Como o próprio nome diz, o novo álbum do Black Pantera, Perpétuo (Deck), certamente irá permanecer como um projeto atemporal, sendo ouvido, lembrado e tomado como referência para esta e para futuras gerações.
Tanto do ponto de vista sonoro como do conceito, das ideias por trás das músicas, Perpétuo amplia o que o Black Pantera já havia apresentado em Ascensão, expandindo o som, agregando mais estilos e instrumentos, mas sem perder a identidade, muito pelo contrário, fortalecendo a essência da banda.
Uma viagem para o Chile, onde tocaram no Festival Rockdromo, fez com que o trio Chaene da Gama (baixo), Charles da Gama (voz e guitarra) e Rodrigo Pancho (bateria) voltassem os olhos para a música latina e para a percepção deles mesmos como parte pertencente desse grupo.
“Lá em Valparaíso, vendo tantas bandas de países vizinhos terem tanto orgulho e personalidade, passamos a ver o tamanho da importância de entendermos o contexto no qual estamos inseridos. Desde nosso show por lá o termo ‘afrolatino’ não saiu mais da minha cabeça. Falo isso porque a gente sempre olha para outros continentes e não enxerga a arte, a história e a cultura sul-americana. E essa música faz parte do processo de nos entendermos como homens negros que fazem parte da América Latina. E esse é um dos conceitos base desse disco”, comentou Chaene da Gama.
O som da banda continua sendo um crossover de rock, punk, hardcore, funk e metal e se mantém pesado, mas traz novidades: acrescentando instrumentos de percussão, a banda se aproxima de seus laços ancestrais, dialogando cada vez mais com a estética tribal e acaba entregando em ritmo e poesia um álbum afro-latino, um chamado à união. Isso é bastante perceptível em faixas como Provérbios, na qual cantam o refrão em espanhol. A ancestralidade é o cerne desse disco, que foi gravado em 14 dias no Estúdio Tambor, no Rio de Janeiro.
“A gente vem pensando bastante sobre esse tema, sobre como acabamos sendo eternos através de nosso sangue, nossa luta, nossa ancestralidade. São músicas que refletem isso de maneira incisiva, essa ideia de legado de todos nós. E, se você pensar, daqui 50 anos a banda pode até acabar, mas as músicas vão continuar existindo”, falou Chaene.
Não por acaso, há uma música em homenagem à mãe de Chaene e Charles, Tradução, que cita um verso de Mano Brown, “Ratatatá preciso evitar/Que algum safado ou sistema façam a minha mãe chorar”, e fala sobre a luta das pessoas que são ou fazem papel de mãe somada ao racismo ao qual são submetidas.
“Hoje, adulto, entendo melhor como o racismo estrutural afetou a vida dela”, declarou Chaene.
O Black Pantera fala sobre a tentativa de Golpe no Brasil em Sem Anistia, narra uma abordagem racista da polícia no surpreendente funk/hardcore Fudeu, aborda a dívida por todos os anos de escravidão em Promissória, cita trecho do poema Ainda Assim Eu Me Levanto, de Maya Angelou em Mete Marcha e propõe reescrever a história na belíssima letra de Candeia.
Neste disco o baixista Chaene está cantando mais, criando um contraste interessante com a voz pesada de Charles.
“Eles juntaram um repertório avassalador, com refrões marcantes, trazendo temas fundamentais para os dias de hoje”, aponta o produtor do disco Rafael Ramos.
São 12 faixas com o melhor e mais pulsante rock feito hoje no Brasil. Além da produção de Rafael Ramos, o disco é mixado por Rafael Ramos e Jorge Guerreiro e masterizado por Fabio Roberto (Estúdio Tambor) e Chris Gehringer (Sterling Sound, USA).