes e Guilt Trip (com participação do Mental Cruelty) ampliam a paleta sonora com camadas de atmosfera e melodia sem abrir mão do impacto. A chegada do baixista Iain Duncan, em 2024, também trouxe nova energia ao grupo, adicionando vocais limpos que contrastam com a brutalidade característica do Caliban. Na Europa, a turnê de Back From Hell já percorreu casas cheias e mostrou a banda em sua melhor forma: shows intensos, técnicos e com um setlist que equilibra faixas do novo álbum com clássicos revisitados. O resultado é uma experiência ao vivo que mistura familiaridade com frescor. ServiçoCaliban (Alemanha) em São PauloData: 6 de dezembro de 2025Local: Fabrique Club (rua Barra Funda, 1071, Barra Funda – São Paulo/SP)Ingressos: Fastix

Sabrina Carpenter flerta com country e pop retro em Man’s Best Friend

Sabrina Carpenter já tinha o mundo nas mãos com Short n’ Sweet, mas decidiu não se acomodar e acelerar ainda mais o jogo com Man’s Best Friend. O novo álbum é pop de alto nível, cheio de malícia, humor e vulnerabilidade, equilibrando leveza e profundidade com a naturalidade de quem domina a própria narrativa. Sabrina está espirituosa, sarcástica e, ao mesmo tempo, entrega um disco carregado de emoção, provando que não tem medo de rir das próprias dores. As faixas transitam entre o flerte descarado e o desabafo pós-término, sempre com refrões que grudam na cabeça. Manchild é o grande hino aqui, explosivo, irônico e irresistível, daqueles que nascem para o topo das paradas. Já Tears mostra um lado mais sensual e sofisticado, com clima disco que abre espaço para uma Sabrina ainda mais confiante. Canções como Nobody’s Son, We Almost Broke Up Again Last Night e House Tour reforçam esse equilíbrio entre a piada ácida e a confissão sincera, criando uma atmosfera em que o ouvinte se diverte e, ao mesmo tempo, se reconhece. A produção é pop retro e regado a influências de country e sintetizadores que evocam os anos 80, mas nada soa datado. Pelo contrário: Sabrina está com o som mais atual da música pop, com arranjos bem construídos e um vocal cheio de atitude. O resultado é um álbum que pode ser ouvido de ponta a ponta sem perder fôlego, sempre surpreendendo na forma como mescla ironia e emoção. Claro que a capa levantou discussões. De quatro, cabelo puxado, Sabrina brinca com os limites entre empoderamento e provocação. Para alguns, é sátira; para outros, excesso. Há, inclusive, pais proibindo os filhos menores de irem nos shows. Mas, a verdade é que a imagem resume bem o espírito do álbum: um pop que cutuca, provoca e não pede licença. Man’s Best Friend é mais do que uma coleção de hits. É a consagração de Sabrina Carpenter como estrela global. E se alguém ainda duvida disso, a resposta vem em 2026, quando ela sobe ao palco do Lollapalooza Brasil como principal atração do festival. Um disco desses pede um show à altura e, após ser coadjuvante no MITA e na abertura de Taylor Swift, ela está pronta para ser protagonista.

Headliners do Lollapalooza, Deftones e Chappell Roan dominam paradas da Billboard

Duas atrações do Lollapalooza 2026 confirmaram o peso de headliner que terão no festival já antes de subir ao palco. O Deftones alcançou pela primeira vez o topo da parada Mainstream Rock Airplay da Billboard com o single My Mind Is a Mountain, e ainda quebrou um recorde: tornou-se a banda de carreira mais longa a chegar ao número 1 desde a criação da lista em 1981. A conquista acontece três décadas depois do álbum de estreia Adrenaline, lançado em 1995, e coroa o retorno do grupo com Private Music, o primeiro disco em cinco anos (leia o review clicando aqui). No outro extremo sonoro, Chappell Roan segue em ascensão meteórica. O single Hot To Go! ganhou destaque na trilha sonora da série The Summer I Turned Pretty e disparou para o primeiro lugar da parada Top TV Songs em julho de 2025. O resultado consolida a cantora como um dos principais nomes do pop atual, depois de já ter emplacado o sucesso Good Luck, Babe!, que entrou no top 5 da Billboard Hot 100, lhe rendeu certificações de platina e um Brit Award. Neste ano, ela ainda levou para casa o Grammy de revelação do ano, coroando uma temporada impecável. Os dois artistas, que estarão lado a lado no lineup do Lollapalooza Brasil, reforçam a pluralidade do festival e provam como o evento continua sendo um reflexo direto do que acontece nas paradas e na cultura pop.

