Dificilmente encontraremos semelhanças entre Memphis e Chicago, duas das capitais mundiais do blues, com as cidades da Baixada Santista. Isso, no entanto, não impediu a região de respirar muito do clima dos bluseiros. Com shows históricos ou nomes surgidos em Santos e Guarujá, a região tem sua relevância para os amantes do gênero.
Em meados dos anos 1990, o Bar do Sesc era a prova mais clara da força do blues em Santos. Toda quinta-feira, a casa ficava lotada. Por lá passaram nomes como JJ Jackson, Nuno Mindelis, André Christovam, Blues Etílicos, Blue Jeans e Magic Slim. Isso sem esquecer das duas apresentações do lendário Buddy Guy, no Teatro do Sesc.
Mas antes desse momento mágico do blues na região, o Teatro Municipal e o Bar da Praia já recebiam pratas da casa. E nessa linha se destacavam nomes como Druidas, The Wiser, Dirty Mind, Holy Rocks e Delta Blues.
A ligação dos nossos músicos com o gênero sempre existiu. Como esquecer do Aero Blues e do Midnight Band, do professor de inglês Robert Thomas?
O Delta Blues, composto por Eduardo Eloi (guitarra/voz), Digo Maransaldi (bateria/voz) e Sergio Inácio (baixo), surgiu em 1993, momento em que a Baixada Santista era dominada por bandas de hard rock, metal, hardcore e punk. Nada que atrapalhasse os planos do trio.
“Rolava uma série de shows com bandas de classic rock também. O blues rock se adapta numa boa. Até em show com bandas de reggae e grunge a gente dividia o palco, sempre com um público muito forte. A galera prestava mais atenção em diversos estilos, e a gente sempre era lembrado como os caras que tocavam a origem disto tudo. Fora os improvisos e solos que sempre chamam a atenção do público”, comenta Maransaldi.
Um dos responsáveis por trazer vários nomes de peso do blues para a região, o produtor de shows e jornalista Eugênio Martins Jr também fortaleceu o cenário. Na 3a Mostra Blues de Santos, no ano passado, por exemplo, colocou nomes de alto nível da Baixada Santista no line up do festival. Foram os casos do guarujaense Filippe Dias e os santistas Fabio Brum e Beto Gonçalves.
Atualmente na banda paulistana Rotação Inversa, Filippe Dias guarda com carinho os primeiros passos da carreira, em Santos.
“Encontrei a Escola Simonian de Música nas páginas amarelas da lista telefônica, e lá tive um professor que me introduziu no blues. Fiz uns três anos de aula, mas não tinha muita paciência para a teoria. Meu negócio era chegar na aula e passar boa parte dos 60 minutos fazendo improvisos e jams de blues com o professor, que virou um grande amigo”.
Eugênio Martins Júnior destaca alguns nomes do cenário atual: “Dog Joe é muito bom. Tem o In The Level Blues Band, do Marcel, Dog e o Jota. A Carla Mariani é muito esforçada e tem feito vários shows por ai. Tem um menino da Praia Grande, o Pedro Bara, que tem 15 anos e toca bem. Está gravando o primeiro álbum com uns caras lá de São Paulo. Em Itanhaém, tem a Débora Basílio. Ela canta muito e já está na estrada há tempos”.
Delta Blues / Dog Joe
Composta por Eduardo Eloi (guitarra/voz), Digo Maransaldi (bateria/voz) e Sergio Inácio (baixo), a banda se manteve em atividade entre 1993 e 2001. Nesse período, lançou uma demo tape, com três canções. Duas delas, Vida Mansa e Lady, são tocadas até hoje, na nova banda, o Dog Joe, com Rogério Duarte no baixo.
Midnight Band
Liderada pelo professor de inglês Robert Thomas, o Midnight Band realizou várias apresentações em Santos. Um dos locais que recebia a banda com frequência, ainda nos anos 1990, era o Chopp Chopp, que depois virou Armazém 7. Repertório incluia canções de grandes nomes do blues norte-americano.
Filippe Dias
O guarujaense Filippe Dias se destaca pela técnica na guitarra. Se espelha muito em Jimi Hendrix, mas sem esquecer nomes clássicos como B.B. King e T-Bone Walker. “Nas harmonias, tenho bastante influência de Jimi Hendrix, que tinha uma maneira bem interessante de pensar as bases”. Ouça o álbum Borderliner.
Beto Gonçalves
Autodidata, o guitarrista Beto Gonçalves é um profundo estudioso do blues, mas transita bem em outros estilos. Santista de nascimento, subiu a serra em busca de reconhecimento e participou das gravações de Ira ao Vivo (2003) e Ira Acústico (2005). Tem influências de Gary Clark Jr, Doyle Bramhall II, Johnny Winter e Lance Lopez.
Druidas
O power trio Druidas não começou exatamente como uma banda de blues, mas foi com essa proposta de som que virou uma grande referência musical na região. Mauro Hector entrou para o grupo em 1988, quando o heavy metal predominava no trabalho do Druidas. “Foi uma transição natural. Saímos do heavy, fomos para o hard rock, o rock e depois para o blues”, recorda o guitarrista.
Esse histórico, por sinal, facilitou a aceitação da banda por outros públicos. O Circo Marinho, um dos principais espaços para os headbangers em Santos, nos anos 1980, recebeu várias apresentações do grupo, que tocava com outras referências do cenário como o Vulcano, Angel, Santuário, além do Sepultura e Golpe de Estado.
“Pra mim, Motörhead e AC/DC são bandas de blues e o Black Sabbath também carrega muita influência”, explica o guitarrista, que tinha a companhia de Plinio Romero (bateria) e Marcos Paulo Nobrega (vocal e baixo).
Para o músico, o cenário era bem democrático. “Sempre nos demos muito bem com a turma do punk, metal e éramos referência para a turma que estava começando”. A entrada do Marcos Paulo, nos anos 1990, foi fundamental para a banda passar a tocar artistas como Buddy Guy e sair de Santos, segundo Mauro Hector. “Fomos tocar em Campinas, no Bixiga, no Café Piu Piu. Foi uma época muito boa”.
Na última semana, o Druidas anunciou uma pausa por tempo indeterminado na carreira.