Entrevista | Upchuck – “O mundo precisa ouvir nosso álbum”

A banda norte-americana Upchuck chega ao seu terceiro álbum sem aliviar o peso nem buscar suavizar a própria fúria. Tivemos a oportunidade de ouvir I’m Nice Now, produzido por Ty Segall e com lançamento marcado para 3 de outubro. É um registro explosivo e autêntico que mistura punk, estilos latinos, como cumbia e crítica social em doses explosivas. Aliás, o disco abre com o single Tired, faixa lançada recentemente e que resume bem o espírito da obra: um grito contra o cansaço diante da injustiça diária, transformando raiva em combustível artístico. Em entrevista ao Blog n’ Roll, a vocalista KT e o baterista Chris Salado falaram sobre a escolha do título, a importância da autopreservação e o papel da raiva como força criativa da Upchuck. A conversa também trouxe reflexões sobre identidade, a cena punk de Atlanta e o desejo de um dia se apresentar no Brasil. Ouvi I’m Nice Now, é um álbum muito bom, mas o título me chamou a atenção. Por que escolheram esse nome? Vocês não são uma banda “boazinha”, têm um som agressivo… KT: É irônico, mas também uma questão de autopreservação. Tem muita coisa acontecendo no mundo, parece que nunca acaba, e existe essa pressão para nos quebrar, nos fazer sentir derrotados. Mas para continuar é preciso cuidar da sanidade e da saúde mental. I’m Nice Now é um jeito de dizer: em vez de estar sempre irritado e reativo, em vez de gritar o tempo todo, eu escolhi me preservar. O álbum realmente fala muito sobre autopreservação. Em que momento vocês perceberam que isso seria o tema central? KT: Foi natural. Quando demos o nome I’m Nice Now, percebi depois que tudo fazia sentido e se conectava. É sempre assim: só quando olho para trás e ouço de novo percebo que existe um fio condutor. Como foi trabalhar com Ty Segall como produtor? KT: Foi ótimo. Nós amamos o Ty. Gravamos no Sonic Ranch, em dez dias, e ele trouxe uma vibe muito boa. É um cara relaxado, que nos dá liberdade, mas também direciona em alguns pontos. Depois do último álbum com ele, foi natural voltar. O que mudou com a parceria da Upchuck com a Domino Records? KT: Tudo. Eu estou ansiosa para que o álbum saia logo. O mundo precisa ouvir nosso álbum. A equipe da Domino é incrível, muito parceira, comparece nos nossos shows em Londres e até fora. São muito presentes. Vamos falar de Forgotta Talking. É uma faixa intensa. Como foi transformar a dor em música? KT: Não sei exatamente, acho que é natural para mim. Eu começo a escrever e as coisas simplesmente saem. Tenho muito a dizer, mesmo que não consiga expressar em voz alta. O videoclipe também fala sobre gentrificação. Por que era importante mostrar isso visualmente? KT: Ser preto ou POC nos Estados Unidos é viver sob constante vigilância, até por parte da polícia. Somos mortos à esquerda e à direita, e depois tratam como se fosse só mais um. Isso é criminoso. A música transmite esse sentimento: já morri um dia, podem esquecer de mim, só mais um corpo perdido. Nota da redação: Na década de 70, o termo POC era utilizado de maneira pejorativa na comunidade LGBTQIA+. Hoje é uma maneira carinhosa e bem humorada dos gays chamarem uns aos outros nos EUA. A música El Momento mistura punk e cumbia. Como essa rota cultural entrou no som da Upchuck? Chris Salado: Para mim é natural. Meu pai e meu avô me ensinaram a tocar cumbia desde criança. Já toquei em banda de cumbia. Quando entro no estúdio, faço freestyle, vou gravando partes e guardo o que gosto. Punk e cumbia andam juntos. Existem cumbias rápidas e lentas, mas eu sempre toquei as rápidas, então a conexão com o punk foi imediata. O som da Upchuck já foi descrito como “punk Beastie Boys”. Como vocês veem essas comparações? Vocês acham que se encaixam em algum rótulo? KT: Recebemos de tudo: Bad Brains, Rage Against the Machine, Beastie Boys. Está tudo bem, mas não pensamos muito nisso. Não nos prendemos a rótulos. Como a cena punk de Atlanta influenciou a identidade da banda? KT: Atlanta é diversa e cheia de música boa acontecendo ao mesmo tempo. Isso se reflete em nós. Parece que representamos esse caldeirão cultural. Vocês são conhecidos pela energia ao vivo. Como traduziram isso para o estúdio? E o que mudou no processo criativo do primeiro álbum para este? KT: Não mudamos quase nada. Apenas ficamos mais velhos, o que muda um pouco a perspectiva das coisas. O fato de tocarmos juntos ajuda muito. Parece que estamos em um show. Claro que no estúdio buscamos perfeição, mas a energia vem desse coletivo. Teve alguma faixa que surgiu de improviso? KT: Plastic. Nem deveria estar no álbum, mas o Ty perguntou se tínhamos algo mais. O Basics começou um riff, eu escrevi em cima e tudo se encaixou. Vocês recebem muitas mensagens de fãs brasileiros pedindo para virem? Gostariam de deixar uma mensagem aqui para o Brasil? KT: Sim, direto. Estamos ansiosos para ir ao Brasil. Não conhecemos muito da vida no país, então é difícil mandar uma mensagem específica. Mas diria para manter a cabeça aberta e continuar fortes. Foto de capa: Michael Tyrone Delaney